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09/Jun/2022

Petrobras precisará reajustar o diesel e a gasolina

O reajuste da gasolina e do diesel voltou ao radar da Petrobras. Há 30 dias sem alteração, o preço do diesel no Brasil está descolado dos preços globais desde o início de junho, apesar da alta registrada no mercado internacional. Com a gasolina não é diferente. Há quase três meses com preços congelados, um reajuste é esperado a qualquer momento. Desde 2016, a Petrobras pratica uma política de preços de paridade de importação (PPI), que leva em conta a cotação do petróleo, do câmbio, e os custos de importação para a formação de preços nas suas refinarias. Segundo a Petrobras, a empresa continua com a política de alinhamento com o mercado internacional, mas evita trazer a volatilidade do mercado externo para o País e segue acompanhando o mercado para avaliar a tendência. Mas, de acordo com dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o preço da gasolina nas refinarias brasileiras está com uma defasagem média de 17% na comparação com o preço praticado no Golfo do México.

No final de maio, essa diferença era da ordem de 6%. Se a Petrobras quisesse equiparar os preços hoje, teria que aumentar a gasolina em R$ 0,78 por litro. Na Bahia, onde funciona a primeira refinaria privatizada de grande porte do País, essa diferença é de apenas 7%, já que a Acelen, dona da Refinaria de Mataripe (ex-Rlam), tem seguido à risca a paridade e reajustado seus produtos semanalmente. Mas, para o Instituto de Energia da PUC-Rio, apesar de há mais tempo com os preços congelados, a gasolina não é um grande problema para a Petrobras, apesar de a estatal deixar de ganhar dinheiro ao não reajustar os preços. O déficit interno do produto é de apenas 3%, contra quase 30% do diesel, esse sim um combustível que deverá trazer problemas à companhia e aos brasileiros nos meses de setembro e outubro, quando é previsto o auge da escassez do produto.

Segundo a Abicom, a defasagem média do diesel no Brasil é de 16% nesta quarta-feira (08/06), depois de ter sido zerado em maio. Para equiparar os preços o aumento nas refinarias da Petrobras deveria ser da ordem de R$ 0,98 por litro. Nos postos, o combustível custa em média R$ 7,00 por litro, para insatisfação dos caminhoneiros, que já acenam com uma possível paralisação se o preço tiver novos aumentos. O mercado de petróleo vai continuar pressionado e não há razão objetiva nesse momento para acreditar que vai haver alívio. As sanções contra a Rússia só pioram e a situação tende a continuar muito difícil. O petróleo atingiu, na terça-feira (07/06), o patamar de US$ 120,00 por barril. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia não tem sinais de recuo e o verão do Hemisfério Norte se aproxima trazendo a "driving season" (período de férias) para a mistura de fatores que devem manter o petróleo em alta, impulsionado ainda pela temporada de furacões nos Estados Unidos, que começa em agosto. Só uma recessão muito profunda poderia reduzir a demanda e evitar uma crise global no diesel.

Com o aumento da demanda e o fechamento de refinarias nos Estados Unidos, o diesel disparou no mercado e o chamado crack spread (diferença entre o preço do barril de petróleo e o preço do barril do derivado) se valoriza dia a dia. Segundo projeções da Federação Única dos Petroleiros (FUP), o petróleo poderá atingir o pico de US$ 130,00 a US$ 140,00 por barril no final de junho e início de julho. Com isso, o crack spread pode atingir US$ 200,00 por barril de diesel. No Brasil, além da pressão do mercado, a Petrobras vive uma tensão interna com a demissão atabalhoada do presidente, José Mauro Coelho, com apenas 40 dias no cargo, logo após a saída do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Com as eleições chegando, o governo tem pressa de reduzir o preço dos combustíveis e optou por lotear o cargo com executivos mais ligados às finanças do que ao setor de petróleo e gás.

O candidato ao lugar de Coelho, Caio Paes de Andrade, é especialista em dados e desburocratização e não tem experiência no setor de óleo e gás, o que dificulta a sua aprovação pelos órgãos de elegibilidade da Petrobrás. A demora do reajuste de preços pela Petrobras pode estar relacionada ao imbróglio da redução dos impostos incidentes sobre os combustíveis. O governo tenta aprovar um teto de 17% para o ICMS e anunciou a intenção de zerar o imposto, uma ação que demandaria ente R$ 25 e R$ 50 bilhões ao Tesouro Nacional. A Petrobras está aguardando alguma clareza maior na redução do ICMS no Congresso antes de reajustar, porque nesse caso seria um “morde (reajuste) e assopra (redução de ICMS)”. O reajuste nos preços não deve demorar e está dentro do padrão deste ano. De fato, o congelamento de preços da gestão de Coelho já supera o recorde do general Joaquim Silva e Luna, seu antecessor, que segurou o aumento do diesel por 85 dias. A gasolina está sem reajuste há 89 dias.

Mesmo assim, o represamento dos preços não conseguiu evitar a demissão do militar. Para a PUC-Rio, a Petrobras "está caminhando em ovos" e o reajuste, principalmente do diesel, se faz necessário, não apenas pelo prejuízo que o congelamento do preço causa à companhia, mas para garantir o abastecimento do mercado. Há uma “vilanização” da Petrobras pelo governo e os próximos meses vão ser muito difíceis para a empresa, porque além do preço vai enfrentar problema de suprimento. É legítima e correta a iniciativa de reduzir impostos para amenizar o impacto no bolso do consumidor, mas o governo deveria atacar de forma realista a questão do suprimento de diesel no País, trabalhando o lado da demanda e não apenas da oferta. O governo tem que enfrentar o problema de forma realista. Esconder não dá mais votos, pelo contrário, tem que tranquilizar o consumidor, aumentar estoques, reduzir a demanda. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.