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22/Mar/2022

Gigantes agrícolas continuam atuando na Rússia

As maiores empresas agrícolas do mundo continuam vendendo sementes e manejando safras na Rússia, apesar da pressão internacional para o rompimento de laços após a invasão da Ucrânia. Empresas como Cargill Inc., Bayer AG e Archer Daniels Midland Co. afirmam que as preocupações humanitárias em torno da disponibilidade de alimentos para cidadãos russos e de outros países justificam a continuidade das operações, enquanto empresas ocidentais de petróleo, redes de fast-food, entre outras, encerraram ou interromperam as atividades. Grupos de defesa e funcionários de algumas empresas agrícolas pediram a executivos de organizações que ainda operam na Rússia para ampliarem a suspensão das atividades, e, na semana passada, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu a continuidade da pressão sobre as companhias ocidentais se retirarem do país.

Empresas de outros setores, como farmacêutico e de bens de consumo, também citaram motivos humanitários para a continuar operando em determinadas áreas de negócios na Rússia. Entre elas, estão a Johnson & Johnson e a AmerisourceBergen Corp., que disseram ter parado de fazer novos negócios na Rússia, embora continuem distribuindo determinados medicamentos para tratamento do câncer e concluindo estudos clínicos. As operações de empresas agrícolas em curso na Rússia podem ter efeitos mais amplos na oferta mundial de alimentos. A guerra da Rússia na Ucrânia envolve duas das maiores potências mundiais na produção de grãos, afetando uma região mais crítica para a alimentação de uma crescente população global. Um corte nas exportações russas de commodities de alimentos como o trigo, além da probabilidade de uma menor safra na Ucrânia, pode levar a uma grave escassez de alimentos no mundo todo.

Há grande ansiedade em relação ao próximo ciclo de produção. Se o desempenho não for suficiente, poucas vezes na história recente a oferta mundial de alimentos esteve tão crítica. A invasão da Ucrânia elevou os preços do trigo em mais de 30% no mês passado. Embora o alvo direto das sanções não tenham sido as exportações de alimentos russos, e os portos sigam operando, os importadores enfrentam altos custos de seguro para transportar cargas do país. Se os fornecedores saírem da Rússia e o país cortar sua produção, a quantidade de grãos deverá ser suficiente para alimentar sua população local, mas não necessariamente para atender outros países. É um problema para a Rússia, mas um problema maior ainda para importadores de alimentos do mundo todo. Outros fatores também podem comprometer a produção de trigo. A seca na América do Sul está afetando a produção na região.

O Departamento de Agricultura Nos Estados Unidos (USDA) afirmou, no início do mês, que prevê produção de trigo no país este ano levemente superior à do ano passado, quando a área plantada foi a menor em mais de um século. A previsão de uma safra menor nos Estados Unidos se deve à continuidade da seca nas planícies do oeste e do norte do país. Grupos ativistas dizem que a guerra da Rússia requer uma mensagem mais forte, e que as empresas agrícolas precisam fazer sua parte. Na semana passada, organizações ambientais e agrícolas da Ucrânia e dos Estados Unidos elaboraram uma carta pressionando a Cargill a deixar a Rússia de forma completa. "Fazer negócios e pagar impostos ao governo Putin alimenta a máquina da guerra", afirma a carta. A Cargill apontou para as potenciais implicações para a segurança alimentar descritas pelo Programa Mundial de Alimentos, órgão das Nações Unidas, ao responder por que a empresa mantém as operações essenciais de alimentos.

O órgão da ONU diz que o conflito pode agravar a inflação sobre alimentos e a fome em alguns dos países mais pobres do mundo. Em discurso dirigido ao Congresso na quarta-feira (16/03), Zelensky pediu que os legisladores estimulem as empresas de seus Estados a deixar de fazer negócios na Rússia. Ele também pediu que os Estados Unidos barrem as importações de todos os bens russos. Com sede em Minnesota (EUA), a gigante de alimentos e produtos agrícolas Cargill, que emprega quase 2,5 mil pessoas na Rússia e começou a fornecer grãos à União Soviética em 1964, afirmou, no início deste mês, que planeja continuar operando suas fábricas de alimentos e rações animais no país, embora vá reduzir algumas das operações e suspender novos investimentos. Segundo e empresa, a alimentação é um direito humano básico, e jamais deveria ser usado como arma. A região fornece ingredientes para pães, fórmula para bebês e cereais matinais, entre outros bens de primeira necessidade.

A fabricante de pesticidas e sementes Syngenta, que tem negócios superiores a US$ 1 bilhão na região da Ucrânia e da Rússia, continua a fornecer sementes e químicos a agricultores russos para minimizar uma potencial escassez global de alimentos. Outras empresas também já manifestaram planos de continuar operando na Rússia, apesar de limitar determinadas operações e novos empreendimentos. Entre elas, estão traders de commodities como ADM, Bunge Ltd. e Viterra, negócio de grãos da gigante de commodities Glencore PLC. A Bayer afirmou que poderá deixar de fornecer sementes para a produção russa no ano que vem, caso a guerra persista. A gigante alemã de sementes e pesticidas afirmou que já forneceu os suprimentos agrícolas essenciais para a produção russa deste ano, mas que deverá monitorar a situação política, para decidir quanto ao abastecimento de 2023 em diante.

A Bayer reconheceu os pedidos para suspender vendas e serviços na Rússia, mas disse que a retenção de produtos agrícolas aumentaria o custo humano da guerra. Funcionários de algumas grandes empresas agrícolas têm exercido pressão interna por um posicionamento mais duro das companhias, incluindo o envio de mensagens a líderes empresariais pedindo a saída total da Rússia. Algumas grandes empresas agrícolas e traders de grãos estão em comunicação para alinhar seu posicionamento de que a retirada da Rússia irá agravar a oferta de alimentos, segundo fontes próximas. As empresas também estão trabalhando em conjunto na logística de entrada de produtos e saída de exportações da região, além de cooperar com governos, incluindo o russo, em esforços humanitários. Analistas agrícolas afirmam que a oferta global de alimentos será afetada pela guerra.

Até 13 milhões de pessoas no mundo todo podem passar fome devido à alta dos preços dos alimentos e da ruptura na oferta em consequência da invasão russa à Ucrânia, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O impacto deverá ser sentido principalmente por países de baixa renda e alta dependência de importações, que contam com os grãos da Rússia. A FAO afirmou que os agricultores russos poderão enfrentar dificuldades se as maiores empresas ocidentais do agronegócio se retirarem do país. Há poucos grandes competidores do setor agrícola e pode não haver oferta imediata de substitutos para sementes e produtos químicos fornecidos pelo Ocidente. Para um agricultor da região, não há muitas opções. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.