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18/Mai/2022

Desafios para a diplomacia e cadeias de produção

Uma das mais complexas consequências da Covid para a economia mundial foi o "desarranjo" das cadeias produtivas cujos componentes eram fabricados em diversos países. Problemas com a logística (falta de contêineres, de navios e mesmo de caminhões), fábricas fechadas ou falidas, contratos perdidos, entre outras, foram causas determinantes da falta de matérias-primas ou partes de equipamentos e/ou insumos para o campo aqui no Brasil. Esta circunstância ficou clara nas grandes feiras agropecuárias que vêm sendo realizadas este ano em todo o País. Em primeiro lugar deve ser dito que, depois de dois anos sem feiras com presença física, o comparecimento de produtores tem sido espetacular.

E o reencontro é saudado com grande alegria. Em segundo lugar, o entusiasmo com o setor tem resultado em encomendas e compras, sobretudo de máquinas e equipamentos, muito acima das previsões mais otimistas. O faturamento dos expositores bate recordes sucessivos. Evidente que isto se deve em grande parte às inovações trazidas pelos fabricantes, com tecnologias de ponta apresentadas aqui ao mesmo tempo que nos países desenvolvidos, sobretudo no quesito digitalização. E à capitalização dos produtores rurais. No entanto, muitas compras só serão entregues em alguns meses, isto é, nem tudo o que é vendido está disponível: faltam peças, componentes, eventualmente pneus, o que pode afetar a atividade rural. Este não é um problema brasileiro. Está acontecendo no mundo todo.

E está gerando uma possível mudança importante nos sistemas integrados dados pela globalização: é o que se chama "nearshoring", neologismo para indicar que os fabricantes estão buscando a produção/oferta dos componentes de suas máquinas o mais próximo possível da unidade industrial terminadora do produto final. Isso pode representar uma significativa transformação da globalização como estava funcionando até antes da tragédia da pandemia. Mas apenas no âmbito empresarial, privado. Como estas mudanças afetarão as economias de países que perderão seu papel de produtores de matérias-primas/componentes? E como agirão os governos destes países? Ou os dos países que substituirão os perdedores?

No caso brasileiro, é interessante colocar o tema neste ano eleitoral. Os candidatos aos cargos eletivos, em especial à Presidência da República, à qual está afeto o trabalho sempre eficiente do Itamaraty nas relações internacionais, deveriam olhar a questão para montarem seu plano de governo sobre esta variável. Como ficarão nossas relações com estes países? Aliás, não apenas com eles, mas como vamos nos relacionar com antigos parceiros com os quais houve um certo esfriamento (casos de França, Canadá e até a Alemanha)? E com a Argentina? E com a importantíssima China, nosso maior mercado agro? Como agiremos no âmbito do Mercosul, em especial no que diz respeito à TEC (Tarifa Externa Comum), principalmente diante de mecanismos de combate à inflação?

O que vai acontecer com os Brics, inclusive em função da guerra na Ucrânia? E como isso tudo impactará investimentos exteriores no Brasil, tão necessários para o avanço da logística e da infraestrutura? Ou até mesmo a desejada entrada do Brasil na OCDE? Todas estas questões terão alguma influência neste rearranjo empresarial do "nearshoring", fundamental para o suprimento aos agricultores de insumos e equipamentos modernos que tornem mais competitiva a atividade. Seria muito interessante ouvir os candidatos a este respeito. Fonte: Roberto Rodrigues. Broadcast Agro.