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09/Mai/2022

Preços de commodities podem arrefecer em 2023

O choque de alta nas cotações de commodities nos últimos meses, com a guerra na Ucrânia encontrando um cenário já pressionado por efeitos prolongados da crise causada pela Covid-19, pode servir de impulso para o crescimento econômico do Brasil este ano, por causa das exportações e seus efeitos financeiros, mas o vento poderá mudar em 2023, primeiro ano do próximo governo. Diversos economistas consideram em seus cenários de médio prazo uma perda de impulso no próximo ano. O 'Commodity Markets Outlook', relatório divulgado semana passada pelo Banco Mundial, projeta alívios nas cotações das matérias-primas, em 2023 e 2024, embora destaque que o choque de alta de preços causado pela guerra na Ucrânia é o maior desde as duas crises do petróleo nos anos 1970. Nas projeções do Banco Mundial, as 'commodities energéticas' deverão experimentar uma queda média de cotações de 12,4% em 2023 e de 11,9% em 2024. Já as 'commodities não energéticas' deverão ter um recuo médio de preços de 8,8% no próximo ano e de 3,2% em 2024.

Na mesma linha, relatório do Bradesco divulgado na semana passada prevê um quadro de preços de commodities pressionados no curto prazo, mas com um alívio esperado no médio prazo. Os preços globais das matérias-primas medidos pelo índice CRB estão em média 35% acima dos valores indicados pelos fundamentos da economia global, como oferta e demanda. Recentes revisões de cenário citaram a moderação nas cotações de commodities a partir de 2023. No mês passado, o Itaú revisou a projeção de crescimento econômico no Brasil em 2022 para 1,0%, ante a leve alta de 0,2% estimada anteriormente, mas baixou a estimativa de 2023 para apenas 0,2%, ante 0,5% anteriormente, considerando os juros mais elevados e a expectativa de alguma queda de preços de commodities. A MB Associados fez movimento semelhante. Elevou a projeção de crescimento econômico deste ano de zero para 0,5%, mas cortou a estimativa de 2023 para também 0,5%, ante o 1,2% projetado anteriormente. A perda de força esperada nas cotações de commodities é um dos elementos que levou a MB Associados a reduzir a projeção para o próximo ano.

Há dois elementos centrais, um doméstico e um externo, para justificar esse crescimento fraco no ano que vem, abaixo de 1%. O externo é um crescimento mais fraco, uma economia norte-americana talvez em recessão. Isso por si só já jogaria preço de commodity para baixo, especialmente petróleo e commodities metálicas. No Brasil, o cenário é de juros. Mais otimista, o mais recente boletim de projeções macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado no fim de março, estima que crescimento econômico de 1,1% em 2022, seguido de um avanço de 1,7% em 2023. O cenário considera a normalização dos preços de commodities após a resolução do conflito na Ucrânia, a manutenção da sustentabilidade da dívida pública nacional e a melhora da pandemia de Covid-19. O cenário de 2022, de curto prazo, considera que a guerra da Ucrânia tenha efeito e alta sobre preços de commodities. Em 2023, o cenário de referência é de que a guerra vá acabar e vá voltar à normalidade. A projeção considera commodities com preços normais. O arrefecimento esperado nos preços das commodities deixa de alavancar segmentos produtores e exportadores, mas, por outro lado, permitiria que a inflação convirja para a meta perseguida pelo Banco Central (BC) em 2023, abrindo espaço, assim, para reduções na taxa básica de juros.

O Ipea espera que a Selic permaneça em 12,75% até o fim de 2022, e, a partir de 2023, seja reduzida até fechar o ano em torno de 9%. Seguindo esse raciocínio, a LCA Consultores vê um saldo positivo, no médio prazo, com uma mudança no cenário para as cotações de commodities. No curto prazo, a correção para baixo nas cotações é desfavorável para a atividade econômica, mas, depois, pode favorecer o crescimento se vier acompanhada de alívio na política monetária. Quando se considera que a reversão na alta das cotações de matérias-primas alivia a política monetária no Brasil, olhando num horizonte mais distante, se a política monetária não for tão apertada ou começar a ser aliviada, isso tende a ajudar a atividade, embora não imediatamente. No momento, o crescimento econômico do País já enfrenta restrições por causa da política monetária, pois o Banco Central começou a subir os juros antes dos demais países, e o fez de forma rápida. Por isso, o efeito deflacionário do alívio nas cotações das commodities tende a ser mais importante do que sua retirada de impulso para a atividade econômica.

Para a MB Associados, além da perda de impulso por causa da acomodação nas cotações de commodities e dos reflexos na política monetária nacional, há ainda um terceiro elemento: o cenário político diante das eleições gerais de outubro. As adversidades passam tanto pelas incertezas sobre como será a eventual da transição, diante de ameaças de não reconhecimento de resultados das urnas, quanto pelo quadro do primeiro ano do próximo mandato, que determinará que tipo de reformas eventualmente esse próximo presidente vai conseguir ou poder fazer. A questão é que o Brasil está mantendo um padrão de crescimento medíocre, que mal consegue repor o crescimento populacional. Nos quatro anos do governo Bolsonaro, o que se vê é queda de PIB per capita. Não vai conseguir cobrir nem o crescimento da população nesse período. Na verdade, está virando de fato uma estagflação. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.