10/Jun/2022
Nos últimos dois meses, empresas e investidores prometeram cerca de US$ 2 bilhões para apoiar tecnologias emergentes que prometem remover dióxido de carbono da atmosfera, algo visto como crucial para refrear as mudanças climáticas. Os compromissos com a incipiente indústria da remoção de carbono aumentaram o apoio financeiro em cerca de 30 vezes. O capital prometido está transformando a remoção de carbono em um foco de inovação técnica e financeira. Uma empresa levantou, sozinha, mais do que toda a indústria em sua história. A remoção de carbono está aumentando o financiamento a um ritmo mais rápido do que qualquer outro setor climático, mostra uma análise do Wall Street Journal sobre os dados da PitchBook. Extrair carbono da atmosfera e armazená-lo permanentemente no subsolo elimina alguns dos gases de efeito estufa que causaram a elevação da temperatura da Terra. Mas, esse processo nunca havia sido feito em grande escala.
Nos últimos meses, gigantes da tecnologia como Google e Facebook, as empresas de consultoria McKinsey e BCG, as financeiras UBS e Swiss Re, além da família real de Liechtenstein, prometeram pagar generosamente pelo carbono que for removido da atmosfera e armazenado. Ao se comprometerem antecipadamente a remunerar empresas que tenham êxito nesta empreitada, esses financiadores estão criando os mesmos tipos de incentivos usados para financiar pesquisas para vacinas contra doenças, como a malária, e para grandes projetos de infraestrutura, como terminais de gás natural liquefeito. Os planos de aumentar a remoção de carbono fazem frente ao fato de que os esforços para reduzir as emissões de carbono ficaram aquém do necessário para evitar mudanças perigosas no clima da Terra. A corrida atual por combustíveis fósseis causada pela invasão russa da Ucrânia deixou claro que uma transição para a energia renovável ainda está muito longe.
As tecnologias de remoção de carbono retiram carbono do ar livre para bloqueá-lo por séculos. Há uma miscelânea de nomenclaturas para esses esforços de redução do carbono na atmosfera. A captura direta de ar, uma descrição comum da estratégia, é um tipo de remoção de carbono. A captura de carbono, que retira carbono de chaminés e outras fontes mais densas de gases do efeito estufa, também está relacionada, mas é considerada um processo diferente. A remoção de carbono é mais exigente tecnologicamente, pois o dióxido de carbono é mais difuso na atmosfera. As empresas estão dispostas a pagar pela remoção de carbono para cumprir o objetivo de se tornarem neutras em carbono. Muitas empresas tentam alcançar esta meta comprando créditos de carbono, que geralmente são gerados por energia renovável e preservação florestal. Outras decidiram que é mais eficaz remover diretamente o carbono.
Em abril, a Alphabet, controladora do Google, a Meta Platforms, do Facebook, a McKinsey, a processadora de pagamentos Stripe e a empresa canadense de comércio eletrônico Shopify comprometeram quase US$ 1 bilhão em pagamento pela remoção de carbono até 2030, em uma joint venture chamada Frontier. Um grupo semelhante, formado pelo UBS Group AG, Boston Consulting Group e outros espera investir centenas de milhões de dólares. A Microsoft e a Salesforce. prometeram investimentos separados que totalizam US$ 300 milhões. As empresas comprometeram cerca de US$ 1,5 bilhão nas últimas semanas. Antes disso, elas haviam se comprometido com cerca de 50 milhões de dólares. Os compromissos de longo prazo estão sendo reforçados por investimentos nas empresas de remoção de carbono existentes. A Climeworks, uma empresa suíça cuja instalação na Islândia representa um dos únicos projetos operacionais do mundo, arrecadou US$ 650 milhões. Isso é mais do que o crescimento da indústria inteira em toda sua história.
Recentemente, outras startups levantaram dezenas de milhões de investidores, incluindo a Breakthrough Energy Ventures, de Bill Gates e uma competição de inovação financiada por Elon Musk. O dinheiro está alimentando uma corrida entre as startups para desenvolver novos métodos de remoção. Algumas empresas, como a Climeworks, constroem máquinas que colocam ar em contato com produtos químicos que absorvem e transformam o dióxido de carbono para que ele possa ser armazenado no subsolo. Outras vislumbram acelerar processos naturais de bloqueio de carbono em rochas ou oceanos. Muitos ambientalistas e líderes empresariais questionam a sensatez de apostar em tecnologia não comprovada que consumirá energia, terras e dinheiro no combate às mudanças climáticas. A redução das emissões deveria ser o foco principal, argumentam. Segundo a Fletcher School of Law and Diplomacy da Universidade Tufts, há esse profundo temor de que haja uma desaceleração na questão de redução de emissões, caso a remoção de carbono tenha êxito.
A tecnologia especulativa é comum no Vale do Silício, mas o ritmo e a estrutura dos investimentos na remoção o diferenciam. A demanda por remoção de carbono supera tanto a oferta que a capacidade do setor está esgotada anos à frente. Isso forçou as empresas a se comprometerem a pagar por remoções que ainda não aconteceram usando tecnologias que ainda não foram inventadas. Esses compromissos estão sendo feitos a preços muito mais altos do que os dos créditos de carbono normalmente comprados pelas empresas. Mas, os executivos do setor dizem que será difícil levantar dinheiro suficiente sem um preço consistente ou imposto sobre o carbono. Segundo a Charm Industrial, empresa de remoção de São Francisco (EUA), a expectativa é de que as pessoas entendam essa matemática. A Charm aquece resíduos de plantas agrícolas como talos de milho para transformá-lo em líquido rico em carbono que pode ser injetado em poços subterrâneos.
Esse "bio óleo" pode ser armazenado por cerca de US$ 600,00 por tonelada, um preço que a empresa espera reduzir com o aperfeiçoamento de sua tecnologia. A Charm diz que colocou mais de 5 mil toneladas de dióxido de carbono no subsolo no ano passado para seus clientes, como Stripe e Microsoft. Ela levantou cerca de US$ 25 milhões de investidores, entre eles CEO da Salesforce e Lowercarbon Capital. A Lowercarbon foi lançada pelos investidores de risco Chris e Crystal Sacca e, recentemente, levantou um fundo de US$ 350 milhões para investir em startups de remoção de carbono. Executivos da indústria aguardam um futuro em que as pessoas paguem pela remoção de carbono da mesma forma que pagam pela coleta de lixo e pela água potável. Para chegar a esse ponto, a Climeworks jogou sacos de lixo de 10 quilos no palco durante uma palestra há alguns anos. O envolvimento da indústria de combustíveis fósseis levantou preocupações adicionais entre os céticos.
A Occidental Petroleum, que tem um dos planos mais ambiciosos de remoção de carbono, diz que investirá até US$ 1 bilhão em uma instalação de captura direta de ar com a startup canadense Carbon Engineering. A instalação enterraria parte do carbono subterrâneo e usaria a outra parte para produzir petróleo. A Airbus concordou em comprar créditos de carbono vinculados ao projeto e a United Airlines Holdings está entre seus investidores. A indústria de remoção de carbono é pequena, com menos de US$ 5 milhões em receita no ano passado. Esse número precisará atingir cerca de US$ 1 trilhão até meados do século. Segundo a Stripe, é preciso continuar adicionando zeros a isso até que a remoção de carbono atinja a escala necessária. Os clientes que estão aderindo agora dizem quanto querem gastar pela remoção durante um determinado período. Então, os potenciais fornecedores solicitam parte desse dinheiro detalhando sua tecnologia e preços.
Eles são pagos quando removem o carbono da atmosfera, embora possam receber parte do dinheiro com antecedência. A Stripe concordou anteriormente em pagar entre US$ 75,00 e US$ 2.000,00 por tonelada por US$ 16 milhões em remoções. No início deste ano, ela se juntou a várias outras empresas, em um compromisso de quase US$ 1 bilhão, que se transformou na Frontier. Um grupo semelhante de clientes, o NextGen, foi lançado em maio com a UBS, BCG, a empresa de resseguros Swiss Re, a gigante japonesa de transporte Mitsui O.S.K. Lines e uma financeira de propriedade da família real de Liechtenstein como subscritores. Eles planejam financiar pelo menos um milhão de toneladas de remoção até 2025 a uma média de US$ 200,00 por tonelada de créditos de carbono. Atualmente, a Charm vende créditos a US$ 600,00 por tonelada e a Climeworks também cobra várias centenas de dólares das empresas.
Isso é cerca de 100 vezes o custo de muitos créditos ligados a compensações florestais voluntárias, muitas vezes o que as empresas têm que pagar para mitigar suas emissões nos mercados de carbono obrigatórios que operam na Califórnia (EUA) e na Europa. Os governos também estão tomando medidas iniciais para impulsionar a indústria. A lei federal de infraestrutura dos Estados Unidos aprovada no ano passado incluiu uma disponibilidade de até US$ 3,5 bilhões para o desenvolvimento de quatro hubs regionais para remoção de carbono da atmosfera. Espera-se que a União Europeia proponha regulamentações de remoção de carbono e normas contábeis até o final do ano. Mas, ressalta-se que é frágil o progresso desta indústria e as empresas poderiam cair em uma recessão. Essa é uma possibilidade real que precisa ser considerada. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.