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13/Jun/2022

Brasil registra empobrecimento histórico em 2021

De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) 2021 - Rendimento de todas as fontes, divulgada na sexta-feira (10/06) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o segundo ano da pandemia foi marcado por um empobrecimento recorde dos brasileiros, após as políticas de transferência de renda para mitigar a crise causada pela Covid-19 darem um alívio em 2020. Com o enxugamento do Auxílio Emergencial e uma recuperação do mercado de trabalho marcada pela geração de empregos precários, a metade mais pobre da população sobreviveu com apenas R$ 415,00 mensais por pessoa em 2021, pior resultado histórico, um tombo de 15,1% em relação aos R$ 489,00 recebidos em 2020, em valores já atualizados pela inflação. Com o rendimento médio de R$ 415,00 por mês para a metade mais pobre, são 106,35 milhões subsistindo com apenas R$ 13,83 por dia por pessoa.

O empobrecimento é histórico mesmo quando se compara com quase dez anos atrás: em 2012, a metade mais pobre da população ganhava R$ 448,00 por mês por pessoa. O valor de 2021 é 7,4% menor do que o registrado em 2012. Com a diminuição do Auxílio Emergencial, tanto no valor quanto no número de pessoas beneficiadas, as perdas foram mais dramáticas nas Regiões Norte e Nordeste, onde a transferência de renda desempenha um papel fundamental para a subsistência de grande parte da população na pandemia. Os 50% mais pobres da Região Nordeste sobreviviam com R$ 251,00 mensais, ou R$ 8,37 diários por pessoa da família no ano passado, um recuo de 23% ante 2020. Na Região Norte, a renda média da metade mais vulnerável foi de R$ 281,00 mensais em 2021, R$ 9,37 diários, 19,9% a menos que no ano anterior. O quadro é ainda mais drástico entre os mais pobres de todos.

Em 2021, o País tinha 10,635 milhões de pessoas sobrevivendo com apenas R$ 39,00 mensais por pessoa, ou seja, os 5% mais miseráveis da população tinham, em média, somente R$ 1,30 por pessoa por dia, considerando todas as fontes de renda disponíveis. A renda desses miseráveis despencou 33,9% em relação a 2020. Na comparação com 2012, o tombo no poder aquisitivo desses brasileiros foi de 48%. Teve menos gente ganhando o Auxílio Emergencial, e quem ganhava teve menos parcelas, com valor. O auxílio foi um colchão para a renda não cair tanto em 2020. Com a melhora da pandemia e o retorno do mercado de trabalho, as regras do auxílio foram alteradas. O tombo na renda dos mais pobres em 2021 aumentou a desigualdade, embora todas as faixas tenham registrado perdas. Entre o 1% mais rico da população, a renda média mensal per capita foi de R$ 15.940,00 queda de 6,4% ante 2020. Em relação ao primeiro ano da série, 2012, a perda foi de 6,9%. Todos perderam renda.

Como o rendimento dos mais pobres caiu em ritmo mais acelerado, o índice de Gini do rendimento médio domiciliar per capita (indicador que mede a desigualdade de renda, numa escala de 0 a 1, em que, quanto mais perto de 1 o resultado, maior é a concentração) aumentou de 0,524 em 2020 para 0,544 em 2021. Na passagem de 2020 para 2021, o índice de Gini cresceu em todas as regiões brasileiras, o que mostra um aumento na desigualdade disseminado pelo País. Considerando a renda auferida por toda a população, o rendimento médio mensal real domiciliar per capita foi de R$ 1.353,00 em 2021. Assim como no caso da metade mais pobre da população, é o valor mais baixo já visto na pesquisa iniciada em 2012, 6,9% menor que os R$ 1.454,00 estimados em 2020. Houve redução em todas as regiões, sendo os valores mais baixos os auferidos nas Regiões Norte (R$ 871,00) e Nordeste (R$ 843,00). A Região Sul registrou o maior rendimento domiciliar per capita médio, R$ 1.656,00.

A pandemia de Covid-19 retirou das famílias brasileiras R$ 30,560 bilhões em dois anos de crise sanitária, a despeito do reforço proveniente de medidas emergenciais de socorro financeiro à população. A massa de rendimento mensal real domiciliar per capita (soma de toda a remuneração das famílias, do trabalho, de fontes formais e informais, incluindo apoios pagos pelo governo, como bolsas e aposentadoria) totalizou R$ 287,703 bilhões em 2021, R$ 19,150 bilhões a menos que os R$ 306,853 bilhões registrados em 2020, queda de 6,2%. A despeito da melhora no mercado de trabalho, pesou a redução do alcance e valor do Auxílio Emergencial pago pelo governo aos mais vulneráveis. O percentual de domicílios com alguém recebendo “Outros programas sociais”, categoria que inclui o auxílio emergencial, caiu de 23,7% em 2020 para 15,4% em 2021, enquanto a proporção de domicílios com beneficiários do Bolsa Família aumentou de 7,2% para 8,6%.

Na passagem de 2020 para 2021, todas as regiões viram encolher a massa de rendimento domiciliar per capita mensal, com destaque para o tombo de 12% registrado na Região Nordeste. No total da população, os 10% com os menores rendimentos detinham apenas 0,7% da massa de renda em circulação na economia, enquanto o grupo dos 10% mais ricos concentravam 42,7% do bolo. Além disso, cabe destacar que este último grupo possuía uma parcela da massa de rendimento maior que a dos 80% da população com os menores rendimentos (41,4%). O grupo dos 10% com maiores rendimentos abocanhou um pedaço maior da massa de rendimento domiciliar per capita na passagem de 2020 para 2021, 1,1% a mais, enquanto a fatia dos 10% mais pobres encolheu 0,2%. Em 2021, o rendimento médio mensal real domiciliar per capita do 1% mais rico da população era 38,4 vezes maior que o rendimento médio dos 50% que ganham menos. Além disso, o número de pessoas sem nenhum tipo de renda cresceu no País no ano passado. A proporção de brasileiros com rendimento caiu de 61,0% em 2020 para 59,8% em 2021, o mesmo percentual de 2012 e o mais baixo da série.

Ou seja, no ano passado, 85,6 milhões de brasileiros não recebiam nenhum tipo de rendimento, nem salário, nem aposentadoria, pensão, programas de governo, aluguel nem doação, aí incluídos as crianças e os idosos que dependem da família. A população de pessoas com algum tipo de rendimento se reduziu em todo o País. Isso aconteceu em todas as regiões e é explicado pelos outros rendimentos, que é onde está o auxílio emergencial. A renda média mensal real de todas as fontes de quem possuía algum tipo de rendimento foi estimada em R$ 2.265,00 no ano passado, resultado mais baixo da série histórica, após quedas de 3,4% em 2020 e de 5,1% em 2021. O rendimento médio mensal habitualmente recebido de todos os trabalhos foi de R$ 2.476,00 em 2021, queda de 6,1% ante 2020, como possível resultado da expansão da informalidade na ocupação. Quanto ao rendimento proveniente de outras fontes, a aposentadoria e pensão foi de R$ 1.959,00 em 2021, uma retração recorde de 5,3%, enquanto a pensão alimentícia, doação e mesada de não morador totalizavam, em média, R$ 667,00 mensais, valor 4,2% abaixo do estimado no ano anterior.

Houve influência da inflação nas perdas dessas duas modalidades. Na categoria de “outros rendimentos”, que inclui o Auxílio Emergencial e demais programas de transferência de renda do governo, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que paga um salário-mínimo para os idosos mais pobres, o valor recebido mensalmente era de R$ 512,00 em média, um tombo recorde de 30,1%, o que pode ter relação com as mudanças ocorridas no benefício do auxílio emergencial no segundo ano da pandemia de Covid-19. Os rendimentos provenientes de aluguel e arrendamento tiveram valor médio de R$ 1.814,00 aumento de 3,7%. Se considerado apenas o rendimento obtido do trabalho, apesar do aumento da população ocupada em 2,8 milhões de pessoas a mais trabalhando, a massa do rendimento mensal real de todos os trabalhos caiu 3,1%, passando de R$ 223,6 bilhões em 2020 para R$ 216,7 bilhões, em 2021. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.