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07/Abr/2022

Impacto das medidas contra mudanças climáticas

Conforme o último relatório climático das Nações Unidas (ONU), a economia global tem as ferramentas necessárias para cumprir as metas do acordo de Paris de 2015, mas a tarefa fica mais difícil a cada ano que passa. Os cientistas participantes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) afirmaram que as emissões de dióxido de carbono devem ser reduzidas pela metade até 2030, a partir de 2019, para manter o aquecimento global em até 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, e que quedas rápidas do preço da energia renovável poderiam ajudar a tornar isso possível. O relatório ainda apresenta com mais detalhes como seria essa transição para diferentes partes da economia. Segundo o Boston Consulting Group, com o passar do tempo, foi aprimorado o entendimento sobre o que é realmente necessário, setor por setor, para enfrentar esse desafio. E o nível de certeza com que o IPCC é capaz de dar mensagens específicas aumenta a cada vez. Embora os cientistas do IPCC não façam recomendações de políticas, ao longo do relatório eles chamam a atenção para as decisões críticas que os formuladores de políticas enfrentam em áreas como subsídios à energia. O relatório ressalta o fato de que as principais barreiras para a rápida descarbonização são, principalmente, políticas e econômicas. Não é um problema técnico, exceto por algumas poucas tecnologias que não estão tão distantes. É muito, muito mais uma questão de vontade política. Resumo de algumas das conclusões do IPCC sobre cinco setores-chave:

Energia: A análise do IPCC da indústria de energia destacou a mudança de curso que seria necessária para limitar o aquecimento global. As usinas de carvão no mundo inteiro, por exemplo, precisariam ser aposentadas mais de duas décadas antes do final de suas vidas úteis. Sem a adição da tecnologia de captura de carbono, as emissões da infraestrutura de combustível fóssil existente e planejada fariam com que o aquecimento global excedesse o 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. As políticas de energia alinhadas ao Acordo de Paris forçariam os proprietários de ativos a dar baixa de grande parte de suas reservas e infraestrutura de petróleo e gás. Os ativos improdutivos podem valer trilhões de dólares, valor que aumenta a cada ano de investimento contínuo em combustíveis fósseis. O relatório foi divulgado enquanto a inflação e a guerra na Ucrânia remexem o mapa de energia, e aumentam os lucros das empresas de petróleo e gás. O presidente Joe Biden está impelindo os produtores dos Estados Unidos a aumentar sua produção, e os esforços da Europa para interromper a compra de petróleo e gás russos podem resultar em uma maior queima de combustíveis fósseis no curto prazo, mesmo enquanto ela busca acelerar sua transição energética. O IPCC observou as forças políticas alinhadas contra a transformação prevista em seus melhores cenários. Países, empresas e indivíduos que perderão suas riquezas podem, portanto, desejar manter os ativos em operação, mesmo que as preocupações financeiras, sociais ou ambientais exijam o desligamento desses ativos.

Indústrias: O IPCC destacou como as cadeias de suprimentos podem ser reconectadas se os processos industriais de alta temperatura passarem de combustíveis fósseis para eletricidade com zero carbono ou hidrogênio produzido usando eletricidade. A importância do acesso à eletricidade limpa pode remodelar o lugar onde atualmente está localizada a produção de materiais básicos intensivos em energia e emissões, bem como o modo como as cadeias de valor são organizadas, os padrões de comércio, e o que é movimentado pelo transporte internacional. As emissões industriais aumentaram mais rapidamente do que as de qualquer outro setor neste século, em meio ao crescimento do consumo de aço, cimento e plástico. No entanto, a descarbonização rápida é possível com o uso mais moderado de matérias-primas, a mudança para materiais menos poluentes, o uso de energia de baixo carbono e a instalação de sistemas de captura de carbono. As tecnologias existem para levar todos os setores da indústria a emissões muito baixas ou zero, mas exigem de cinco a quinze anos de intensa inovação, comercialização e política para garantir a sua aceitação. A implantação dessas tecnologias variará entre países e setores, e os ativos industriais convencionais, como ativos de combustíveis fósseis, podem ser bloqueados por ações políticas combinadas.

Serviços financeiros: Nos últimos anos, foram diversas as iniciativas do setor financeiro para combater as mudanças climáticas, incluindo estruturas voluntárias de relatórios de risco, coalizões de investidores pedindo cortes das emissões, e regulamentações como as regras de investimento sustentável da União Europeia. Essas iniciativas não tiveram grande êxito. Os riscos financeiros relacionados ao clima continuam muito subestimados pelas instituições financeiras e pelos mercados, limitando a realocação de capital necessária para a transição para baixo carbono. Há um alto grau de incerteza sobre se os fluxos financeiros podem ser alinhados com os objetivos do Acordo de Paris. Isso significaria canalizar o capital público e privado para longe de indústrias poluidoras, vistas como promotoras de retornos confiáveis, e aumentar drasticamente o financiamento para itens como energia de baixo carbono e infraestruturas que podem suportar mudanças nos padrões climáticos. O déficit de financiamento é gritante nos países em desenvolvimento.

Agricultura: A maneira como as pessoas interagem com a natureza é fundamental para as iniciativas de limitação das mudanças climáticas, em parte devido à capacidade da terra de armazenar gases de efeito estufa. As práticas agrícolas de restauração de habitats e sequestro de carbono podem extrair bilhões de toneladas métricas de CO2 da atmosfera todos os anos. Mas, ao listar essas possibilidades, o IPCC também destacou os riscos sociais e ambientais. A contrapartida em termos de emprego, uso da água, competição pelo uso da terra e biodiversidade, bem como acesso e acessibilidade de energia, alimentos e água, pode ser evitada por opções de mitigação baseadas em terra bem implementadas, especialmente aquelas que não ameaçam os usos sustentáveis da terra e os direitos à terra existentes, embora sejam necessárias mais estruturas para a implementação de políticas integradas. A agricultura poderia ser remodelada mudando as preferências dos consumidores. A alteração para dietas vegetarianas é uma das mudanças de estilo de vida com maior potencial de afetar o clima.

Internet: As empresas de tecnologia costumam afirmar que a conectividade pode beneficiar o clima ao melhorar a eficiência energética. O IPCC concorda até certo ponto. As tecnologias digitais têm o potencial de reduzir a demanda de energia em todos os setores de uso final, como, por exemplo, sensores que tornam as fábricas mais eficientes, e inteligência artificial que auxilia redes elétricas descentralizadas. Mas, o uso crescente de dados ameaça ultrapassar esses ganhos, ao mesmo tempo em que agrava problemas como o lixo eletrônico. Ainda não é possível avaliar o impacto geral da digitalização nas emissões de carbono, mas a análise do IPCC sugere que, seguindo sua trajetória atual, os impactos negativos do setor de tecnologia no clima provavelmente superam os positivos. Se não for gerenciada, a transformação digital provavelmente aumentará a demanda de energia, exacerbará as desigualdades e a concentração de poder, deixando para trás as economias em desenvolvimento com menos acesso às tecnologias digitais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.