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07/Jun/2022

Petróleo: preços globais devem continuar subindo

Ainda que tenha sido flexibilizado para cobrir demandas de países como Hungria, República Checa e Eslováquia, o embargo da União Europeia (UE) a importações de petróleo da Rússia manterá os preços da commodity energética elevados ao menos até o fim deste ano, impondo mais pressão sobre a inflação global e com consequências para o crescimento econômico e a política monetária de nações desenvolvidas. Aprovado na semana passada, o sexto pacote de sanções da União Europeia contra a Rússia pôs em prática, entre outras medidas, a proibição de importações de petróleo da Rússia por vias marítimas a todos os 27 países do bloco. Entregas por meio de oleodutos foram deixadas de fora do bloqueio, de forma a proteger países que dependem muito da produção russa. O embargo atinge imediatamente dois terços de todas as importações anteriores à medida, com potencial para travar até 90% das compras no bloco até o fim de 2022.

O período para que as entregas de petróleo cru sejam terminadas é de seis meses, enquanto as de produtos derivados têm prazo maior, de oito meses. O ING avalia que a proposta final foi bastante diluída em relação à inicial, que previa banimento completo do óleo russo. Ainda assim, a instituição projeta um corte maior que os dois terços indicados, dos cerca de 2,3 milhões de barris por dia (bpd) importados pela União Europeia até o embargo. Alemanha e Polônia, dois dos principais compradores de petróleo russo via oleodutos, já prometeram reduzir a zero as suas importações até o fim do ano. Para a Eurasia, o embargo parcial ficou aquém das expectativas, mas ainda deve provocar um aperto adicional nos mercados de energia da Europa, à medida que as refinarias locais terão de achar novos fornecedores. O Julius Baer tem visão similar.

À princípio, não é esperado escassez duradoura, já que a Rússia ainda acha seus compradores de petróleo na Ásia. Esse redirecionamento das cadeias de suprimento, é claro, cria atritos, como a formação de novos laços comerciais, viagens mais longas ou transferências de um navio para outro em alto mar, o que causa algumas perdas de suprimento e aumenta os custos comerciais. A capacidade produtiva global está em seu pico, o que deixa o mercado da commodity vulnerável a choques de oferta. Da mesma forma, o Rabobank entende que os ajustes necessários para evitar escassez de energia a longo prazo levarão certo tempo para ocorrer e certamente vão alimentar os preços tanto do petróleo cru quanto de produtos refinados. O Rabobank projeta um cenário em que o óleo chegue ao pico de US$ 170,00 por barril após as preocupações com o surto de Covid-19 na China cessarem, e alerta ainda para o consequente aumento nos preços de combustíveis, item que é dos principais responsáveis pela escalada inflacionária mundial que começou na segunda metade do ano passado e se intensificou com a guerra na Ucrânia.

Dentre os principais impactos do embargo para os mercados, a Capital Economics cita que a manutenção dos custos de energia em patamares altos seguirá alimentando os índices de preços em economias desenvolvidas. Desta forma, bancos centrais serão obrigados a pressionar mais a política monetária e, com isso, juros de títulos governamentais vão subir mais. Leituras de inflação alta na zona do euro, como as divulgadas recentemente, possam ter contribuído para o aumento tanto das expectativas para as taxas de juros quanto para os rendimentos dos títulos na região. Como consequência do aumento dos juros, a Capital projeta mais fraqueza nos mercados de ações. Em Wall Street, o S&P 500 já acumulou baixa de 13,8% em 2022, puxada principalmente por temores quanto à inflação e o aperto monetário iniciado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Por fim, o provável movimento de alta do petróleo beneficiará moedas de países exportadores da commodity, como o dólar canadense, a coroa norueguesa, o peso colombiano, entre outras. Dentre as consequências para o crescimento, o Rabobank diz que a zona do euro deve entrar em recessão técnica entre o fim de 2022 e o começo de 2023, por conta da crise energética. O banco projeta avanço de 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do bloco no acumulado de 2022, mas contração de 0,1% em 2023, de altas de 2,9% e 1,5%, respectivamente, nas previsões anteriores ao embargo. Já a inflação subirá 7,5% neste ano e 3,6% no próximo. Apesar dos claros riscos ao crescimento e à inflação, é improvável que a União Europeia pare com as sanções à energia russa no embargo já aprovado.

Segundo o vice-ministro de Relações Exteriores da Polônia, as autoridades já negociam o sétimo pacote de sanções, que pode incluir medidas para reduzir as importações de gás, uma das principais fontes energéticas de vários países da Europa. A Eurasia avalia que o embargo ao petróleo atrasará um eventual corte nas compras de gás, que não deve ocorrer formalmente antes de 2023. O sétimo pacote de sanções focará nas entregas de petróleo via oleodutos. No entanto, se a política do governo russo que obriga compradores da commodity a pagarem em rublos não afetar os suprimentos de grandes importadores como Alemanha, Itália e Áustria durante o inverno europeu, as conversas ao redor do "desacoplamento energético" podem ser aceleradas. Diante do acordo da União Europeia pelo embargo, havia expectativa por uma resposta à altura da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) para evitar que o mercado da commodity apertasse muito mais.

O cartel, que também se reuniu na semana passada, decidiu elevar o acréscimo mensal da sua oferta a 648 mil bpd para os meses de julho e agosto, antecipando o volume adicional previsto para setembro. O ANZ avalia que a decisão não será suficiente para compensar as perdas na produção russa com o embargo. Os aumentos foram divididos proporcionalmente entre os membros, o que pode fazer com que o aumento real seja menor do que o oficialmente definido. O TD Securities também destaca este ponto, ao afirmar que apenas dois membros da Opep+ (Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos) têm capacidade significativa de aumentar suas ofertas, enquanto muitos países não poderão entregar nada além do que já produzem.

O aumento prometido é muito pequeno quando comparado aos cerca de 100 milhões [de barris que o mundo consome diariamente e a história diz que há uma grande chance de que o grupo produtor não cumpra o que promete. Já o Commerzbank afirma que a decisão de antecipar o volume adicional de setembro para os dois meses anteriores não ajudará a oferta de petróleo no médio e longo prazo. Além disso, com a manutenção da Rússia como aliada formal do grupo, é impossível que a produção da Opep+ cresça significativamente, uma vez que a oferta russa deve reduzir, a menos que seja permitido aos outros membros do cartel aumentar suas produções além do previsto. Na prática, a decisão da Opep+ não fará grande diferença no mercado de petróleo e tampouco aliviará os problemas de oferta recentes, agravados pelo embargo da União Europeia à Rússia. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.