04/Ago/2022
Para Sean Kidney, da Climate Bonds Initiative, a mudança no consumo chinês exige que Brasil se adapte. As exportações do agronegócio brasileiro à China continuam em expansão, e mesmo em momentos em que a economia chinesa cresce menos do que o previsto, como ocorreu no primeiro semestre deste ano, os embarques costumam se manter em rota ascendente. A Climate Bonds Initiative, uma das mais importantes organizações não-governamentais de promoção de investimentos sustentáveis, acredita que a força da demanda chinesa tem ofuscado uma rápida transformação nos hábitos de consumo no maior parceiro comercial do Brasil. Essa constatação é um sinal de alerta especialmente para o agro. A sustentabilidade é uma preocupação cada vez maior na China, mas a extensão dessa mudança ainda não é uma coisa óbvia para o agronegócio brasileiro.
Há uma demanda incrível por produtos sustentáveis entre os chineses, e ainda não se deu a devida atenção a isso. O rápido avanço do consumo “verde” entre os chineses não é um fenômeno de proporções nacionais, trata-se, afinal, do país mais populoso do mundo, com grande desigualdade de renda, o que não reduz o impacto dessa transformação. A sustentabilidade é uma preocupação nas áreas mais ricas, onde moram 300 milhões de pessoas. Essas regiões, mais perto da costa, têm um patamar de riqueza similar ao da Europa. Como os preços das commodities estão muito acima de suas médias históricas, o agro brasileiro está “ganhando dinheiro como nunca”. Mas, é improvável que essa aparente bonança prossiga indefinidamente. O segredo de economias que são bem-sucedidas no longo prazo não é a venda de commodities baratas.
Como exemplo pode-se citar a Argentina, que era o país mais rico do mundo em 1910. Ao depender de um pico de curto prazo depois do outro, há uma luta para encontrar a prata em um ano, o ouro em outro. Isso não se sustenta. É preciso fazer os investimentos corretos para garantir que a receita vai continuar a entrar na próxima baixa das commodities. Professor da SOAS University of London, de estudos sobre Ásia, África e Oriente Médio, ex-consultor do secretário-geral das Nações Unidas (ONU) para o mercado de bônus verdes e consultor de projetos de finanças sustentáveis em países como China, Índia, México e Cazaquistão, Kidney tem reconhecimento internacional por sua dedicação à sustentabilidade. Ao mesmo tempo, suas manifestações parecem ter um pragmatismo que é caro ao universo financeiro. Nesse aspecto, ele soa como uma antítese à falta de objetividade das ações de combate à crise climática. Os Estados Unidos destruíram suas florestas, a Europa também, e o Brasil ainda não.
É injusto que Estados Unidos e Europa critiquem o Brasil nas questões ambientais, mas se há justiça ou não, é irrelevante. O ponto é: a questão ambiental é uma enorme oportunidade de negócio para o Brasil. As oportunidades sobre as quais Kidney faz referência movimentam um mercado que só faz crescer. No ano passado, as emissões de títulos “verdes”, usados para financiar projetos de energia limpa, construção e transporte, ultrapassaram, pela primeira vez, a marca de US$ 500 bilhões, o equivalente a cerca de 50% mercado global dos chamados bônus “sustentáveis”, que somou US$ 1,1 trilhão em 2021, segundo relatório que a Climate Bonds Initiative publicou em abril. Criada em 2009, a organização tem entre seus fundadores a Fundação Rockefeller, a Fundação Gordon and Betty Moore, iniciativa filantrópica de Gordon E. Moore, um dos fundadores da Intel, e de órgãos ligados aos governos de Alemanha, Reino Unido e Suíça. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.