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22/Mar/2022

Pandemia e guerra põem em risco a globalização

Os ventos desfavoráveis à globalização, que percorrem o mundo desde a crise financeira de 2008 e ganharam força com a pandemia, intensificam-se com a guerra na Ucrânia. Com as retaliações comerciais impostas à Rússia, os países ocidentais estão sendo levados a reduzir sua dependência da energia e das matérias-primas russas. Além disso, o eventual apoio da China à Rússia também pode acirrar a rivalidade com o Ocidente. A consequência é um crescente risco ao comércio e à integração internacional. Segundo a Eurasia Group, a economia russa, que é muito importante em termos de commodities que são chave, como óleo e gás, será desvinculada do restante do Ocidente. Não há como reconstruir as relações econômicas quando o presidente dos Estados Unidos chama Vladimir Putin de criminoso de guerra. Os efeitos do conflito na integração global já se apresentam na forçada diversificação energética europeia e no aumento do preço do níquel, que pode desacelerar a produção de carros elétricos.

Também na busca do agronegócio brasileiro por novos exportadores de fertilizantes e na possível piora na crise de produção de semicondutores. E, ainda que haja um acordo de paz para encerrar o conflito militar no futuro próximo, a preocupação com segurança nacional passará a ditar o estabelecimento das novas cadeias de suprimentos. Para a American University, toda a cadeia de produção, distribuição de produtos e logística, toda essa geografia de comércio será afetada. É um princípio de fim da globalização como é conhecida hoje. Como o Brasil vai continuar se dando bem com Estados Unidos, Rússia e China? A questão de escolha de lado vai ficar muito mais evidente daqui para a frente, e isso vai se refletir nas decisões de investimento futuro das empresas. A adoção de sanções econômicas pelos Estados Unidos e Europa, na tentativa de estrangular economicamente o governo Putin e a oligarquia russa, causou uma leva de fechamento de empresas ocidentais no país.

Segundo a escola de administração de Yale, pelo menos 400 companhias interromperam completamente as operações na Rússia desde o início da guerra. O mais emblemático fechamento de portas foi o da rede norte-americana McDonald’s, um símbolo ocidental que atraiu multidões em 1990 quando abriu as portas em plena União Soviética. A dependência europeia do gás russo como fonte de energia foi escancarada durante a escalada de tensão regional. Países começaram a estruturar planos para aumentar a independência energética, ainda que isso leve meses ou anos. A promessa da Comissão Europeia é reduzir em dois terços o uso de energia proveniente da Rússia até o fim deste ano e cortar por completo a dependência antes de 2030, com medidas que incluem o aumento imediato de importação de gás natural de países como os Estados Unidos. No melhor cenário, ainda haverá um movimento desfavorável à globalização e alguma repercussão contra a China.

Segundo o Peterson Institute for International Economic, a resposta do mundo democrático à agressão e aos crimes de guerra praticados pela Rússia é correta, tanto do ponto de vista ético quanto de segurança nacional. Isso é mais importante do que a eficiência econômica. A repercussão das sanções adotadas por europeus e norte-americanos contra a Rússia e a reação do governo russo atingem a cadeia de produção também do Brasil, que precisou buscar no Canadá acordos com o setor privado para ampliar a importação de fertilizantes que viriam da Rússia. Hoje, o País importa 85% dos fertilizantes utilizados na base da produção agrícola nacional. A tendência de desglobalização ou “slowbalization”, a diminuição no ritmo da integração econômica internacional, é observada por analistas desde a crise de 2008. Interrupções no processo de globalização já ocorreram em outros momentos da História, mas, desde o fim da 2ª Guerra até o início dos anos 2000, o mundo vivenciava um aumento no intercâmbio de bens, investimentos, tecnologias e serviços.

A pandemia de Covid-19 acelerou o processo de desglobalização, quando a quebra na cadeia de produção imposta pelo fechamento de fábricas expôs fragilidades mundiais. Países adotaram a autoproteção, caso dos Estados Unidos, que invocaram leis de defesa nacional para manter em território nacional a produção de respiradores, enquanto o mundo se dava conta de que a China era a produtora de mais de 40% dos equipamentos médicos de proteção individual de todo o mundo. Para os especialistas, o posicionamento da China ditará o futuro da dinâmica comercial global. Putin pode se tornar um pária internacional, mas ainda fará negociações com a China, com o Brasil e com nações em desenvolvimento. A grande questão é se a Guerra Fria com a Rússia irá desencadear uma Guerra Fria com Rússia e China. Se a China seguir com apoio à Rússia, o cenário será de precipitação da fragmentação da economia global e de possível desglobalização. O Brasil deve ser uma das economias menos afetadas por esse cenário. É um país grande, que está longe dos atores principais.

O país mais próximo é os Estados Unidos, que não vão interferir diretamente no Brasil. A China também não. Pelo tamanho e por suas exportações, o País será capaz de continuar comercializando relativamente livre com ambos os lados. O Brasil nunca se tornou um país muito globalizado, sua economia industrial tem sido pouco dinâmica e pouco integrada. A percepção é de que 90% do que determina o sucesso do Brasil são as decisões feitas pelos brasileiros: a qualidade de seus líderes. Há, porém, alguns perigos que o Brasil tem de evitar. O setor financeiro pode ficar instável. As empresas não devem se endividar em dólar. O Brasil precisa preservar a estabilidade monetária, não permitir que se escorregue para a inflação. O País tem ido bem nessa área, mas não se sabe quanto isso vai durar com o populismo. E, claro, o Brasil precisa de uma liderança melhor. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.