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14/Jun/2022

Greenwashing reflete a falta de ética de empresas

A crescente preocupação ambiental, impulsionada por evidências cada vez mais robustas sobre o risco de colapso do planeta se nada for feito, vem mudando o comportamento de consumidores, investidores, empresários e governos mundo afora. Com razão, a agenda da sustentabilidade avança, à medida que mais pessoas tomam consciência de que a proteção do meio ambiente envolve tanto os seus próprios hábitos de consumo quanto a atuação de agentes econômicos ao longo de todas as etapas de produção. Em maior ou menor grau, a humanidade vem encarando o desafio de conciliar desenvolvimento econômico e proteção ambiental. O que passa por decisões de ordem macro, como rever a matriz energética, e outras de caráter individual, que exigem mudanças de comportamento. Diante de consumidores e investidores cada vez mais atentos à sustentabilidade, empresas abraçaram o conceito de ESG, sigla em inglês para "environmental, social and governance" (ambiental, social e governança, em tradução livre).

A ideia é que o mundo corporativo assuma responsabilidades bem maiores em relação às questões ambientais, sociais e de governança. O que pode incluir, por exemplo, decisões como não comprar insumos de quem desmata, adotar práticas de compliance ou promover a inclusão social, de maneira que o perfil dos colaboradores reflita a diversidade da sociedade. O pano de fundo, claro, é a sustentabilidade, começando pela do planeta, mas não só. O que está em jogo parece ser também o futuro dos próprios empreendimentos. A longo prazo, empresas que se guiam por ESG podem ser mais resilientes, além de atraírem a simpatia de clientes preocupados com a preservação ambiental, o que resultará em maior volume de negócios. Nesse cenário, infelizmente, não falta quem tente tirar vantagem da conscientização ambiental, travestindo-se de adepto de ESG, sem, na verdade, seguir a cartilha. O fenômeno se espalhou de tal maneira que ganhou até um termo próprio, também em inglês: greenwashing.

A tradução literal seria "lavagem verde", mas "maquiagem verde" soa melhor. O que, em bom português, quer dizer propaganda enganosa. É isso que ocorre quando uma empresa dá a entender que faz mais pelo meio ambiente do que a verdade dos fatos permitiria afirmar. Sem dúvida, há diferentes formas de greenwashing: desde apregoar virtudes ambientais a um produto sem que necessariamente existam evidências disso até deliberadamente falsear dados para enganar o consumidor. Outra possibilidade é desenvolver um produto ou investir em uma ação ambientalmente responsável para encobrir ações devastadoras e sem compromisso ambiental por parte do mesmo grupo. O mesmo vale para fundos de investimentos que se apresentam com selos ESG ou similares, a fim de atrair a atenção de quem se preocupa com a agenda verde, mas injetam recursos em projetos poluentes.

Reportagem do jornal Financial Times mostrou a recusa de investidores a apoiar maiores restrições ao financiamento de combustíveis fósseis em alguns dos principais bancos dos Estados Unidos. O Santander chamou de "hipocrisia ética" o comportamento de investidores que defendem a agenda ambiental, mas não estão dispostos a abrir mão de uma ínfima parcela da taxa de retorno, na hora de canalizar dinheiro para os chamados investimentos verdes no mercado de capitais. O investidor não está preparado para receber menos por bônus verde. A busca pelo lucro é a essência do capitalismo e da livre-iniciativa, e os únicos limites para isso são os de caráter ético e legal. Assim, não há nada de errado quando empresas adotam medidas ambientalmente responsáveis sem abrir mão do lucro; o problema é quando empresas simulam preocupação ambiental apenas para lucrar. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.