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22/Jul/2022

Dólar sobe com recuo de commodities e risco local

O dólar escalou mais uma vez no mercado doméstico e esboçou fechar acima da linha de R$ 5,50, em meio a aumento da demanda por posições cambiais defensivas. A quinta-feira (21/07) foi marcada por queda dos preços das commodities e renovadas preocupações com o fôlego da economia global, na esteira da decisão do Banco Central Europeu (BCE) de elevar as taxas de juros em 50 pontos-base, acima do consenso do mercado, de 25 pontos-base. Foi o primeiro aumento de juro desde 2011 na zona do euro, cuja taxa anual de inflação ao consumidor atingiu nível recorde de 8,6% em junho. Além do ambiente externo conturbado, a busca pelo dólar (para hedge ou pura especulação) é alimentada em parte pelos riscos político-institucionais domésticos às vésperas do início oficial da corrida eleitoral. Mesmo com dados positivos de arrecadação corrente, há também percepção de aumento do risco fiscal, uma vez que não se sabe de onde virá o dinheiro para manter isenções tributárias e benefícios sociais em 2023.

Afora uma queda pontual, quando registrou mínima a R$ 5,43, o dólar trabalhou em alta firme ao longo de toda a sessão, tendo alcançado o patamar de R$ 5,51. No fim da sessão, o dólar avançava 0,65%, a R$ 5,49. Com isso, a moeda passou a acumular valorização de 4,99% em julho. No exterior, o dia foi de perda de fôlego do dólar frente a divisas fortes. Com muita volatilidade, o euro apresentou uma leve recuperação das baixas recentes. A presidente do BCE, Christine Lagarde, reconheceu que a economia da região desacelera, mas descartou a possibilidade de recessão neste ou no próximo ano, a despeito do conflito na Ucrânia e do aperto das condições financeiras. O iene, que renovou nas últimas semanas mínimas desde 1998 em relação ao dólar, apresentou alta firme nesta quinta-feira (21/07). O Banco do Japão (BoJ) afirmou que a inflação provavelmente vai superar a meta de 2% neste ano fiscal, mas manteve inalterada as taxas de juros e sinalizou que vai seguir com a política monetária expansionista.

Com o avanço de iene e euro, o índice DXY acabou em queda de cerca de 0,30%, voltando a trabalhar abaixo da linha dos 107,000 pontos. A perspectiva de analistas é de manutenção de dólar em patamares elevados frente a divisas fortes, em especial o euro, uma vez que os Estados Unidos terão desempenho econômico e taxas de juros superiores aos europeus. O mercado dá como certo que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) anunciará no dia 27 de julho nova elevação da taxa de juros em 75 pontos-base. A Europa sofre com os impactos duplamente recessivos e inflacionários dos preços de energia. A Rússia retomou as entregas de gás à região por meio do gasoduto Nord Stream 1, mas há dúvidas sobre manutenção e volume de fornecimento. Para a Blue 3, o Banco Central Europeu demorou muito a reagir à inflação. Tem muito da questão geopolítica no enfraquecimento do euro. Mas, o fato é que os Estados Unidos têm elevado os juros mais rapidamente, o que fez o dólar se fortalecer bastante nos últimos tempos.

No Brasil, o mercado está às cegas em relação ao fluxo cambial, porque não há ainda dados atualizados. Com esse movimento de fortalecimento do dólar ante outras moedas, o Real acaba sofrendo. Apesar do tropeço frente a divisas fortes, o dólar subiu em bloco na comparação com moedas emergentes e de países exportadores de commodities, em especial pares do Real como o peso mexicano e chileno. Quem destoou foi o rand sul-africano, que se fortaleceu amparado pela decisão do Banco Central do Sul subir sua taxa básica de juros em 75 pontos-base hoje, para 5,50% (analistas esperavam alta de 50 pontos-base). As cotações do petróleo recuaram, com o tipo Brent para setembro, referência para Petrobras, em baixa de 2,86%, a US$ 103,86 por barril. O minério de ferro fechou em queda de 1,90% em Qingdao, na China, onde se avolumam preocupações com a crise no setor imobiliário e com possível nova onda de casos Covid-19. Commodities agrícolas, como milho, trigo e soja, também sofreram.

Segundo a JF Trust, as dívidas das incorporadoras chinesas não podem ser subestimadas, pois o impacto pode ser relevante sobre os preços dos ativos. Tende a trazer um viés negativo para o mercado de commodities no curto prazo. No Brasil, o destaque vai para a arrecadação de R$ 181,040 bilhões de impostos e contribuições federais em junho, alta real de 17,96% na comparação anual. Nas mesas de operação, a avaliação é de que a “foto” das contas públicas é positiva, mas que a história contada pelo “filme” assusta. O governo provavelmente terá que promover um corte de gastos em torno de R$ 5 bilhões para cumprir a regra do teto em 2022. As dúvidas recaem sobre a peça orçamentária de 2023, dado que a PEC dos Benefícios assegura gastos extrateto apenas neste ano. Segundo o Banco Fibra, o combo de política econômica atual visa apenas à reeleição do atual grupo que está no poder sem qualquer preocupação com fundamentos macro. Está se criando uma armadilha para o próximo governo, seja qual for. Isso num contexto global mais desafiador. A percepção é de que o mercado ainda está muito complacente com riscos fiscais, políticos e eleitorais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.