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20/Jun/2022

Inflação de alimentos e as medidas protecionistas

A pandemia da Covid-19 afetou fortemente o nível de atividade e o emprego ao redor do mundo, em vista das medidas para combater a disseminação da doença, como o distanciamento social e as restrições à mobilidade e às operações de determinados setores. Diante desse cenário, os bancos centrais reduziram as taxas de juros, adotando medidas de relaxamento monetário, com o objetivo de incentivar a recuperação da economia. No Brasil, por exemplo, a Selic chegou a recuar a 2% ao ano, seu menor valor desde a adoção do sistema de metas de inflação em 1999. Essa maior disponibilidade de dinheiro, incentivando a demanda, não foi acompanhada por uma expansão proporcional da oferta.

A competição por exportações se acirrou, mas a produção mundial de vários produtos não registrou o mesmo desempenho, resultando em escassez e preços mais elevados de matérias-primas e bens finais. A pandemia também trouxe outros fatores que contribuíram para agravar o problema, como a ruptura de cadeias logísticas, evidenciada em determinados momentos pela falta de contêineres em importantes hubs globais de cargas, que acabaram ficando mal distribuídos ao redor do mundo. No começo de 2022, o cenário de aceleração de preços foi ainda mais agravado em virtude da invasão da Ucrânia pela Rússia, que acabou impactando a oferta de commodities agrícolas e energéticas produzidas e exportadas pelos dois países, players importantes em diversos desses mercados.

Em meio aos custos em elevação e questões logísticas ainda mais complicadas, como o fechamento dos portos do Mar Negro e sanções impostas à Rússia, vários países ao redor do mundo têm adotado medidas para tentar combater a inflação que vão além dos instrumentos monetários. Destaca-se, neste sentido, o uso de restrições de exportações, na tentativa de elevar a disponibilidade interna, influenciar os preços dos alimentos nos mercados domésticos e garantir a segurança alimentar da população. No mercado de trigo, por exemplo, a Índia passou a restringir as exportações, num momento em que a oferta do país foi afetada negativamente pelo clima.

Já no mercado de óleos vegetais, a Indonésia, maior produtor e exportador mundial de óleo de palma, suspendeu as exportações por quase um mês, e, quando voltou a liberar, passou a exigir das empresas uma autorização para exportar, após cumprirem um requerimento mínimo para atender a demanda doméstica. Destaco que as medidas para combater o aumento de preços já ocorriam antes do conflito na Ucrânia. A Argentina, por exemplo, suspendeu totalmente as exportações de carne bovina em maio de 2021, com flexibilização das regras nos meses seguintes, sendo que as medidas devem continuar até 2023.

Já na China, desde outubro de 2021, cargas de fertilizantes para exportação precisam passar por inspeções demoradas e, muitas vezes, proibitivas, situação que impactou fortemente o volume embarcado. Contudo, por mais que esse tipo de política possa trazer algum resultado positivo para o país que impõe tais restrições, o efeito para a economia mundial é o oposto, visto que os importadores acabam sendo forçados a elevar os preços pagos em função da menor oferta global. Ademais, ainda que os preços possam recuar localmente no curto prazo, esse resultado não é duradouro, visto que a restrição de exportações e os preços domésticos artificialmente pressionados tendem a desestimular a oferta do produto alvo da medida.

Caso emblemático desta situação foi o ocorrido com a produção de carne bovina na Argentina em meados da década de 2000. Na ocasião, foram proibidas as exportações de carne bovina durante seis meses e, depois disso, medidas restritivas passaram a ser usadas regularmente até o final de 2015. O resultado das restrições foi a queda da lucratividade dos pecuaristas, o que fez com que muitos abandonassem esse ramo de atividade, voltando-se para outros setores. Com isso, o rebanho da Argentina diminuiu expressivamente no período, trazendo enorme prejuízo para um dos principais setores econômicos do país. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.