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02/Jun/2022

Guerra pode acelerar a transição energética global

A invasão da Ucrânia pela Rússia completa três meses sem sinal de acordo para um cessar-fogo, com consequências desastrosas em termos de vidas perdidas, cidades destruídas e uma economia devastada, com alguns dos maiores polos industriais e portuários ainda nas mãos dos russos. Para a economia mundial, o principal resultado do conflito tem sido a explosão das cotações de petróleo, com preços sustentadamente acima de US$ 100,00 por barril pressionando a inflação e levando a reflexões acerca da redução no ritmo da transição energética e a um consequente aumento nas emissões de carbono. Se antes da eclosão da guerra analistas projetavam o fim da era do petróleo em 30 anos, o avanço nos preços do barril no mercado internacional tem sido um incentivo para a retomada de leilões em diversos países. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) 15 licitações para exploração de petróleo e gás devem ser realizadas ao longo deste ano em países como Indonésia, Malásia, Angola e Estados Unidos.

Para ter uma ideia, houve apenas seis leilões em 202, sendo dois deles no Brasil. Na outra ponta, membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) se recusam a aumentar a produção mesmo com preços mais altos, uma maneira de sustentar as cotações elevadas e a própria exploração de óleo por mais tempo. Essa postura tem beneficiado a Rússia de forma direta. Nos dois primeiros meses da guerra, as exportações russas de petróleo para a União Europeia renderam o dobro do valor faturado no mesmo período de 2021, ainda que os volumes vendidos tenham sido praticamente iguais. No curto prazo, a União Europeia precisará enfrentar um inverno rigoroso sem poder contar com o gás natural russo. O pragmatismo europeu permitiu a reativação de usinas a gás, óleo e carvão, principal alvo dos ambientalistas, e até a uma maior aceitação da energia nuclear, alternativa que vinha sendo rejeitada após o acidente em Fukushima (Japão), em 2011.

O bloco europeu, no entanto, não alterou sua meta para redução das emissões. A tendência é que apenas o prazo para atingi-la seja relativamente esticado, e dobrou a aposta nas renováveis. Prova disso é o RePowerEU, pacote de mais de 300 bilhões de euros lançado para tornar a região independente da energia russa até 2027. O plano prevê 12 bilhões de euros para a construção de estruturas de escoamento de gás natural e infraestrutura de petróleo, mas a maior parte dos recursos será investida em energia limpa e ações de incentivo à racionalização do consumo. O objetivo do plano é que as fontes renováveis atinjam 45% da matriz do bloco até 2030. A explosão dos preços do petróleo e de seus derivados tem sido um duro golpe para os consumidores em todo o mundo, mas, paradoxalmente, ela também favorece a competitividade de tecnologias verdes. Quando tudo está caro, investimentos em baterias, eletrificação, hidrogênio e combustíveis sintéticos para a aviação e transporte marítimo deixam de ser alternativas inviáveis.

Nesse sentido, há quem diga que a guerra entre Rússia e Ucrânia pode até mesmo impulsionar a transição energética. Todo esse contexto traz oportunidades enormes para o Brasil, que tem uma posição de liderança em energia limpa entre as maiores economias do mundo. Este potencial é uma alavanca que pode acelerar o rumo para uma economia de baixo carbono global. Novas tecnologias, como o hidrogênio e amônia verde, podem contribuir até mesmo para reduzir a dependência nacional de importações de fertilizantes. O hidrogênio é a principal aposta da Europa para substituir o gás russo e, eventualmente, pode se tornar um dos principais itens da nossa pauta de exportações. Com algum nível de planejamento e ações coordenadas, o País poderá aproveitar essa janela para finalmente retomar um crescimento econômico sustentável. Que, desta vez, ela não seja perdida. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.