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04/Abr/2022

Dólar no patamar mais baixo desde março de 2020

O mercado doméstico de câmbio iniciou abril na mesma toada em que encerrou o primeiro trimestre: jogando o dólar para baixo. Em queda desde a abertura dos negócios e na contramão do exterior, a moeda norte-americana acelerou as perdas em meio à divulgação de resultado forte da balança comercial do Brasil em março, e fechou abaixo de R$ 4,70 pela primeira vez desde 10 de março de 2020. O fluxo estrangeiro para ativos locais continua firme, com investidores alocando em bolsa, insuflada pela alta das commodities, e montando operações de carry trade. A alta das taxas dos Treasuries de dois anos, após a leitura do relatório de emprego (payroll) nos Estados Unidos em março sustentar a perspectiva de intensificação do processo de alta de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), não abalou o apetite pelo Real. Exportadores também estariam antecipando fechamento de câmbio para aplicar nos juros domésticos. Diversas casas mantém a previsão de que a taxa Selic possa encerrar o ciclo de aperto monetário acima de 13%, embora o Banco Central tenha enfatizado que pretende promover apenas mais uma elevação da taxa, em 1% na reunião de maio, para 12,75%.

Com mínima a R$ 4,66 (-2,07%), registrada à tarde com ordens de stop loss (limitação de perdas), o dólar encerrou a sessão de sexta-feira (01/04) em baixa de 1,97%, a R$ 4,66, o menor valor de fechamento desde 10 de março de 2020 (R$ 4,64). Com isso, a desvalorização acumulada no ano atingiu 16,30%. A Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Economia, divulgou que a balança comercial registrou superávit de US$ 7,383 bilhões em março, 19% maior que em igual período do ano passado e o melhor resultado para o mês desde o início da série histórica. No ano, a balança comercial acumula superávit de US$ 11,313 bilhões, crescimento de 37,6% na comparação anual. Após o resultado de março, a Secex aumentou a previsão para o saldo comercial neste ano de US$ 79,4 bilhões para US$ 111,6 bilhões, com a expectativa para as exportações passando de US$ 284,3 bilhões para US$ 348,8 bilhões. Em 2021, o resultado foi positivo em US$ 61,4 bilhões. A Blue3 ressalta que as commodities já vinham pressionadas pela recuperação da atividade global com arrefecimento da pandemia do novo coronavírus e subiram ainda mais com o advento da guerra na Ucrânia.

O Brasil tem muitas empresas produtoras e exportadoras de commodities. Isso traz mais dólares e atrai o investidor estrangeiro para ações de companhias que estavam muito descontadas. Com a perspectiva de alta de juros nos Estados Unidos, os investidores estão migrando para setores mais tradicionais, que não vão sofrer tanto com o aperto monetário. Somando esse cenário aos juros domésticos elevados, que atrai capital externo, há uma pressão forte do dólar para baixo. Mesmo que haja um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, a perspectiva é a de que as commodities seguirão em patamares elevados. Além disso, os investidores devem continuar a evitar ativos russos e moedas do Leste Europeu, dando preferência a outros emergentes, como o Brasil. No exterior, o índice DXY (que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes) operou em alta, tocando máxima na casa de 98,700 pontos. A curva de juros norte-americana se inverteu, com a taxa da T-note de 10 anos abaixo de 2,40%, enquanto o retorno do título de dois anos, em forte alta, girava ao redor de 2,44%.

O payroll mostrou criação de 431 mil empregos nos Estados Unidos em março, abaixo das expectativas (490 mil). Em contrapartida, a taxa de desemprego caiu de 3,8% para 3,6%, enquanto o consenso de mercado era de 3,7%. Houve revisão dos números de geração de vagas em fevereiro (de 678 mil para 750 mil) e janeiro (de 481 mil para 504 mil). Na esteira do payroll, cresceram as apostas em postura mais ativa do Federal Reserve ao longo deste ano. Segundo a plataforma FedWatch do CME Group, a possibilidade de que a taxa básica, hoje entre 0,25% e 0,50%, suba à faixa entre 2,75% e 3,00% até dezembro aumentou de 13% no dia 31 de março para 29% no dia 1º de abril. É amplamente majoritária a aposta de que o Fed vai acelerar o passo e elevar a taxa básica em 0,50% em maio. No Brasil, o mercado deixa de lado, por ora, ruídos políticos e temores de deterioração fiscal, em meio a corte de impostos e o imbróglio em torno do reajuste do funcionalismo público.

A paralisação dos servidores do Banco Central não tem influenciado a formação da taxa de câmbio. O Banco Ourinvest observa que o ambiente interno segue confuso, com greve em segmentos do serviço público e as articulações para a campanha presidencial, mas isso não abala o Real. A taxa de câmbio deixou de responder à conjuntura local. Está mais ligada a questões técnicas e à alta liquidez no cenário externo. A Porto Seguro Investimentos reduziu de R$ 5,50 para R$ 5,00 a projeção para a taxa de câmbio no fim de 2022, observando que a melhora dos temores de troca e o aumento do fluxo externo, em meio ao diferencial de juros elevado, prevalecem sobre o risco fiscal. Se essa projeção se materializar, o Real será um grande aliado da Selic para conter a inflação. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.