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09/Jun/2022

Transição energética será desigual entre os países

A guerra na Ucrânia reforçou o debate sobre segurança energética e a necessidade da transição verde. Em mais de 100 dias de conflito, União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos impuseram embargos ao petróleo da Rússia, enquanto o governo russo cortou seu fornecimento de gás a outros países europeus. A corrida para diversificar a matriz energética irá ampliar as disparidades no ritmo da transição para energia limpa e custos de combustíveis ao redor do mundo. Com o plano REPowerEU e o objetivo de ter 45% de energia por fontes sustentáveis até 2030, a Europa irá funcionar como um laboratório do que é possível fazer quando se tem condições econômicas, políticas e energéticas para uma transformação mais rápida. Ao mesmo tempo, isso terá custos em outros lugares. Em parte, porque dado seu desejo de se dissociar da Rússia, a Europa está basicamente reduzindo a quantidade de gás disponível no mercado, o que deve refletir nos preços nos Estados Unidos e na Ásia.

Por um lado, ao funcionar como "laboratório do possível", a Europa deve provocar um ganho generalizado com desenvolvimento de tecnologias e investimento em fontes renováveis, com outros países sendo beneficiados enquanto caminham na transição. Mas, ao mesmo tempo, o que esse processo faz é exacerbar as diferenças, ampliá-las em termos de disparidade no ritmo de transição energética. À medida que o mundo se move, já havia velocidades distintas nas quais a transição se dá. Entre investidores, também parece haver uma expectativa de que o trajeto para a economia de baixo carbono se dê em velocidades diferentes mesmo na linha de frente do combate à crise climática, mostra pesquisa do Swiss Finance Institute. O instituto analisou o comportamento de ações de empresas nos dois lados do Atlântico, do fim de janeiro a abril.

Enquanto nos Estados Unidos papéis de companhias expostas a riscos regulatórios e/ou geopolíticos relacionados à transição energética tiveram desempenho melhor, na Europa aconteceu o contrário: as empresas mais preparadas para aproveitar as oportunidades geradas pela economia de baixo carbono registraram melhores resultados. Ou seja, os participantes do mercado anteciparam que a guerra irá desacelerar a transição verde norte-americana, mas não a europeia. Em um cenário no qual o governo norte-americano liberou reservas estratégicas de petróleo e a União Europeia intensificou suas metas sustentáveis, a reação do mercado parece consistente com as diferentes posições políticas. Antes mesmo da crise energética atingir o atual nível, a União Europeia já tinha uma política climática ambiciosa para reduzir o papel dos combustíveis fósseis e acelerar a descarbonização do bloco.

O que a guerra faz é reforçar o valor político e de segurança energética do programa Fit for 55 e suas ambições para que a Europa as priorize ainda mais. Há quatro fatores cruciais que apoiam a aceleração do uso de energia renovável: intenção política, imperativo de segurança energética, setores público e privado dispostos a investir dinheiro e, talvez o mais crucial, apoio popular. Esses fatos não durarão para sempre, mas neste momento criam uma oportunidade para que governos introduzam políticas ambiciosas e tentem criar impulso por trás de políticas de transição energética que poderiam ter sido mais difíceis antes da guerra. A pergunta fundamental é qual a relação entre o que acontece agora e o futuro. Enquanto é necessário garantir energia já para o próximo inverno, que ocorre no fim do ano no Hemisfério Norte, os níveis de carbono continuam a subir. Se nada for feito quanto ao clima, a escala dos problemas será maior haverá menos tempo para lidar com eles.

Medidas mais extremas podem ser adotadas daqui a algumas décadas para atender às metas climáticas. Ao mesmo tempo, é preciso olhar para a economia e os mercados, durante o processo de alto investimento na transição energética. Mesmo com as consequências preocupantes da crise climática no mais longo prazo, a Rystad Energy considera que sua natureza de "baixa frequência" lhe garante uma sensação de menor imediatismo. Em paralelo, cidadãos acompanham diariamente o aumento nos preços de combustíveis e seu impacto no poder de compra. Sobrepostas pela crise de "alta frequência" no setor de energia e durante a retomada econômica pós-pico da Covid-19, as políticas para o clima devem ficar em segundo plano nas prioridades e agendas de seus formuladores. Com previsão de que a invasão russa deve provocar uma terceira crise do petróleo, com reflexo ainda maior nos mercados de gás natural, a Rystad Energy defende que uma transição mais rápida para as energias renováveis se torna necessária para minimizar a insegurança energética, ao menos em alguns países. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.