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09/Jun/2022

Inflação: brasileiros mudam os hábitos de consumo

Os brasileiros saíram do isolamento desejando a volta à normalidade, mas se depararam com preços que tornaram, muitas vezes, impossível sustentar o padrão de vida da época em que quase ninguém sabia o significado da palavra "Covid". Com a inflação pesando mais no bolso, as pessoas não só foram forçadas a ser racionais em decisões de compra, evitando extravagâncias, como abriram os olhos a produtos e serviços que caibam no orçamento mais apertado. Hoje, soluções econômicas de mobilidade, como trocar o carro pela moto ou abastecer o automóvel com gás natural veicular, ao invés de gasolina ou etanol, são mais adotadas do que antes da pandemia. Da mesma forma, a volta do turismo vem sendo puxada por viagens dentro do Brasil, principalmente de ônibus, onde o preço mais alto do combustível é rateado entre os viajantes. Da carne bovina para o frango, do frango para o ovo, até o ponto da miséria energética, em que as refeições passam a ser feitas sobre fogo a lenha porque o gás ficou mais caro, a migração de consumo não é exclusividade de um único estrato social, atingindo desde a classe média até as camadas mais vulneráveis da sociedade.

Um dos negócios que mais crescem em tempos de poder aquisitivo corroído pela inflação é o comércio de produtos usados. Do começo do ano passado para cá, são 510 lojas a mais nesse ramo, entre brechós de roupas, calçados e acessórios e comércio de uma variedade de produtos que vão de livros (sebos) a móveis, eletrodomésticos e utensílios domésticos que já tiveram um ou mais donos. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o dado conta apenas uma parte da história. Um número inestimável de produtos é trocado de mãos de forma informal, em transações, inclusive, facilitadas pelos portais de classificados que conectam pessoas em busca de preços baixos com vendedores interessados em fazer dinheiro com produtos que não estão sendo usados em casa. O mercado de usados encontrou solo fértil para se desenvolver no ambiente em que as pessoas travam um cabo de guerra contra a inflação de dois dígitos para esticar o orçamento. A inflação promoveu uma espécie de downgrade (rebaixamento) do poder de compra, e o mercado de usados permite um encontro de interesses.

Ao mesmo tempo em que oferece produtos mais acessíveis ao consumidor, representa uma fonte de renda a quem tem algo a vender. Com três em cada quatro brasileiros imunizados (pelo menos duas doses da vacina contra a Covid), o turismo voltou. Porém, viajar ao exterior é um plano que vem sendo adiado. Em paralelo ao salto do querosene de aviação, as fronteiras internacionais ainda não foram completamente reabertas, ou seja, menor oferta de destinos, o que tornou os valores das tarifas aéreas proibitivas a um número maior de viajantes. Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que os voos internacionais, que antes da pandemia passavam com facilidade de 20% das passagens vendidas nessa época do ano, não conseguiram ultrapassar os 16% do total em nenhum mês de 2022. Agências de viagem, antes acostumadas a ter nos destinos internacionais a maioria dos pacotes vendidos, observaram uma inversão de mix no retorno dos clientes.

Na maioria delas (68%), o turismo doméstico representa, no mínimo, 60% das reservas, quando não toda a movimentação, conforme mostra uma pesquisa feita em abril com mais de 2 mil agências de viagens pela Abav, uma das principais associações do setor. Diante de passagens mais caras, e da estadia também mais salgada por conta de um dólar que vem girando ao redor de R$ 5,00 na média, e não abaixo de R$ 4,00 como era antes da crise sanitária, a saída de muitos turistas no exterior tem sido enxugar o período da viagem, cortando, por exemplo, do roteiro dias dedicados a compras, hospedar-se em locais menos centrais e renunciar aos hotéis de cinco estrelas. A mudança não tem sido apenas a troca do destino da viagem. Por outro lado, nas viagens pelo Brasil, os brasileiros voltaram a usar ônibus após dois anos evitando o transporte coletivo. Ao contrário dos aeroportos, o movimento nas rodoviárias de onde partem passageiros para outros Estados já repete o fluxo de antes da crise sanitária. Em março, como não acontecia desde o início da pandemia, as passagens de ônibus conseguiram superar igual período de 2019.

Passaram de 3,1 milhões nos registros feitos no sistema nacional que monitora o transporte coletivo interestadual e internacional por rodovias, 2,6% a mais do que em três anos atrás. Segundo a Abrati (associação das empresas de transporte terrestre de passageiros), a migração acontece não apenas das pontes aéreas para as rodovias, mas também entre pessoas que trocam o carro pelos ônibus nas viagens a destinos mais próximos. A economia de viajar de ônibus chega a ser de 80%. Opção para quem não topa pagar por passagens aéreas entre três e quatro vezes mais caras do que um ano atrás nas rotas de maior tráfego de passageiros do País, entre elas, São Paulo-Rio de Janeiro, conforme dado da Onfly, a volta das viagens pelas estradas reanimou a indústria de ônibus, que agora vê a retomada dos pedidos na linha de veículos rodoviários, seu filão mais rentável. A produção no segmento, que mais sofreu no isolamento, cresce mais de 50%, correspondendo a 14% de todos os ônibus montados no Brasil. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.