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17/Mai/2022

Desaceleração na China impacta economia global

Se a China tropeça, o mundo todo sente o impacto. E a China está tropeçando. A política de tolerância zero contra a Covid-19, com lockdowns espalhados pelo país, acenderam o alerta para a redução da atividade na segunda maior economia do mundo. Cidades completamente fechadas significam redução das importações e inviabilizam as exportações, sobretudo de bens industriais, o que pode pressionar ainda mais a inflação e reduzir a atividade econômica em todo o mundo. Apenas com o lockdown em Xangai, estima-se que a venda de carros na China tenha despencado 48% em abril, na comparação com igual período de 2021. A cidade é responsável por 3,8% do PIB chinês, mas tem o maior porto de contêineres do mundo. Em abril, a Apple informou que a situação na China pode lhe custar entre US$ 4 bilhões e US$ 8 bilhões em vendas perdidas.

Diante do cenário, a Santander Asset reviu sua estimativa de PIB para a China de 5% para 4,6%. O Itaú Unibanco, de 5% para 4,7%. Somado aos impactos da guerra na Ucrânia e da alta dos juros nos Estados Unidos, a política chinesa contra a Covid-19 deve desacelerar a economia global para algo em torno de 3% (número considerado ruim para o PIB global). Pelo tamanho da China, se ela crescer 4,5% já tem um efeito ruim. Isso não seria tão problemático se não houvesse tanta dúvida em relação à alta dos juros nos Estados Unidos. Mas, as duas locomotivas do mundo estão com questões que significam menos crescimento nos próximos 18 meses. A pressão inflacionária da interrupção das cadeias de produção chinesas também pode levar o Fed (banco central norte-americano) a elevar mais rapidamente os juros, reforçando a desaceleração global.

A desaceleração da economia chinesa terá impacto também na economia brasileira. A dificuldade de importar produtos da China, principalmente insumos para a indústria, se reflete nos preços e deve contribuir para manter a inflação em alta. Segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), já há reflexos nos custos dos produtos vindos do exterior. Em abril, os preços das importações, em dólares, subiram 34,4%, com recuo de 6,9% nas quantidades. Em março, os preços já tinham aumentado 29,5%. O impacto desse lockdown na China é muito mais inflacionário. Para a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a combinação dos novos lockdowns na China com estragos provocados pela guerra entre Ucrânia e Rússia deve levar a um mundo com inflação mais elevada por mais tempo. Se antes havia dúvidas de que o processo de reorganização das cadeias produtivas se completaria este ano, hoje parece muito improvável que isso ocorra. Em algumas empresas, o efeito do lockdown chinês já é sentido na pele.

A Ecosan, fabricante de equipamentos para tratamento de efluentes domésticos e industriais, importa da China componentes como chapas de inox e produtos químicos para o tratamento de água e recuperação de efluentes. Normalmente, os bens levavam de 45 a 60 dias para chegar ao Brasil, prazo que passou a 100 dias após a pandemia. Agora, com o novo lockdown, pode chegar a 120 dias. Com o recente lockdown, ficou ainda mais difícil manter as entregas, além de os preços terem subido muito. A Ecosan tem muitos itens à espera de embarque, o que tem levado a reprogramações constantes na linha de produção. Segundo a Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), a indústria farmacêutica contabiliza um atraso de cerca de 20 dias na entrega de matérias-primas compradas da China. Neste momento, há atraso na produção, mas ainda não há desabastecimento. A indústria farmacêutica nacional importa 90% das matérias-primas, e a China é hoje o principal fornecedor, seguido pela Índia.

Os problemas de fornecimento também são vistos no comércio, como na Rua 25 de Março, centro de comércio popular de São Paulo. Os lojistas estão se desdobrando para garantir as mercadorias. O problema só não é ainda tão preocupante porque, neste momento, a demanda não está tão aquecida. Segundo a Whirlpool América Latina (dona das marcas Brastemp e Consul), o problema dos lockdowns na China só não é maior porque a economia brasileira está muito desaquecida. Já houve, no passado, mais problemas por falta de componentes. No momento, não há problemas porque o volume de vendas caiu no Brasil. Mas, existem outros setores que estão sofrendo muito, como a indústria automobilística. É provável que, por conta de tudo que vem acontecendo no mundo, haverá uma diminuição da concentração dos fornecedores de insumos num só local, no médio e longo prazos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.