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22/Mar/2022

Pressões inflacionárias podem elevar a taxa Selic

A marcha das expectativas de inflação para níveis cada vez mais distantes das metas perseguidas pelo Banco Central (BC) acendeu um alerta para a chance de a taxa Selic renovar o seu último pico nominal, de 14,25% ao ano, ainda este ano. Essa perspectiva, considerada impensável até antes da disparada de commodities deflagrada pela invasão militar da Ucrânia pela Rússia, já é um risco de cauda acompanhado pelo mercado. Economistas são unânimes ao afirmar que um novo pico de juros exigiria piora adicional do quadro de inflação. Para acomodar um novo choque, a política monetária poderia ter de avançar novamente em direção ao último pico, considerando que a mediana do mercado para o fim do ciclo já se encontra em 13,25%, distante apenas 1% da marca.

Seria necessária uma Selic terminal entre 13,5% e 14,0% (praticamente encostada no último pico) para levar a inflação ao centro da meta no ano que vem. No entanto, há dúvidas sobre se a autarquia estaria disposta a sancionar juros neste nível, considerando a sinalização do último comunicado de que 12,75% seria um nível suficiente para promover a convergência. Com juros de 12,75%, o IPCA de 2023 deveria ficar em torno de 3,70%, mesmo que o Comitê de Política Monetária (Copom) tenha estimado, neste cenário, uma inflação de 3,10% em 2023, se houver desaceleração do petróleo. A taxa Selic precisaria ficar acima de 13,5% no fim do ciclo para promover a convergência da inflação para o centro da meta no ano que vem e ancorar as expectativas em horizontes mais longos. Mas, o Banco Central parece estar disposto a promover um ciclo de aperto mais suave e tolerar um IPCA pouco acima do alvo no ano que vem.

O Copom sinaliza um IPCA de 3,40% no ano que vem no cenário básico, 0,15%. Para fazer uma convergência de 0,15% de IPCA, precisaria de 0,75% adicional de Selic. Ou seja, em vez de 12,75%, 13,5%. Para um objetivo adicional de restabelecer a credibilidade e ancorar as expectativas, precisaria ir além disso. Alguns economistas indicam taxa Selic de 13,25% no fim do ciclo de aperto, suficiente para produzir uma inflação de 3,50%, considerando as últimas sinalizações do Banco Central. No entanto, uma escalada do conflito militar entre Rússia e Ucrânia, ou choques internos derivados da política fiscal, poderiam levar os juros para níveis maiores. Fala-se em choques internacionais, climáticos, mas um outro choque possível seria o governo ou o Congresso acabar com o teto de gastos, com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). É um choque que o Banco Central teria de combater. Não existe teto para a política monetária.

Contra uma disparada da Selic acima de 14%, pesa o nível já elevado dos juros reais, acima do observado quando a taxa atingiu o último pico. Essa dinâmica torna improvável uma volta dos juros aos níveis de 2015 e 2016. Nos últimos dois anos, o Brasil mostrou que nada é impossível. Mas, é difícil que os juros voltem a esse patamar de 14,25%. Esses 12,75% já são uma resposta contracionista. Ao chegar em junho, o Banco Central não deve mais aumentar a Selic, por conta das preocupações com o crescimento econômico em 2023. Uma retomada do último pico histórico é um risco de cauda que parece cada vez mais improvável dado o avanço do horizonte relevante da política monetária, que já deve começar a mirar também o ano de 2024 a partir do segundo semestre.

Como o Banco Central só tem mais duas reuniões até junho, elevar a Selic dos atuais 11,75% para um nível acima de 14% exigiria acelerar o ritmo de aperto monetário. O Banco Central não tem mais graus de liberdade para ficar postergando a meta, principalmente de 2023. Para 2022, há expectativa de Selic terminal de 13,5% e IPCA de 3,5%. Teria de ter algo a mais, uma nova rodada de pressão, ou a escalada de preços de commodities se mantendo por mais tempo. Se em março, no pior momento, o Banco Central optou por desacelerar o ciclo para 1%, é muito difícil voltar a acelerar. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.