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29/Abr/2022

Dólar sofre recuo no Brasil na contramão do exterior

Uma melhora do apetite ao risco no ambiente externo, com diminuição dos ganhos da moeda norte-americana e alta firme das bolsas em Nova York, tirou pressão do dólar no mercado doméstico de câmbio nesta quinta-feira (28/04), véspera da formação da última taxa Ptax de abril. Indicadores domésticos como arrecadação e resultado do governo central foram monitorados, mas não tiveram impacto relevante na formação da taxa de câmbio. Pela manhã, o dólar rompeu a barreira dos R$ 5,00 e atingiu máxima da sessão a R$ 5,04 (+ 1,57%), acompanhando a escalada da moeda no exterior. A divisa, porém, perdeu força. Com trocas de sinais, firmou-se em terreno negativo na última hora de pregão e fechou a R$ 4,93, em queda de 0,55%. Parte da perda de fôlego do dólar pode ser atribuída à realização de lucros intraday e ao início da rolagem de posições no mercado futuro. Com a queda desta quinta-feira (28/04), a moeda marcou o segundo dia consecutivo de baixa.

Mesmo assim, ainda acumula valorização de 2,81% na semana e de 3,75% no mês. Para o Banco Ourinvest, a queda do dólar foi por motivo técnico, com operadores ajustando posições, já que esta sexta-feira (29/04) é o último dia útil do mês. Não tem explicação econômica para essa virada durante a sessão porque o quadro ainda é de pressão sobre o Real, por conta dos ruídos políticos locais e expectativa de aumento de juros nos Estados Unidos na próxima semana. Após o movimento rápido e intenso de repreficação do dólar no mercado doméstico, com alta de 8% em três pregões (22, 25 e 26 de abril), a moeda parece passar por um período de acomodação e sem forças para se firmar acima de R$ 5,00. Parece ter ficado para trás o momento mais agudo de redução de posições vendidas (que apostam na queda do dólar) no mercado futuro por parte de fundos locais.

O momento de maior pressão sobre o Real veio na esteira do fortalecimento expressivo da moeda norte-americana no exterior. O índice DXY (que mede a variação do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes) atingiu 103,928 pontos, no maior nível em 20 anos, com tombo do euro e, sobretudo, do iene, após o Banco Central do Japão manter sua taxa de depósito negativa em -0,1%. A queda inesperada do PIB dos Estados Unidos no primeiro trimestre não abalou as expectativas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não apenas vai pôr o pé no acelerador, com alta da taxa básica norte-americana em 0,50% na semana que vem (dia 4 de maio), como vai levar a política monetária para o campo restritivo até o fim deste ano. O PIB norte-americano caiu 1,4% no terceiro trimestre (ritmo anualizado), na contramão da alta de 1% esperada por analistas. Segundo a Blue 3, o Fed já mostrou que vai ter uma postura mais dura no combate à inflação, tanto na dose dos juros quanto na velocidade do ajuste.

O ciclo de alta deve ser mais rápido. Sinalizaram aumento de 50 pontos-base na reunião da semana que vem e boa parte do mercado já aposta 75 pontos na próxima reunião. A busca pela moeda norte-americana no exterior também é alimentada pelo receio de um recrudescimento das tensões entre Rússia e Ocidente. A Rússia anunciou corte do fornecimento de gás para Polônia e Bulgária na quarta-feira (27/04 e aumentou a intensidade dos ataques à Ucrânia, o que tem prejudicado o euro, nos menores níveis em cinco anos. Há também preocupações com a desaceleração da economia chinesa, diante da possibilidade de adoção de mais medidas restritivas para conter a Covid-19. A combinação de alta juros mais rápida nos Estados Unidos e perspectiva de encerramento do aperto monetário no Brasil no mais tardar em junho, aliada ao aumento da instabilidade provocada pela aversão ao risco no exterior, tende a tirar um pouco de atratividade do carry trade. Os dados do fluxo cambial já mostram uma desaceleração da entrada de recursos.

Segundo dados da B3, os investidores estrangeiros retiraram R$ 2,498 bilhões da bolsa doméstica na última terça-feira (26/04), levando a saída em abril para R$ 4,322 bilhões. Em 2022, a entrada de capital externo é de R$ 61,005 bilhões. A JF Trust vê dólar para cima nos próximos meses com aumento do risco doméstico e piora dos fluxos estrangeiros, tendência já vista pela saída de US$ 4 bilhões pelo canal financeiro no primeiro trimestre. Na ausência de intervenção robusta do Banco Central, a avaliação é de que o movimento do dólar ainda seria de alta superior a R$ 5,00 nos próximos meses, na medida de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos e correção do mercado acionário, mas também pela proximidade da eleição presidencial e a imprevisibilidade da política econômica 2023. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.