ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

22/Abr/2022

Crédito Rural: depósitos à vista são uma alternativa

Origem de aproximadamente 25% do crédito rural contratado na safra 2021/2022, o dinheiro proveniente de depósitos à vista pode crescer de forma considerável na temporada 2022/2023, que começa em 1º de julho. Entidades do setor, governo e bancos discutem a possibilidade de elevar o percentual destes depósitos que obrigatoriamente vai para a agropecuária com taxas controladas (com e sem equalização), a chamada exigibilidade, hoje de 25%. Além disso, o saldo médio dos depósitos à vista nos bancos de julho de 2021 a janeiro deste ano, dado mais recente do boletim do Departamento de Regulação, Supervisão e Controle das Operações do Crédito Rural e do Proagro (Derop) do Banco Central, está aproximadamente 18% superior ao de um ano atrás. O governo toma por base o período de julho de um ano a junho do ano seguinte para calcular o montante disponível para a safra.

Os depósitos à vista vêm crescendo 15%-16% de uma safra para outra nos bancos, o que significaria mais 16% de crédito rural (desta fonte). Com o aumento de exigibilidade de 25% para 30%, os bancos teriam mais 40% de recursos (de depósitos) para emprestar, ponderou o Itaú BBA. A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) solicitou, na sua primeira proposta para o Plano Safra 2022/2023 apresentada à Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, o aumento da exigibilidade dos depósitos, inicialmente para 34%, e da poupança rural dos atuais 59% para 65%, números passíveis de negociação. A perspectiva é de elevação do percentual, pois o Ministério da Agricultura avalia propor ao Banco Central 27,5% ou 30% dos depósitos para o crédito rural, o que representaria um aumento de 10% ou 20% de recursos vindos desta fonte. Um maior percentual dos depósitos à vista para o segmento rural aumentaria a oferta de crédito com taxas controladas em um momento desafiador para o agronegócio, marcado por Selic e custos de produção em alta acentuada e restrições orçamentárias do governo.

A Selic, que influencia diretamente os juros dos empréstimos, passou de 2,75% há um ano para 11,75% ao ano hoje e há perspectiva de novos reajustes. Ao mesmo tempo, mais de R$ 24 bilhões do Plano Safra corrente, o 2021/2922, estão congelados desde o início de fevereiro porque, com a escalada da Selic, os recursos para equalizar as taxas de juros de algumas linhas se esgotaram mais cedo. O governo tentará aprovar na semana que vem o PLN 1, que prevê crédito suplementar de R$ 2,57 bilhões para o Executivo, incluindo R$ 868,5 milhões para equalização das taxas. Tomando por base o mais recente boletim Derop do Banco Central, publicado em março com dados até janeiro, o saldo médio de depósitos à vista nos bancos, de R$ 341,3 bilhões (média de julho de 2021 a janeiro de 2022), supera em 18,4% o saldo médio de igual período um ano antes (julho de 2020 a janeiro de 2021). Se o Plano Safra 2022/2023 fosse lançado hoje, considerando uma exigibilidade de 25%, haveria aproximadamente R$ 85 bilhões para o crédito rural proveniente dos depósitos, cerca de 42% a mais do que os R$ 60,044 bilhões contratados na safra 2020/2021 oriundos dessa fonte, conforme o boletim Derop.

Se o percentual de exigibilidade for elevado para 30%, o montante subiria para pouco mais de R$ 102 bilhões, 70% a mais que no ano anterior. No Banco do Brasil (BB), maior financiador do setor agropecuário no País, os depósitos à vista de julho do ano passado a março deste ano ficaram 25,4% mais altos que o montante do período de julho de 2020 a março de 2021. O cálculo para a safra 2022/2023 vai considerar os depósitos até junho deste ano, o que pode alterar o número até lá. Os depósitos à vista representavam 11,2% da carteira de agronegócio do Banco do Brasil em dezembro de 2021, de R$ 248 bilhões, ou R$ 29,045 bilhões. Já a poupança rural correspondia a 58,4% do montante. Apesar da indefinição sobre as regras e condições para o próximo Plano Safra, o Banco do Brasil tem mantido sua perspectiva de crescimento da carteira rural em 2022 em 10% a 14%.

Já em relação à oferta de crédito na safra 2022/2023, o banco não fala em percentuais, mas em expectativa bastante positiva, tendo em vista a forte demanda no País. Os esforços para continuidade da retomada econômica mundial, aliados aos estoques globais reduzidos, seguirão favorecendo o setor. Executivos de bancos privados não descartam a possibilidade de o montante proveniente dos depósitos à vista ficar semelhante ao da safra passada, caso não haja aumento da exigibilidade. As altas da Selic desde o início do ano, argumentam, tendem a levar correntistas a sacarem dinheiro da conta corrente para aplicar em papéis de renda fixa, que rendem semelhante à Selic e têm liquidez. O dinheiro dessa fonte, dos depósitos, tende a cair porque todos os bancos estão oferecendo CDB com liquidez diária e taxa Selic. Segundo o Santander, para o cálculo do Plano Safra (2022/2023) o montante pode ficar estável.

Serão considerados os depósitos de julho de 2021 a junho de 2022. O Bradesco também avalia a possibilidade de o montante proveniente desta fonte para a safra 2022/2023 ser semelhante ao da safra passada, considerando a perspectiva de queda até junho. O saldo dos depósitos à vista vinha crescendo porque os programas emergenciais também colocaram dinheiro na conta. Se o governo não mexer no percentual de exigibilidade, o Bradesco deve oferecer a mesma quantidade de recurso. Apesar de divergirem sobre o tamanho do aumento das taxas de juros do próximo Plano Safra, executivos concordam algum ajuste será feito. O Bradesco estima entre 1% e 2% pontos de incremento em todas as linhas, sem que a maior taxa de custeio chegue aos 10% ao ano. É provável que o governo não vai querer chegar em dois dígitos de taxas, vai calibrar até uns 9,5% ao ano para os chamados grandes produtores, e de 5% a 6,5% para os pequenos.

O produtor está acostumado com taxa de um dígito, quando passa disso fica mais criterioso. O Santander não acredita que essas taxas vão subir. O governo deve elevar de 1% a 1,5% na linha dos grandes produtores, para compensar o que vão ter de pagar na equalização das taxas do Pronamp e Pronaf. O Itaú BBA espera uma redução no montante a ser ofertado com taxas equalizadas, tendo em vista que a acentuada alta da Selic no último ano elevou a quantidade de dinheiro demandada do governo para garantir a mesma remuneração aos bancos. Dado que a oferta de dinheiro é limitada para fazer equalização, o que veremos para o próximo Plano Safra será uma diminuição das linhas equalizadas, porque cada real equalizado está custando muito mais caro para o governo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.