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19/Jul/2022

Grãos: preços têm recuos e podem aliviar inflação

Diante da queda recente nas cotações das principais commodities agrícolas, como trigo, milho e soja, poderá o preço dos alimentos engatar uma tendência de desaceleração mais firme no curto prazo? Muitos analistas acreditam que sim, enquanto alguns outros apostam que, com a correção recente, as cotações de grãos, como o trigo, já atingiram um piso e não há tanto mais espaço para cair adicionalmente. É bom lembrar que o preço dos alimentos tem sido um dos maiores vilões na inflação do Brasil e de vários outros países nos últimos 12 meses. Nesse debate, ao menos no que se refere ao Brasil, é preciso levar em conta o que acontece com o dólar, que subiu 7,54% em relação ao real, somente nos últimos 30 dias, até a sexta-feira passada. Mas, chama a atenção o comportamento nos preços de várias ações de empresas do setor agrícola e de máquinas agrícolas nas bolsas dos Estados Unidos e do Brasil: essas ações estão com um desempenho bem pior do que o dos índices das bolsas nas quais são listadas.

Estariam os investidores dessas ações antecipando um cenário desinflacionário para as principais commodities agrícolas? Ou a queda tantos nos preços das ações de empresas do setor, quanto das commodities agrícolas, na semana passada, foi apenas um reflexo do aperto das condições financeiras mundo afora? Nos Estados Unidos, a ação da companhia de fertilizantes Mosaic, uma das maiores produtoras globais de fosfatados e potássio combinados, fechou na sexta-feira passada com uma perda de 0,44% na semana, elevando a queda acumulada nos últimos 30 dias para 11,03%. O contraste não podia ser maior quando se compara com o desempenho do índice Dow Jones, o qual teve um ganho acumulado, nos últimos 30 dias, de 2,02% até a sexta-feira passada. Também a ação da fabricante de máquinas agrícolas Deere & Co. registrou, na sexta-feira passada (15/07), queda semanal de 2,28%, enquanto a perda do índice Dow Jones foi de apenas 0,16% no mesmo período.

Nos últimos 30 dias, o recuo da ação da Deere & Co. é de 7,75%. Na B3, a ação da SLC Agrícola, produtora de soja, algodão e milho, encerrou a sexta-feira com perda semanal de 11,7%, enquanto, no mesmo período, o recuo do Ibovespa foi de 2,4%. Nos últimos 30 dias, até a sexta-feira passada, a ação da SLC Agrícola acumula uma queda de 23,48%, enquanto a perda do Ibovespa foi de 3,31%. O quanto desse desempenho pior das ações acima reflete unicamente as perdas nas últimas semanas de commodities agrícolas e o quanto pode ser um termômetro de que, com a perspectiva de desaceleração da economia mundial, e até com risco crescente de recessão nos Estados Unidos e na Europa, os preços de matérias-primas vão moderar e dar um alívio na inflação de alimentos? Em junho, o índice de preços de alimentos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) caiu 2,3% em junho ante maio, registrando a terceira queda mensal consecutiva.

Ainda assim, esse índice está 23,1% acima do nível observado em junho do ano passado. Segundo a FAO, esse recuo no índice de preços de alimentos foi puxado pelas quedas nos preços internacionais de óleos vegetais, de cereais e açúcar. No caso de cereais, que inclui o trigo, a queda foi de 4,1% em junho. Em junho, o trigo recuou 5,7%. Essa tendência permaneceu em julho. Na Bolsa de Chicago, o contrato do trigo com vencimento em setembro fechou a US$ 7,76 por bushel na sexta-feira (15/07), acumulando uma perda, na semana passada, de quase 13%. Muitos analistas atribuíram o recuo à expectativa de que as exportações do grão pela Ucrânia sejam retomadas caso seja selado, nesta semana, um acordo com a Rússia nesse sentido. Também na Bolsa de Chicago, o contrato de milho para setembro caiu 4,5% na semana passada. E o contrato da soja em grão para vencimento em setembro também acumulou queda de quase 4% na semana passada.

Na Bolsa de Nova York, apesar do preço dos futuros do algodão ter fechado em forte alta na sexta-feira passada (15/07), o contrato do algodão para dezembro ainda acumulou na semana uma perda de mais de 7%. Talvez por isso, a pressão dos alimentos nos índices de preços ao consumidor aqui e lá fora tenha cedido em junho, embora ainda timidamente. No IPCA de junho, por exemplo, o item alimentação no domicílio subiu 0,63% ante alta de 0,67% do índice cheio. Em 12 meses, a alimentação no domicílio acumulou uma alta de 16,69% em junho, enquanto o índice cheio ficou em 11,89%. Nos Estados Unidos, os alimentos subiram 1% em junho, enquanto o índice de preços ao consumidor (CPI) avançou 1,3%. Em 12 meses, o item alimentos acumulou alta de 10,4% em junho, acima da taxa anual de 9,1% do índice cheio. Haverá mesmo um alívio mais prolongado nas cotações das commodities agrícolas para a inflação ao consumidor? E quão rápido virá? Fonte: Fábio Alves. Broadcast Agro.