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12/Ago/2022

Segurança alimentar e os riscos de agitação social

A escassez de alimentos e fertilizantes, que ainda causa estragos quase seis meses depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, pode levar países que já enfrentam problemas econômicos a conflitos civis. Essa turbulência pode testar a resiliência das empresas ocidentais com operações no exterior nos próximos meses. A insegurança alimentar é um dos principais tópicos e uma das coisas que realmente é preciso observar. Este é absolutamente um problema global. Muitos tipos de escassez podem provocar tumulto, mas a escassez de alimentos, além de causar dificuldades, tem uma capacidade única de gerar convulsões que podem prejudicar as operações comerciais. Os preços estão mais altos agora do que em 2007 e 2008, quando os então recordes de alta levaram a protestos e tumultos em 48 países, segundo relatório das Nações Unidas (ONU), e mais altos do que em 2011, quando contribuíram para a onda de protestos da Primavera Árabe no Oriente Médio, no Leste e Norte da África.

Embora os preços dos alimentos tenham caído ligeiramente em relação aos máximos alcançados logo após a invasão da Ucrânia pela Rússia, eles ainda estavam cerca de 44% mais altos em julho do que em 2020, de acordo com o índice de preços de alimentos compilado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Em todo o mundo observa-se uma exposição potencial muito maior a distúrbios civis, pois as pessoas veem seu poder de compra caindo rapidamente. O cloreto de potássio, fertilizante que é produto de exportação importante da Bielorrússia atualmente sancionada, também continua caro na comparação histórica. Em julho, a commodity foi vendida por cerca de US$ 563,00 por tonelada métrica, mais de duas vezes e meia do que custou em 2021, segundo dados do Banco Mundial. Os altos preços dos fertilizantes, em particular, levaram os impactos a regiões muito distantes. No Peru e na Grécia, no início deste ano, os agricultores levaram seus caminhões e tratores para as capitais urbanas para expressar sua irritação.

Manifestantes do Sri Lanka invadiram o palácio presidencial e forçaram uma mudança na administração, medida que analistas atribuíram em parte à proibição de fertilizantes químicos que reduziram o rendimento das colheitas. Embora os problemas de fertilizantes do Sri Lanka tenham sido em grande parte auto-infligidos e não devido aos mercados globais, a revolta foi uma ilustração dramática das forças voláteis que uma colheita decepcionante pode desencadear em pouco tempo. Muitos outros países podem enfrentar distúrbios sociais. Pelo menos 50 países dependem da Rússia e da Ucrânia para 30% ou mais de seus suprimentos de grãos, incluindo muitas nações em desenvolvimento no norte da África e na Ásia, de acordo com um relatório da Marsh, corretora de seguros. A Turquia, por exemplo, importou 78% de seu trigo da Rússia e da Ucrânia em 2020, enquanto o Brasil é o principal mercado de fertilizantes russos.

Mas, nem todos os países enfrentam os mesmos riscos de aumento dos preços. Democracias ricas com recursos para absorver inflação, por exemplo, provavelmente se sairão melhor. Os países em risco tendem a ter alguns pontos em comum: são autocracias, dependem de alimentos importados e têm subsídios que não podem mais pagar. O aperto quantitativo generalizado, juntamente ao impacto do Covid-19 nos tesouros públicos, pode prejudicar a capacidade de alguns países de distribuir os subsídios alimentares que impediram a agitação no passado. Com regimes autoritários, há uma alta probabilidade de um padrão de desobediência civil crescente, que se tornaria dramático em alguns países. As circunstâncias no curto prazo serão extremamente difíceis. A longo prazo (12 a 18 meses), medidas podem ser tomadas para aumentar a produção global de alimentos e melhorar a situação. Caso ocorram distúrbios, as empresas que operam nas áreas afetadas podem tomar algumas medidas para mitigar os danos.

As corporações têm usado tecnologia para examinar suas cadeias de suprimentos e determinar como a agitação pode afetar suas operações. A Allianz, afirmou que as empresas também devem entender onde exatamente estão localizadas suas instalações em países de foco, entendendo, por exemplo, se essas operações estão perto de alvos de protesto, como praças públicas ou prefeituras. Muitas empresas não são alvos específicos de agitação social, elas simplesmente estão nas proximidades. As companhias também podem tomar medidas para entender se sua marca é um para-raios para a raiva política, por meio de uma análise de marca. Alguns observadores têm esperança de que um acordo negociado para permitir uma retomada temporária dos embarques de grãos na Ucrânia possa aliviar parte do problema da escassez de alimentos, embora isso ainda não esteja claro. O acordo permite o fluxo de grãos apenas por 120 dias e exige que empresas de logística e despachantes se apressem e assumam o risco de movimentar o produto. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.