03/Ago/2022
Na segunda-feira (1º/08), após cinco meses de conflito na Ucrânia, o primeiro cargueiro deixou o Porto de Odessa. É o resultado de acordos celebrados pela Ucrânia e a Rússia com a Turquia, sob a supervisão da ONU. Ainda que não altere o impasse em solo ucraniano, a flexibilização do bloqueio aos portos é digna de ser festejada. Mas, com cautela. Na véspera da invasão, o presidente russo, Vladimir Putin, alegou que suas tropas só estavam lotadas na fronteira com a Ucrânia para exercícios militares. No dia seguinte ao acordo, a Rússia bombardeou Odessa. Conhecida como o "celeiro da Europa", a Ucrânia é o quinto maior exportador mundial de cereais. Desde o início da invasão, a ONU alerta para as consequências catastróficas do bloqueio russo para a segurança alimentar global. Todos os dias, 828 milhões de pessoas passam fome e outros 47 milhões estão na iminência de integrar esse rol, especialmente na África, Oriente Médio e Ásia. Pelo acordo, a Ucrânia liberará um corredor entre suas minas no Mar Negro.
A Rússia, por sua vez, conseguiu garantias da ONU e União Europeia de que suas exportações de grãos e fertilizantes não sofrerão sanções. Um "centro de coordenação" em Istambul formado por Rússia, Ucrânia, Turquia e ONU inspecionará os navios para garantir que não carregam armas. Além do acordo, a boa colheita no Hemisfério Norte e o dólar forte contribuíram para baixar os preços dos alimentos em um terço em relação ao pico deste ano. Mas, as sequelas da pandemia e a perspectiva de uma guerra longa ainda os mantêm 40% acima de janeiro de 2020. O governo russo afirmou que a retomada do tráfego no Mar Negro é uma boa chance de testar a efetividade desses mecanismos. Mas, essa efetividade depende, sobretudo, da boa vontade da Rússia. O acordo não foi um ato de caridade russo, mas uma resposta às pressões de parceiros e aos riscos de escoltas norte-americanas. De toda forma, a ONU não dispõe de meios para exigir seu cumprimento. Os bombardeios à Odessa teriam atingido alvos militares e, portanto, não implicam, tecnicamente, um rompimento.
Mas, suscitam desconfiança nos exportadores e mantêm os prêmios dos seguros altos. Com isso, os preços dos grãos seguem elevados, facilitando à própria Rússia financiar sua guerra. O ataque também sinaliza que a Rússia mantém os planos de controlar o sul da Ucrânia e de dificultar as exportações ucranianas. Ou seja, após meses com a agressão ilegítima da Rússia restringindo a cadeia de alimentos, a comunidade internacional conseguiu recuperar uma rota importante. Mas, nada impede que a Rússia tenha cedido para, em seguida, impor novas restrições. A aliança ocidental precisa manter os esforços para abrir rotas alternativas por terra. Até o momento, essa aliança forneceu armas suficientes à Ucrânia para reduzir o avanço russo, mas não para retomar seu território. Enquanto a Rússia não for forçada a recuar e não se convencer de que os custos da guerra continuarão a crescer, a segurança alimentar global seguirá em risco.
Segundo o Commerzbank, o acordo para retomar as exportações de grãos da Ucrânia alcançou um importante sucesso inicial. Cerca de 20 milhões de toneladas de grãos da safra do ano passado ainda estão armazenados em silos nos portos ucranianos. Esses silos precisam ser esvaziados com urgência para dar espaço para a nova safra, cuja colheita já está em andamento. De acordo com a Associação Ucraniana de Grãos, um total de 11,8 milhões de toneladas de grãos foram colhidos na semana passada. O trigo e a cevada corresponderam a 8 milhões e a 3,5 milhões de toneladas desse total, respectivamente. Além disso, 1,7 milhão de toneladas de colza foram colhidos até agora. Os preços dos grãos ficaram sob pressão em meio às notícias do carregamento de grãos da Ucrânia.
O fato é que as autoridades da Ucrânia correm para escoar milhões de toneladas de grãos acumulados em armazéns nos portos, depois que o primeiro carregamento no navio Razoni deixou o país nesta semana, após acordo com a Rússia. Segundo o governo ucraniano, pode levar meses para esvaziar as instalações de armazenamento. Convencer as empresas de carga a retornar ao país devastado pela guerra para manter o fluxo de exportações, e oferecer segurança para aqueles dispostos a tentar, também pode ser complicado. Segundo as autoridades da Ucrânia, o desafio agora é garantir que o navio chegue ao seu destino sem problemas e, em seguida, acelerar as operações para exportar cerca de 16 milhões de toneladas de grãos presos em terras ucranianas desde o início da guerra.
Mas, os silos e celeiros estão se enchendo rapidamente com as colheitas de trigo e cevada desta temporada, aumentando o medo de que o espaço de armazenamento se esgote. A Ucrânia espera que não mais de cinco navios deixem seus portos nas próximas duas semanas, o que significa que pode levar meses para liberar espaço, de acordo com o vice-ministro de Infraestrutura do país. Muito dependeria da passagem segura do Razoni em direção ao Líbano. Atualmente, existem 16 navios prontos para embarcar grãos nos portos e ao redor da cidade portuária de Odessa, no sul, com um total de cerca de 600 mil toneladas de grãos, de acordo com o Rabobank.
Isso é cerca de metade do volume das exportações mensais de grãos que cruzam as fronteiras terrestres da Ucrânia e passam por seus portos no rio Danúbio. Esses carregadores estão todos ansiosos para retirar seus grãos, mas o fator crucial seria atrair as empresas de carga de volta. É mais importante desenvolver o fluxo sustentável de cargas para navios que vão e vêm. A chave para isso é se eles podem obter seguro. O primeiro navio a partir da Ucrânia sob um acordo intermediado pelas Nações Unidas, um graneleiro com uma carga de milho, o Razoni, navegou para o sul através do Mar Negro nesta terça-feira (02/08) em direção a Istambul para inspeção. Sua rota então seguirá em direção a Trípoli, no Líbano. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.