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05/Abr/2022

Brasil alerta sobre altas e escassez de alimentos

O Brasil fez um alerta importante sobre os alimentos a vários organismos multilaterais nos últimos dias: os preços vão continuar a subir e a possibilidade de escassez no globo não pode ser descartada. A preocupação com a segurança alimentar começou a vir à tona durante a pandemia, quando as relações comerciais internacionais desabaram, mas a situação foi agravada agora com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Na avaliação do governo brasileiro, mesmo que o conflito no Leste Europeu terminasse agora, cenário que não é tido como o mais provável no momento, não seria possível dizer que haveria uma reversão automática e sem mais consequências negativas para o fornecimento de comida. O alerta do governo é para o planeta, mas claramente tem origem em uma deficiência doméstica: a dependência de fertilizantes para a produção de alimentos, já que se coloca no exterior como o "celeiro do mundo".

O Brasil é o maior comprador do produto no globo e, com a guerra encabeçada pela Rússia, seu maior fornecedor, o País ficou numa posição desconfortável. Dias antes de o conflito começar, em meio a polêmicas, o presidente Jair Bolsonaro esteve com Vladimir Putin para tratar do assunto e garantir que não houvesse desabastecimento. No mês passado, a então ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também viajou até o Canadá atrás de novos provedores. O Brasil é particularmente dependente de potássio. De acordo com uma fonte do governo, não há previsibilidade, e o Brasil não quer ser o responsável por uma crise alimentar global. Comunicados com teor similar foram feitos ao grupo das 20 economias mais ricas do globo (G20), à Organização Mundial do Comércio (OMC), à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e à Organização para a Alimentação e Agricultura nas Nações Unidas (FAO).

A grande preocupação do País hoje é com o efeito das cadeias alimentares: os preços da comida estão ficando mais altos, assim como os dos fertilizantes, que já são considerados escassos e podem ter seu acesso ainda mais reduzido nos próximos meses. Com isso, não há previsibilidade para as novas safras. Não é que não haverá safras, mas elas serão menos produtivas porque contarão com menos fertilizantes. Os preços dos alimentos aumentarão ainda mais. O quadro pode ser agravado com as sanções impostas por alguns países à Rússia. Sanções são uma questão complicada porque têm consequências que às vezes não se esperam. Os mais pobres é que acabam pagando. A preocupação que o Brasil busca compartilhar é o de que a crise dos alimentos vai além dos dois países e que afeta o mundo, podendo se tornar ainda mais grave do que o projetado atualmente. A alta dos preços é uma realidade hoje não apenas dos países emergentes.

Entre os desenvolvidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) tem destacado repetidamente que sua principal tarefa do momento é diminuir a inflação. A pandemia e a guerra no Leste Europeu têm desencadeado elevações de preços em todo o mundo. Esses eventos geraram paralisações, contrações e desalinhamento da cadeia global de produção. Especificamente sobre o conflito, o Fed citou que o episódio tem influência, sobretudo, na inflação de energia e alimentos, afetando o crescimento de todo o planeta. Cálculos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que a guerra será responsável pela queda de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo; de 1,4% para seus membros, muitos deles europeus, e pela alta de 2,5% da inflação. Tudo isso, no primeiro ano que se seguirá ao conflito.

O planeta pode enfrentar uma escassez global de matérias-primas porque os dois países em questão estão entre os maiores produtores mundiais de fertilizantes e de metais, como níquel, titânio e paládio. No Brasil, apesar da avaliação de que a Europa tende a pagar uma boa parte da conta dessa guerra, por causa principalmente da dependência do gás russo, esse impacto tende a ser ainda maior entre os países mais pobres, em especial da África e da Ásia e até por aqui. Nestas regiões, o orçamento de muitas famílias já é extremamente apertado, sem margens para manobras ou substituições de produtos. Este poderia ser um estopim para que alguns governos começassem a lançar mão de medidas protecionistas, como aplicações de subsídios ou estoques de alimentos, em um momento frágil para o comércio internacional. Isso seria ruim porque é preciso ter previsibilidade nas cadeias multilaterais de comércio. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.