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22/Abr/2022

Crédito Rural: bancos privados avaliam alternativas

Distribuir mais recursos de depósitos à vista para o agronegócio, tal qual se discute entre governo, setor e instituições financeiras, pode ser vantajoso para os bancos privados, a depender da proporção do ajuste da exigibilidade (hoje 25% devem ser destinados ao setor) e do tempo que o governo dará aos bancos para preparar sistemas e agências. Ainda que seja apenas uma parcela das carteiras rurais: no Banco do Brasil, de pouco mais de 11%, no Bradesco 28%, o dinheiro oriundo dos depósitos à vista tende a trazer aos bancos um spread (ganho sobre o custo do dinheiro) maior em 2022 do que linhas com taxas de mercado. Isso porque nos depósitos à vista não há custo de captação, já que correntistas não são remunerados por deixar o dinheiro em conta corrente, enquanto em linhas comerciais existe custo de captação e a concorrência limita o spread aplicado.

Se o governo mantiver a taxa de linhas de custeio para médios produtores em até 5,5%, por exemplo, a remuneração da instituição financeira será esta, enquanto ao dar empréstimo com recurso de tesouraria e taxa de juros de mercado, seu custo será no mínimo a Selic (11,75% ao ano) e o spread, de 3% a 5% ao ano. Segundo o Bradesco, com os recursos de tesouraria não adianta colocar spread mais alto se o concorrente coloca 3% ou 5%. O spread dos recursos livres (taxas de mercado) tem limite de dois lados: para baixo, porque pode não valer a pena para o banco, e para cima, porque existe a concorrência, reforça o Santander. Executivos de bancos com atuação no agronegócio reconhecem a necessidade de mais recursos para o setor neste ano, marcado por Selic e custos de produção em alta, quebra de safra e escassez orçamentária do governo para garantir montante maior de crédito com taxas subsidiadas. Contudo, fazem ressalvas sobre o modo como o governo vai tentar tornar viável essa maior oferta.

O Bradesco pondera que o Banco Central precisa avaliar a capacidade de os bancos de cumprirem a distribuição de recursos conforme as "subexigibilidades", ou seja, do total dos depósitos à vista que precisa ir para o agro, 22% deve ir para a agricultura familiar (por meio do Pronaf), 28% para os médios produtores (via Pronamp) e 50% para os "demais" produtores, de maior porte. Às vezes não é que o banco não queira emprestar, mas não tem estrutura e capacidade de aumentar a distribuição tão rápido. Alguns ainda estão com dificuldade para aplicar recursos pelo Pronaf, porque há muita exigência e demanda seguro pelo Proagro (programa de apoio a pequenos e médios produtores). Existe a possibilidade de, caso o percentual de exigibilidade aumentar muito, os bancos não conseguirem cumprir com os percentuais e terem de pagar multa. O Itaú BBA fez observação semelhante. É preciso ressaltar que na safra 2019/2020 houve uma alocação de recursos para o Pronaf muito além da demanda, e isso gerou um volume de multas aos bancos.

A distribuição de um percentual maior dos depósitos à vista é possível de ser feita, dependendo da intensidade do aumento e desde que produtores e bancos conheçam as regras com antecedência. A expectativa é conhecer as condições gerais do Plano Safra no início de maio. Aí será possível organizar os canais de distribuição, para já a partir do começo de julho fazer a distribuição. Não se pode deixar para última hora e chegar em um cenário muito ruim de os canais de distribuição não estarem preparados para levar os recursos até a ponta. O Banco do Brasil afirma que, em um cenário de elevação do percentual de depósito à vista que vai para o setor, teria condições de aplicar o montante previsto para Pronaf, Pronamp e demais produtores por meio de sua própria rede de agências, sem precisar fazer depósitos interbancários (DIR) para outras instituições financeiras. O Banco do Brasil aplicará todo o recurso que a ele for destinado para o plano safra 2022/2023. No Rio Grande do Sul, o Banrisul calcula que para a safra 2022/2023 o banco precisaria oferecer cerca de 50% a mais do que o anunciado para o ciclo 2021/2022, R$ 5,2 bilhões, ou seja, um total de R$ 7,5 bilhões, para financiar a mesma área.

O banco não detalhou o peso de cada fonte de sua carteira, mas destacou a poupança como um grande diferencial. O banco está "sobreaplicado" em poupança rural, o que significa que destina ao setor mais do que os 59% determinados pelo Bacen. Os recursos são emprestados com taxas equalizadas, controladas e livres. Ao mesmo tempo em que o total necessário para financiar o agronegócio aumentou de 40% a 50%, acompanhando os custos maiores, os agricultores do Rio Grande do Sul perderam 40% ou mais da safra e terão de renegociar o pagamento de dívidas. Mais de 70% dos produtores atendidos pelo banco são pequenos e médios. O montante necessário aumentou e será uma decisão difícil do governo, diminuir a quantidade de recursos do Plano Safra para gastar mais com equalização (mantendo as taxas mais baixas que as do mercado) ou aumentar a taxa para oferecer o mesmo montante. Este ano será um dos piores momentos para ter esse tipo de conversa, uma referência às perdas registradas no Rio Grande do Sul. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.