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28/Jul/2022

Dólar recua com sinais do Fed sobre juros nos EUA

Sinais do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, de que o ciclo de alta de juros nos Estados Unidos talvez não vá muito longe deflagraram um rali dos ativos de risco nesta quarta-feira (27/07). Com ganhos firmes das Bolsas em Nova York e tombo da moeda norte-americana tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes, investidores trataram de acelerar o desmonte de posições defensivas no mercado doméstico de câmbio. Já em queda antes do comunicado da decisão do Fed e da entrevista coletiva de Powell, o dólar aumentou o ritmo e renovou sucessivas mínimas nas últimas horas de negócios, chegando a romper o piso de R$ 5,25, ao descer até R$ 5,24. No fim da sessão, a moeda recuava 1,84%, cotada a R$ 5,25, o menor valor de fechamento desde 30 de junho (R$ 5,23). O Real, que costuma apanhar mais que seus pares em episódios de aversão ao risco, liderou com folga os ganhos frente ao dólar entre divisas emergentes e de países exportadores de commodities.

Foi o terceiro pregão seguido de baixa do dólar no mercado doméstico, que agora acumula perdas de 4,51% na semana. A valorização em julho, que chegou a superar 5% no fim da semana passada, passou a ser de apenas 0,31%. Operadores notam que já estava em curso nos últimos dias uma redução de posições defensivas no mercado futuro de câmbio, dada a proximidade da formação da última Ptax de julho (no dia 29/07) e a rolagem dos contratos que vencem em agosto. Esse movimento, embalado por uma recuperação de preços de commodities, se acentuou nesta quarta-feira (27/07) com o rali de ativos de risco. Como esperado, o Fed anunciou alta da taxa básica em 75 pontos-base, para a faixa de 2,25% e 2,50%, e adiantou, em seu comunicado, que o ciclo de elevação dos juros prossegue. O Fed reconheceu que a atividade mostra sinais de moderação, mas pontuou que o mercado de trabalho segue robusto. Mas, o que mexeu de fato com os preços dos ativos foram as declarações de Powell em entrevista coletiva após o comunicado.

"Atingimos uma faixa de juros que acreditamos ser neutra", afirmou o chairman. Daqui para frente, pontuou, a política monetária precisa ficar ao menos moderadamente restritiva. Provavelmente, acrescentou, será apropriado moderar o ritmo de alta de juros. Leia-se: não deve haver nova elevação em 75 pontos-base na próxima reunião de política monetária. Powell, contudo, evitou se comprometer com um forward guidance. Ele afirmou que é hora de decidir de reunião por reunião e não fornecer o tipo de orientação clara que fornece no caminho para os juros neutros. Ausente da ata do encontro anterior Fed, a palavra recessão apareceu na fala de Powell, para quem tal cenário é inconsistente com os indicadores econômicos, em especial o mercado de trabalho. A JF Trust afirma que a fala de Powell, com a revelação de que o juro já chegou ao patamar neutro na visão do Fed, sugere que a taxa básica norte-americana não vai tão longe. O mercado estava muito pessimista com o juro terminal entre o fim de maio e junho por conta da inflação muito elevada. Agora, está corrigindo essa expectativa. O juro não deve passar de 3,5%.

A não ser que haja uma surpresa muito negativa com a inflação, que parece já ter feito pico. O Fed deve subir os juros em 50 pontos na próxima reunião. O Banco Original também chama a atenção para a fala de Powell de que os juros estão perto do nível neutro, após a rodada de alta recente. A interpretação é de que estão próximos da taxa nominal neutra estimada por eles e que, em um horizonte não muito longe, os ajustes serão moderados. Ainda que parte da justificativa para tanto seja negativa, um medo de recessão, os mercados gostaram. A fala soa para os ativos financeiros como um flerte com o velho jeito de ser dos bancos centrais desenvolvidos, que passaram quase 15 anos injetando liquidez e sustentando a tomada de risco. O índice DXY (que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes) apresentou forte queda e tocou mínima na casa abaixo dos 106,300 pontos, com perda de quase 1% da moeda norte-americana frente ao euro, muito castigado nas últimas semanas.

A taxa dos Treasuries de 2 anos, mais ligados às apostas para o ciclo de alta dos juros, caiu mais de 2%, passando a trabalhar abaixo da linha de 3%. A JF Trust classifica o movimento dos ativos de risco, em especial do dólar, como um ajuste à nova perspectiva para o ciclo total de alta de juros. Não está descartada a possibilidade de um trimestre de queda do PIB norte-americano entre o fim deste ano e o começo de 2023, o que pode ensejar uma correção nos mercados acionários nos Estados Unidos e, por tabela, afetar os ativos brasileiros. A não ser que haja um movimento muito forte de apetite ao risco no exterior, o que não parece provável. Não há expectativa do dólar voltando para o patamar de R$ 5,00, pois o lado doméstico ainda pesa muito. Está complicado do ponto de vista fiscal, já que os dois candidatos a presidente sinalizaram que vão manter os benefícios sociais no ano que vem. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.