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24/Mar/2022

Dólar recua para o menor patamar em dois anos

Em dia de nova arrancada do preço do petróleo, com o tipo Brent superando US$ 120,00 por barril, o dólar emendou seu sexto pregão consecutivo de queda e não apenas rompeu o piso de R$ 4,90 como fechou no menor nível em mais de dois anos. Commodities em patamares elevados, em meio ao prolongamento da guerra na Ucrânia e possibilidade de novas sanções à Rússia, sustentam o apetite de estrangeiros por ativos domésticos. E o fluxo externo alimenta apostas de fundos de investimento locais em nova apreciação do Real, como observado nas movimentações no mercado futuro de câmbio. A moeda brasileira se beneficia neste momento tanto em razão da melhoria dos termos de troca quanto pela perspectiva de manutenção de juros reais elevados, até porque o Comitê de Política Monetária (Copom) elegeu a cotação do barril do petróleo como elemento crucial para suas projeções de inflação.

Declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterando que o pico da inflação em 12 meses deve ser em abril, não tiraram do radar a possibilidade de a taxa Selic superar 13%. Isso a despeito do plano de voo original do Banco Central seja, aparentemente, encerrar o ciclo de aperto em meio, com uma alta final de 1%, para 12,75%. Mais detalhes do cenário do Banco Central podem vir nesta quinta-feira (23/03) no Relatório Trimestral de Inflação (RTI). Em todo caso, a perspectiva de manutenção de taxa real expressiva ao longo de 2022 e de diferencial de juros elevado, mesmo que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) suba os juros em ritmo mais rápido, favorecem as posições em real e estimulam fluxo via operações de carry trade. Do lado da bolsa doméstica, dados da B3 mostram que os investidores estrangeiros ingressaram com R$ 1,514 bilhão para ações na sessão de segunda-feira (21/03), o que leva a entrada em março a R$ 18,381 bilhões. No acumulado do ano, os aportes externos atingem R$ 81 bilhões.

Exceto por uma leve alta na abertura, o dólar trabalhou em queda ao longo de todo o pregão desta quarta-feira, rompendo o piso de R$ 4,85 ainda pela manhã. Na mínima, desceu até R$ 4,83 (-1,66%). Com uma leve recuperação, o dólar fechou em queda de 1,44%, a R$ 4,84, menor valor desde 13 de março de 2020 (R$ 4,81). Nos últimos seis pregões, o dólar recuou 6,10%. Em 2022, a desvalorização é de 13,12%. Outras divisas emergentes e atreladas a commodities, como o peso mexicano e o rand sul-africano, também se apreciaram, embora em menor magnitude. A JF Trust ressalta que o Real se beneficia tanto pela manutenção de fluxos fortes para a bolsa quanto pela percepção de taxa Selic ainda mais elevada. Mesmo que o Fed aumente os juros para o intervalo de 2,5% à 3% até dezembro de 2022, o juro real ex-post dos Estados Unidos ainda será negativo. Isso mantém a atratividade da taxa de juros brasileira para fluxos de investimentos externos e um dólar 'gravitando' na faixa de R$ 5,00.

A presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, afirmou que uma alta os juros em 50 pontos-base em algum momento será necessária para normalizar a política monetária. Embora também tenha admitido a possibilidade de uma elevação dos Fed Funds em 50 pontos-base, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, afirmou que o Banco Central dos Estados Unidos não deve mover rapidamente os juros para evitar ser tão disruptivo. O presidente do Fed de Sant. Louis, James Bullard, que prega uma ação mais enérgica, disse que preços do petróleo nos patamares atuais já foram vistos sem causar uma recessão no Estados Unidos. A possibilidade de um tombo da economia norte-americana e um eventual agravamento da guerra na Ucrânia, com interferência direta do Ocidente, poderiam detonar uma onda de aversão ao risco a abalar os fluxos de capitais.

O Banco Ourinvest chama a atenção para o fato de que o grande fluxo de recursos para o Brasil ser de curto prazo, possivelmente para explorar o diferencial de juros. Não há alocação de longo prazo. Qualquer problema conjuntural, que pode vir com a campanha eleitoral ou até uma piora da guerra, pode fazer com que o câmbio volte para um patamar mais alto. Por ora, "o fluxo está mandando" na formação da taxa. Para a Trópico SF2 Investimentos, o grande responsável tanto pela alta do dólar em 2021 quanto pela apreciação do Real neste ano é o nível da taxa Selic. Tirando movimentos expressivos vindos da pandemia, a moeda basicamente flutuou na direção contrária dos juros. Não houve mudanças no quadro político ou fiscal, tidos como vilões da taxa de câmbio. Tudo está igual, a moeda não. O que mudou foram os juros. Conforme as taxas de juros voltam para ao lugar de onde não deveriam ter saído, os fluxos começam se reverter e ganham velocidade. Como sempre, o fluxo é retroalimentado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.