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08/Ago/2022

Escalada nos juros contra o processo inflacionário

Permanece o risco de inflação elevada em 2023, mesmo com a possível instalação, em janeiro, de um governo menos incompetente e menos irresponsável que o atual. O novo governo terá de lidar com a desastrosa herança deixada pelo presidente Jair Bolsonaro e seus companheiros. Não se deve esperar, portanto, uma redução veloz dos juros nos próximos 12 meses, se o Banco Central (BC) for fiel ao compromisso de levar a inflação à meta, ou à sua vizinhança, no "horizonte relevante", isto é, até o começo de 2024. Diante de pressões inflacionárias ainda fortes no Brasil e de um quadro internacional mais incerto, a estratégia impõe, agora, um aperto maior das condições de financiamento. Depois de elevar os juros básicos de 13,25% para 13,75% ao ano, no dia 3 de agosto, o Copom já alertou para mais um provável aumento, de menor magnitude, em setembro. A alta recém-anunciada foi a 12ª a partir do nível de 2%, em vigor em março de 2021.

Com o próximo ajuste, a taxa básica de juros, a Selic, deverá chegar a 14%, retornando ao patamar de outubro de 2016, quando começava a recuar a inflação deixada pela administração da presidente Dilma Rousseff. A diferença, agora, é a tentativa do Copom de avançar no conserto enquanto o presidente da República e seus associados cometem os desmandos. Ganham maior peso, neste momento, as advertências costumeiras do Copom sobre a insegurança das contas públicas, prejudicadas pelo excesso de gastos e por benefícios tributários improvisados. O desarranjo das finanças federais, importante fator da alta de preços, é também notado, no dia a dia, como causa de fuga de capitais e de valorização do dólar. Segundo o Banco Central, é preciso levar em conta, além da incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal, certos estímulos fiscais adicionais. O alerta, nesse caso, aponta para jogadas eleitoreiras, como o aumento do Auxílio Brasil, por enquanto válido até o fim do ano, isto é, até pouco depois da eleição, e para medidas de improviso para atenuar a alta de preços dos combustíveis.

Mas, o aumento do Auxílio dificilmente será revertido em 2023, seja quem for o presidente eleito. Essas e outras bondades continuarão pesando nas contas federais e, em alguns casos, também nas estaduais e municipais. Ninguém nega os desmandos, embora alguns tentem justificá-los. O ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu a violação do teto de gastos, necessária, segundo ele, para uma ajuda aos mais vulneráveis num momento de emergência. Mas, o argumento da emergência é uma invenção para facilitar benefícios oportunistas nesta fase pré-eleitoral. Não se pode falar de novo surto de Covid-19, embora a doença ainda ameace os brasileiros, nem de uma piora repentina das condições econômicas, apesar do quadro internacional desfavorável. O desemprego continua alto, mas diminuiu nos últimos meses, e os desajustes econômicos já estavam presentes no primeiro semestre e, em grande parte, no ano passado. O poder federal continua sendo o aliado principal da inflação e é absolutamente falacioso, portanto, o argumento da emergência para justificar o manejo irresponsável das contas públicas.

Talvez se possa qualificar a gestão do presidente Jair Bolsonaro como emergência nacional, mas essa emergência já dura quase quatro anos. Em vez de buscar pretextos para disfarçar desatinos, o ministro da Economia deveria, se estivesse disposto a servir mais ao País do que ao chefe, tentar evitar, nos próximos meses, novas imprudências na área fiscal. Dificilmente poderá reduzir ou compensar os danos já provocados, mas qualquer cuidado no exercício de sua função, até o fim do ano, será um ganho para os brasileiros. Ou, mais precisamente, para a maioria deles, porque há, no mercado, quem considere um sucesso um crescimento econômico próximo de 2%, com inflação vizinha de 7% no fim do ano e desemprego em torno de 9%. O mercado, no entanto, tem elevado as projeções de inflação para 2023, um desafio já incluído na pauta do Copom. Fonte: Broadcast Agro.