ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

02/Mai/2022

Aperto monetário nos EUA e estagflação no Brasil

O risco de um aperto monetário maior do que o atualmente precificado pelo mercado nos Estados Unidos acendeu um sinal de alerta também para as perspectivas de atividade e inflação no Brasil em 2023. Economistas alertam que um juro terminal muito acima do nível de 3,0% atualmente precificado traria a ameaça de um quadro de estagflação para o País no ano que vem. Os cenários apresentam divergências, mas a maior parte dos especialistas afirma que uma taxa dos Fed Funds próxima de 5,0% seria suficiente para causar no mínimo uma forte desaceleração da atividade global e, consequentemente, uma reversão dos preços de commodities, com prejuízos ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Ao mesmo tempo, a aversão ao risco reduziria os fluxos de capitais para países emergentes e tenderia a provocar um processo de enfraquecimento do Real, com impactos sobre a inflação brasileira. Em um cenário de dólar mais forte e Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pressionado, o Banco Central (BC) teria de no mínimo postergar o início do ciclo de cortes da taxa Selic, previsto pela maioria do mercado a partir do segundo trimestre de 2023.

O Credit Suisse foi a primeira casa a alertar para o potencial de deterioração do cenário brasileiro caso o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) conduza um aperto mais forte. O banco pontua que uma alta dos Fed Funds até o nível de 4,5% (acima do cenário-base, de 3,25%) seria suficiente para aumentar o IPCA de 2023 dos 4,4% agora estimados para 4,9%, acima do teto da meta (4,75%). Há chance crescente de o Fed ter de apertar a política monetária mais do que está sendo precificado pelo mercado. Um aperto mais intenso dos Fed Funds, até o nível de 6,0%, já seria suficiente para produzir um IPCA acima do teto da meta também em 2024. A percepção de chance crescente de uma disparada de juros nos Estados Unidos, com consequências graves para a inflação e atividade no Brasil, é compartilhada pelo Santander Asset. Embora o cenário-base da gestora ainda aponte para juros terminais de 3,5% em 2023, a confiança na premissa hoje é de média para baixo.

No cenário alternativo, os Fed Funds avançariam a um nível próximo de 5,0%, suficiente para provocar estagnação ou recessão dos Estados Unidos no ano que vem. A desaceleração da atividade global geraria alívio dos preços de commodities, mas, com o enfraquecimento esperado para o Real, o efeito líquido deveria ser inflacionário. Enquanto a tendência seria de um IPCA acima do atualmente previsto pela gestora em 2023, de 4,2% com viés de alta, a combinação de commodities para baixo, PIB global mais fraco e ambiente mais hostil para emergentes teria impactos negativos para a atividade. A piora do quadro inflacionário também poderia ao menos atrasar o ciclo de corte da Selic, atualmente com início previsto no segundo trimestre. Isso é claramente um grande sinal negativo para o PIB do Brasil. Se isso ainda reverbera em cima de inflação, e talvez seja o motivo para o prognóstico de inflação ser mais carregado, é um duplo sinal negativo para a atividade. O Santander espera alta de 1% do PIB no ano que vem. Mas, isso certamente levaria a revisar para baixo esse número.

Para a XP Investimentos, um aumento dos juros norte-americanos a um nível moderadamente contracionista, em até 4,0%, poderia ter efeitos benéficos para o controle do IPCA, devido ao componente de inflação "importada" pelo País. Mas, um aperto muito mais forte, a um patamar acima de 5,0%, deveria gerar pressões de preços no Brasil e um sinal para baixo na atividade. O nível de juros nos Estados Unidos passa a ser muito alto, tem impacto no fluxo de capitais, e a rodada de depreciação de ativos e de desvalorização cambial no Brasil passa a ser relevante. O dólar poderia voltar ao nível de R$ 5,50. Esse cenário limita o espaço para cortar a Selic no ano que vem, em meio a um quadro de recessão global que também pode prejudicar o PIB brasileiro. A Constância Investimentos alerta que o quadro poderia resultar em uma nova rodada de aperto da Selic. O problema é que o Banco Central já perdeu a meta em 2021, vai perder em 2022 e caminha para perder em 2023.

Se a meta é descumprida por muitos anos, tem um incentivo para subir mais os juros. No cenário-base, a Selic é de 13,25% no fim deste ano e de 10,5% no próximo, com um IPCA de 4,56% em 2023. A Greenbay Investimentos afirma que os efeitos de descompressão nos preços prevaleceriam sobre uma depreciação do Real, em um cenário de Fed mais hawkish e desvalorização das commodities. Embora reconheça que os juros norte-americanos contracionistas possam levar o dólar a um nível entre R$ 5,20 e R$ 5,30, a gestora afirma que o ambiente é favorável ao Banco Central, por já estar à frente na política monetária, com inflação próxima do pico. De fato, o Fed ser mais agressivo pode atrapalhar o câmbio, mas é preciso lembrar que o movimento para R$ 4,70 foi muito recente e sequer foi visto os efeitos na inflação. A Greenbay Investimentos afirma que não vê estagflação em 2023. O Brasil vai estar com a atividade de fato desacelerando, mas com uma normalização das condições econômicas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.