24/Jun/2022
Nesta quinta-feira (23/06), após certa volatilidade, o dólar ganhou força e fechou próximo do limiar de R$ 5,23, no maior nível desde 11 de fevereiro. Ao fortalecimento da moeda norte-americana no exterior, em meio a sinais de que a economia global pode estar se encaminhando para uma recessão, somou-se o aumento da percepção de risco fiscal doméstico diante iniciativas do governo e de seus aliados no Congresso para turbinar programas de transferência de renda. A escalada do dólar no Brasil aqui se deu em sintonia com a derrocada do Ibovespa a partir do início da tarde, quando foi noticiado que o governo discute mudanças na PEC dos Combustíveis. A ideia é usar para benefícios sociais os cerca de R$ 30 bilhões que seriam destinados para compensação a Estados que reduzissem ICMS sobre diesel e gás de cozinha. Na pauta, aumento do valor do Auxílio Brasil de R$ 400,00 para R$ 600,00 até o fim do ano, elevação do vale gás e voucher para caminhoneiros de até R$ 1.000,00.
Nas mesas de operação, comenta-se que o presidente Jair Bolsonaro, em desvantagens nas pesquisas eleitorais e acuado pelas acusações de corrupção no Ministério da Educação, tenta criar uma "agenda positiva" por meio de medidas populistas que ameaçam o já combalido teto de gastos, um pacote que acaba ofuscando os resultados fiscais positivos de curto prazo e aguça a busca por proteção na moeda norte-americana. Com máxima a R$ 5,23, registrada na última hora de negócios, o dólar encerrou em alta de 1,02%, cotado a R$ 5,22, maior valor de fechamento desde 11 de fevereiro. Com isso, os ganhos em junho já são de dois dígitos (10,04%). No ano, contudo, a divisa apresenta desvalorização de 6,21%. Segundo a JF Trust, o clima político está tenso. Depois da pressão pela CPI da Petrobras, apareceu o escândalo no Ministério da Educação. O governo pode reagir expandindo mais os gastos, com benefícios como o vale gás e o auxílio aos caminhoneiros.
O fluxo cambial não está ajudando e agora aumentou o risco político. Aos poucos, a possibilidade de reversão das reformas vai sendo inseridas aos prêmios. O Real também sofre pela perda de fôlego dos preços das commodities na esteira de indicadores que demonstram desaceleração da economia global em momento em que BCs desenvolvidos, em especial o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), ajustam a política monetária para combater a inflação. O índice de gerente de compras composto dos Estados Unidos (PMI) caiu a 51,2 em junho, menor nível em cinco anos. Já o PMI composto da zona do euro cedeu de 54,8 em maio para 51,9 em junho, pior resultado em 16 meses. Na Alemanha, maior economia da região, o PMI composto recuou para o menor patamar em 6 meses. Os contratos futuros do petróleo voltaram a cair, com o tipo Brent, em baixa de 1,41%, a US$ 110,05 por barril.
O cobre perdeu mais de 5% no mercado futuro, descendo à mais baixa cotação em 16 meses. Para o Banco Ourinvest, a alta do dólar está muito relacionada a dados do PMI dos Estados Unidos, que vieram muito abaixo do esperado, o que reforça a cautela dos investidores. Além disso, o presidente do Federal Reserve (Jerome Powell) reafirmou que o compromisso de combate à inflação é incondicional. Isso pressiona as moedas emergentes. O ambiente externo pesa mais para o Real do que o quadro local. De fato, em audiência na Câmara dos Representantes do Estados Unidos, Powell falou com firmeza contra a inflação, cujo patamar ele atribuiu em grande medida a uma demanda mais forte. Segundo o presidente do Fed, a alta recente dos preços de energia torna mais desafiadora a tarefa de buscar um "pouso suave" da economia norte-americana.
Para a JF Trust, a expectativa é que o juro norte-americano deverá continuar a subir para pelo menos 3,75% ao ano. Há membros do Fed que desejam juro a 4% ou 4,25%, que garantiriam queda mais rápida da inflação. Além disso, dados fracos da zona do euro aumentam as chances de recessão global e contribuem para o fortalecimento do dólar frente ao euro. A desvalorização do Real só não é maio porque a taxa de juros local é elevada e desencoraja carregamento de posições compradas em dólar (que ganham quando a moeda norte-americana se valoriza ante o Real). Declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do novo diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, reforçaram a perspectiva de ao menos mais um aumento da Selic, hoje em 13,25% ao ano, e manutenção da taxa básica em nível elevado ao longo de 2023, o chamado horizonte relevante da política monetária. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.