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16/Ago/2022

Tecnologia não está chegando ao pequeno produtor

Depois da criação da Embrapa, em 1973, nasceu a Embrater (Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural), em 1975. Fazia todo sentido. Usando uma imagem que tem sido muito invocada em ano de Copa do Mundo, a assistência técnica funciona como o meio de campo de um time de futebol. Sem meio de campo, nenhum time consegue grandes conquistas. O Brasil só foi campeão mundial em 1958, na Suécia, e em 1962, no Chile, porque tinha um trio armador maravilhoso, composto por Zito, Didi e Zagalo. No tricampeonato do México em 1970, lá estavam Clodoaldo, Gerson e Rivelino, "monstros" da bola. E assim foi no tetra e no pentacampeonato mundial. Óbvio que tivemos sempre atacantes extraordinários que faziam os gols, e nem é preciso muito esforço para lembrar do rei Pelé, de Vavá, Jairzinho, Tostão, Romário, Ronaldinho e o Gaúcho, Rivaldo, Bebeto e outros cracassos, mas, se a bola não chegasse redonda para eles lá na frente, nem tinham chance de marcar.

Na agricultura é assim: os produtores rurais são os atacantes, competentes, corajosos, levam pancada da defesa adversária o tempo todo (seca, geada, imposto, juro, logística, protecionismo externo) mas lutam sem parar para fazer os gols do resultado positivo que os mantenham no topo da tabela da produtividade com sustentabilidade. E a bola é a tecnologia gerada na academia, a defesa poderosa, representada por novas variedades e insumos mais modernos, sistemas de manejo e de criação muito mais eficientes e máquinas cada vez mais especializadas. Não basta ter instituições de pesquisa gerando tudo isso se as inovações não chegarem aos produtores. E quem as levam são os profissionais da assistência técnica e da extensão rural. São engenheiros agrônomos, médicos veterinários, zootecnistas, engenheiros florestais, engenheiros mecânicos, engenheiros ambientais e de alimentos, um mundo incrível que leva a "bola da tecnologia" para os artilheiros na fronteira agrícola.

E mais um timaço de técnicos de nível médio, fundamentais para a bola correr sem obstáculos no gramado das competições. Pois este meio de campo não tem sido reconhecido como deve. Começou com a extinção da Embrater no Plano Collor, uma degola absolutamente incompreensível. Acabou o meio-campo, sobretudo para os pequenos produtores, que ficaram isolados num ataque inoperante, uma vez que a tecnologia não chegava mais. Os grandes produtores buscaram seus próprios "armadores", contratando técnicos de nível médio e superior e saíram na frente. As cooperativas se apressaram em criar seus eficientes departamentos de assistência técnica e deram solução aos seus associados médios e pequenos. Mas, quem estava - e ainda está - fora do maravilhoso movimento cooperativista ficou fora do jogo. Outras instituições de representação de classe, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), investiram pesado no segmento e vem conseguindo bons resultados localizados.

Em alguns Estados da Federação sobrevivem estruturas de assistência técnica, mas com parcos recursos e remuneração irrisória, que tira dignidade do heroico extensionista. Há alguns anos o governo federal criou a ANATER - Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, que ainda luta para ser estruturada e possa substituir a antiga Embrater. Também o Sistema S tem feito um grande esforço para ajudar, sobretudo o SENAR, o SESCOOP e o próprio SEBRAE. Mas, a verdade é que os pequenos produtores, sobretudo na fronteira agrícola, não estão recebendo a tecnologia que lhes permita avançar e participar do mercado. Urge articular uma rede nacional competente para que todos possam participar do duríssimo jogo da competitividade agropecuária mundial. O campeonato está correndo, e quem perder será eliminado. Fonte: Roberto Rodrigues. Fundação Getúlio Vargas (FGV). Fonte: Broadcast Agro.