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02/Jun/2022

BC: agenda verde e desafios para manter mandato

No evento “The Green Swan Conference”, promovido pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), pelo Banco Central Europeu (BCE), pelo Banco do Povo da China e pelo Network for Greening the Financial System (NGFS), o Banco Central do Brasil afirmou que há um questionamento sobre a instituição ultrapassar seu mandato em uma agenda verde, em um momento em que há um retorno da inflação e preocupações climáticas. O Brasil está muito conectado com a volatilidade dos preços dos alimentos. A inflação está ficando mais alta e as pessoas estão preocupadas com as questões verdes. O Banco Central avalia tipos de risco terá de tomar. Há risco de sair do mandato (missão da autoridade monetária de manter o nível de preços controlado). Foram citadas as ações da agenda de sustentabilidade do Banco Central, um programa de três anos, criado em 2020, com cinco dimensões. O principal projeto é o “green bureau’ ou bureau verde, que é uma forma de estabelecer critérios sociais, ambientais e climáticas às operações de crédito rural.

Esse projeto está bem avançado e o bureau verde é um piloto para taxonomia verde. Uma segunda parte são os testes de estresse das instituições financeiras com parâmetros verdes. Há um “trade off” entre o curto prazo e o longo prazo, com alguns bancos reclamando que é muita informação no curto prazo. O fato de o Banco Central ter adotado padrões ESG nas reservas internacionais é desafiador, porque o Brasil tem grandes reservas e é preciso ser transparente em relação a isso. Não é sobre disclosure, mas sobre sua qualidade. Há preocupação que tudo seja padronizado e comparável na agenda verde.

Assim, é se faz necessária uma taxonomia e o banco já começou a criar padrões para empréstimos. Os quatro principais pontos para a transição verde da economia são: avançar de forma mais rápida em taxonomia, e o Banco Central precisa liderar esse trabalho. O segundo ponto é que o mercado de carbono é o único caminho para alocar recursos de forma sustentável e de forma eficiente. O terceiro é o melhor uso da tecnologia para a realização da transição verde da economia. O quarto ponto, que é uma questão particular do Brasil, é encontrar formas de monetizar as florestas. Isso ainda não está resolvido e o processo ainda é muito assimétrico, mas é preciso encontrar uma solução global.

Há “alertas vermelhos” por todos os lados na agenda de transição para a economia mais verde, como na crise energética e de alimentos. Existem alguns tipos de protecionismo em áreas de alimentação e energia. No momento, há mais preocupação com a produção de alimentos do que com a crise climática. No caso de energia, pode ser corrigido rápido, com Capex. Serão encontrados recursos alternativos e mais sustentáveis, renováveis. Mas, a questão dos alimentos pode demorar mais. É preciso encontrar eficiência para resolver questões climáticas. A solução é pelo preço, como a criação de um mercado de carbono.

Existe o problema inicial de que os elementos para construir uma economia mais sustentável dependem de fatores e tecnologias que hoje não são verdes. A inflação verde pode se tornar um impedimento para inflação fóssil no futuro. Tecnologia para ter menos inflação fóssil depende de elementos que causam inflação verde. Foi citado também o problema de investimentos, com os preços de commodities nas alturas, sem resposta de aportes de empresas para novos projetos, em virtude da dificuldade de conseguir financiamento em um momento em que os princípios verdes já precisam ser observados. Os bancos não querem emprestar porque está mais caro. O choque atual de commodities produz efeitos positivos para o Brasil, que é exportador desses produtos, mas também cria um problema social devido ao aumento de preços de energia, combustíveis e alimentos.

Há algumas opções para lidar com esse problema. O primeiro é deixar os preços equilibrarem o mercado, reduzindo o consumo. Mas, isso não é socialmente nem politicamente viável. A segunda opção é intervir nos preços, como em vários países neste momento, mas isso pode desencorajar investimentos. É provável que o setor privado resolva o problema, e não o governo. É possível usar o choque positivo provocado pelas commodities, com mais exportações e arrecadação de impostos, para lidar com o problema social, via subsídios. É uma boa solução, mas há o risco de virar uma despesa permanente. No fim, lidar com esse problema é chave. E vai influenciar como essa questão será vista no futuro. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.