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22/Mar/2022

Brasil precisa de investimento privado em pesquisa

Com frequência tenho manifestado neste e em outros espaços a necessidade de investimentos em ciência e tecnologia como garantia de progresso, sempre assinalando o óbvio: sem inovação tecnológica não há futuro para uma nação. Maior prova disso tem sido o espetacular avanço da agropecuária brasileira, lastreado fundamentalmente em tecnologias desenvolvidas por instituições públicas e privadas de pesquisa que têm permitido saltos de produtividade admiráveis, que, por sua vez, reduzem a demanda por mais áreas e por desmatamento. Portanto, sustentabilidade na veia! No entanto, é também conhecido o atual estado de penúria de institutos de pesquisa que deram uma contribuição extraordinária à ciência agronômica, zootécnica e florestal a São Paulo e ao País, hoje sem recursos orçamentários para acompanhar o desenvolvimento tecnológico de países desenvolvidos, aumentando o gap entre nós e eles. E, pior, remunerando mal os pesquisadores e seus auxiliares, impedindo que eles se ocupem exclusivamente da criação e da inovação.

É até triste visitar o Instituto Agronômico (IAC), templo do nascimento de variedades de milho, algodão, café, laranja, cana-de-açúcar, feijão, arroz, frutas, hortaliças, oleaginosas e tudo o mais que se cultiva nesse Brasil gigantesco e variado. Hoje, o IAC não conseguiu sequer manter seu banco de germoplasma de algodão. Uma pena, uma perda. Pois bem, já passa da hora de buscar alternativas a isso, uma vez que os governantes não têm a visão de garantir o futuro. A manutenção e o progresso da ciência interessam a muita gente, mas em especial ao produtor rural. Na verdade, ele depende disso para competir, especialmente num mundo que faz da descarbonização um dogma, exigindo práticas que reduzam emissões de gases de efeito estufa como premissa para a competitividade. Inovar nessa direção é absolutamente fundamental! Devemos buscar a criação de um Fundo de Pesquisa Agropecuária, inteiramente privado, para financiar a ciência. Poderia ser algo como a contribuição de cada produtor rural com 0,5% de seu faturamento para esse Fundo, com seu correspondente desconto do IR.

O Fundo, administrado pelo setor privado, colocaria recursos numa determinada instituição de pesquisa quando precisasse ter uma resposta a uma questão qualquer: desenvolver uma nova variedade para uma região onde o cultivo desejado não seja conhecido; ou qual o melhor defensivo para uma nova praga; ou que utilidade teria para a indústria de alimentos um novo tempero, e assim por diante. Digamos que uma pesquisa interessasse aos cafeicultores, por exemplo. Nesse caso, o Fundo, que teria sob controle a origem dos recursos recolhidos, contrataria a instituição mais habilitada a dar resposta à questão levantada, com o dinheiro pago pelos cafeicultores. No entanto, para evitar que tal mecanismo priorizasse sempre as grandes culturas que seguramente terão as maiores contribuições ao Fundo, sobre o valor da pesquisa contratada a instituição escolhida receberia um adicional de 20%, para dirigir a pesquisas em outros temas de interesse da sociedade em geral. Por exemplo, novas hortaliças. Ou até pesquisa pura. Com isso, o cafeicultor teria seu problema resolvido e estaria simultaneamente contribuindo para o progresso técnico de um pequeno produtor que estaria marginalizado por esse processo.

E tudo isso com aval da direção do Fundo. O modelo serviria para todo mundo: agricultores, pecuaristas, produtores florestais e assim por diante. Poderia ser estendido a fabricantes de insumos que precisassem de comprovação técnica de seus produtos. E até para a indústria de alimentos. Haveria uma clara predileção pela instituição mais bem "equipada" de recursos humanos e materiais para responder as demandas. Em outras palavras, a gestão institucional seria cobrada pelo seu corpo técnico. Seria um ganha-ganha geral. Provavelmente isso teria que ser resolvido por lei, inicialmente em âmbito estadual. Mas, talvez fosse possível começar um projeto a partir de um determinado setor que precise de mais ciência, de forma experimental. Existem modelos para isso no mundo desenvolvido. Mas precisamos vencer velhos hábitos, como esperar que o "governo" resolva tudo. Fonte: Roberto Rodrigues. Fundação Getúlio Vargas (FGV). Broadcast Agro.