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19/Jul/2022

Mercosul: acordo Uruguai-China desagrada o bloco

Principal foco de tensão no Mercosul, os planos do Uruguai em fechar um Tratado de Livre Comércio (TLC) com a China têm resistência unânime dos demais países do bloco. Brasil e Argentina, porque desejam proteger suas indústrias de uma invasão ainda maior de produtos mais baratos chineses, que já dominam as importações nos dois países. Já o Paraguai, anfitrião da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul nesta semana, nem sequer mantém relações diplomáticas ou comerciais com a China. No dia 13 de julho, o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, anunciou que o "estudo de viabilidade" conduzido com a China desde setembro do ano passado havia sido concluído com êxito e prometeu iniciar as negociações para firmar um TLC com o gigante asiático, ainda que o Mercosul proíba a assinatura de acordos bilaterais desta natureza desde 2000. O Uruguai já fala inclusive em iniciar conversas semelhantes com a Turquia.

Na sexta-feira (15/07), a Secretaria de Relações Econômicas Internacionais do governo argentino adiantou que qualquer tipo de negociação comercial entre o Uruguai e a China deverá "ser internalizada" pelo bloco e passar pela análise dos demais países membros do Mercosul. O que, na prática, impediria qualquer chance de livre comércio com os asiáticos. Sem uma indústria com peso relevante nas exportações, o Uruguai tem pressa para obter um canal vantajoso de embarques de produtos básicos e semimanufaturados para a China, que já está consolidada como principal destino das vendas uruguaias. No ano passado, os chineses importaram US$ 3,277 bilhões em produtos do Uruguai (28% do total), bem à frente dos US$ 1,884 bilhão comprados pelo Brasil (16% do total). Somente a carne bovina respondeu por 45% dos embarques uruguaios para a China em 2021, seguida por celulose (13%) e soja (12%).

Madeira, produtos lácteos, gado e carnes ovina e caprina completaram a pauta de exportações do Uruguai para os chineses. Enquanto o Brasil se manteve como principal origem das importações uruguaias no ano passado, com US$ 2,040 bilhões (23% do total), os produtos chineses cresceram 39% apenas em 2021 e encostaram na liderança brasileira, com US$ 1,998 bilhão (22% do total). A China já desbancou o Brasil nas vendas para os argentinos desde 2019. De janeiro a maio deste ano, os chineses venderam US$ 7,084 bilhões para a Argentina, enquanto os embarques brasileiros somaram US$ 6,244 bilhões. Por outro lado, a China é apenas o quarto destino das exportações argentinas, atrás de Brasil, Estados Unidos e Chile. Somente nos cinco primeiros meses de 2022, o déficit comercial da Argentina com os chineses somou US$ 4,873 bilhões.

Desde 2009, como principal destino das exportações e desde 2017 à frente também como origem das importações, a China tem ampliado sua liderança na corrente de comércio brasileira. De janeiro a junho deste ano, as vendas para os chineses somaram US$ 47,142 bilhões, contra US$ 17,632 bilhões em embarques para os Estados Unidos. Nas importações, foram U$$ 27,980 bilhões em compras da China e US$ 25,044 bilhões em bens vindos dos Estados Unidos. Para a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), falar em livre comércio entre o Uruguai e a China é colocar em risco tanto a indústria brasileira como a argentina. A China é o maior produtor e exportador mundial de têxteis e confecções. Um acordo deste tipo em qualquer circunstância é um perigo enorme para todo o Mercosul, é algo absolutamente impensável.

Se o Uruguai quiser seguir nessa trilha, precisa decidir primeiro se quer continuar ou não no Mercosul. O Uruguai é um país estável, uma democracia consolidada, mas a criação de um entreposto chinês dentro do bloco não pode prosperar. Se economicamente é difícil vislumbrar o aval de Argentina e Brasil para o TLC entre Uruguai e China, no caso do Paraguai seria necessário ainda romper com 65 anos de reconhecimento do governo paraguaio a Taiwan. O Paraguai é um dos 14 países que mantêm relações diplomáticas completas com a ilha e, consequentemente, não detêm nenhuma relação com a China continental. Ou seja, o comércio entre os dois países é simplesmente zero. Nem mesmo a necessidade de compra emergencial de vacinas durante a pandemia de Covid-19 dobrou o Paraguai para alterar essa posição no tabuleiro geopolítico mundial. O vice-chanceller paraguaio, Raúl Cano Ricciardi foi direto ao comentar as pretensões uruguaias na semana passada: "É uma falácia", declarou ao jornal paraguaio Última Hora. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.