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18/Ago/2022

EUA: pacote anti-inflação atrai recursos e emprego

O Inflation Reduction Act, pacote contra a subida dos preços nos Estados Unidos e que garante investimento histórico na agenda climática, transformado em lei no dia 16 de agosto, já começa a atrair recursos para o setor de energia limpa. Enquanto no mercado financeiro fundos de investimento dedicados ao segmento e que somavam resgates antes do projeto ser aprovado mudaram de direção, no front corporativo há a expectativa de novas empresas e centenas de milhares de contratações na esteira dos US$ 369 bilhões que serão dedicados à segurança energética e combate às mudanças climáticas na maior economia do mundo. Por outro lado, setores como os de cuidado à saúde, tecnologia à informação e petróleo e gás tendem a ser impactados negativamente pelo aumento de impostos. Os investidores já começam a olhar com mais atenção para a agenda verde após o projeto virar lei.

Nas duas semanas anteriores ao anúncio do pacote, no dia 27 de julho, os fundos de energia limpa nos Estados Unidos estimaram saídas líquidas de US$ 223 milhões, de acordo com a casa de análise norte-americana Morningstar. Do dia seguinte a 10 de agosto, porém, o fluxo se inverteu e os 23 fundos de energia limpa no país atraíram entradas líquidas estimadas em US$ 433,6 milhões. Desde que o acordo climático foi anunciado, os investidores correram para esse grupo de fundos. Uma maior atração de recursos também já foi notada no mercado de ações. O iShares Global Clean Energy ETF ICLN, que compreende investimentos globais em energia limpa, passou de uma saída estimada de US$ 17,6 milhões para uma entrada de US$ 22,3 milhões no período. Por sua vez, o iShares Global Energy ETF IXC, portfólio de ações tradicionais de energia baseadas em combustíveis fósseis, fez o movimento contrário, revertendo entradas estimadas em US$ 9,6 milhões para uma saída de US$ 75,9 milhões.

O anúncio também impulsionou o desempenho dos fundos de energia renovável. Nas duas semanas anteriores, os fundos de energia limpa já estavam em alta, acompanhando o desempenho do mercado de ações em julho, com um retorno médio de 5,4%. Desde o anúncio do pacote, entre os dias 28 de julho a 10 de agosto, porém, a rentabilidade média avançou para 13,7%. No front corporativo, o investimento bilionário em energia limpa deve impulsionar o número de empresas e de contratações no setor. Estimativas iniciais apontam para a possibilidade da criação de 300 a 1000 novas companhias voltadas ao segmento nos Estados Unidos. Após meses de negociação, o Inflation Reduction Act agora é lei, e os Estados Unidos estão no caminho de se tornar o líder mundial inequívoco em energia limpa, afirmou a Associação das Indústrias de Energia Solar (SEIA) do país.

A lei representa um impulso para investimentos de longo prazo em energia limpa e armazenamento de energia, e ainda a contratação de centenas de milhares de novos trabalhadores. Esses investimentos são uma oportunidade única para impulsionar nosso futuro de energia limpa e ajudar a indústria a avançar de 4% da geração de eletricidade dos Estados Unidos hoje para a meta de 30% até 2030. A avaliação segue em linha com o mantra do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden: "Quando penso em clima, penso em empregos". Para o escritório de advocacia norte-americano Hughes Hubbard & Reed LLP, o pacote contra a inflação nos Estados Unidos será um importante impulsionador para os negócios de energia renovável, com a atração de recursos para o segmento e ainda um motor de fusões e aquisições (M&As). O viés de energia renovável no projeto é muito grande e deve atrair recursos e turbinar o movimento de M&As porque os players deste setor vão se beneficiar dele. Através dos créditos fiscais, um maior investimento direto em projetos de energia limpa deve ser estimulado também em todo o setor de energia pública, na visão da Fitch Ratings.

Apesar de os sistemas públicos nos Estados Unidos adicionarem novos projetos de energia renovável continuamente, a energia em si costuma ser comprada de desenvolvedores privados. Com a nova lei, a agência de risco nota a possibilidade de reverter tal tendência. Com gargalos de oferta e pressões inflacionárias no curto prazo, é provável que entregas de painéis solares e turbinas eólicas sejam atrasadas, mas com o tempo, as condições devem melhorar e metas mais rigorosas serão atingidas. Um dos destaques da medida é o crédito fiscal para compra de veículos elétricos (VEs) elegíveis (US$ 7,5 mil por um novo e US$ 4 mil pelo usado) e crédito para produção de novos veículos comerciais de energia limpa a empresas. Os incentivos, sem dúvida, aumentarão a adoção desses automóveis pelos consumidores, diz a Rystad Energy. A projeção da empresa norueguesa sobre a venda de VEs nos Estados Unidos salta de 3,4 milhões em 2030 no cenário base para cerca de 8 milhões, no cenário mais ambicioso, com a nova lei.

A Rystad Energy ressalta que o pacote eliminaria também o teto de crédito de fabricantes de veículos elétricos, um movimento que beneficiaria massivamente as montadoras que já esgotaram os seus, como Tesla, General Motors e Toyota. Para serem elegíveis, porém, as companhias terão que se adequar a uma série de regulações. O Departamento de Energia (DoE) publicou uma lista com modelos que tendem a ser elegíveis, além das três mencionadas, são citadas Volvo, BMW e Ford, por exemplo. Os requisitos do novo projeto de lei mostram novamente a determinação dos Estados Unidos de reduzir a dependência de sua cadeia de suprimentos de baterias da China. Para alcançar a receita visada em US$ 700 bilhões nos próximos dez anos, a lei impõe uma taxa mínima de 15% sobre grandes empresas norte-americanas e de 1% sobre recompra de ações. Os setores mais afetados por tais medidas devem ser os de cuidado à saúde e tecnologia de informação.

O projeto visa grandes corporações multinacionais que, de outra forma, pagariam pouco ou nenhum imposto em anos de imensa lucratividade nas demonstrações financeiras, destaca a Moody's. Esse imposto elimina efetivamente uma parte substancial dos benefícios de impostos diferidos e perdas operacionais líquidas para empresas que têm uma receita consistente antes de impostos de US$ 1 bilhão. Para a agência de classificação de risco, indústrias com diferenças significativas entre o lucro contábil e o lucro fiscal serão as mais afetadas. Nesta lista, estão, afirma, especialmente petróleo e gás (15% de aumento médio na alíquota de imposto em dinheiro para emissores afetados) e empresas nos subsetores de tecnologia de software e semicondutores (aumento médio de 5%). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.