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18/Mar/2022

A relevância das safras norte-americana de grãos

A situação dos balanços mundiais de grãos se complicou nas últimas semanas com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Além das perdas de safra na América do Sul, mais grave no caso da soja, já que a 2ª safra de 2022 ainda está começando no Brasil, agora há preocupações com impactos do próprio conflito e das sanções implementadas. Ao analisar a produção agrícola dos dois países diretamente envolvidos no conflito, tem-se a Ucrânia como um destaque nas exportações mundiais de milho. Até o mês passado, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projetava que os embarques ucranianos chegariam a 33,5 milhões de toneladas na safra 2021/2022, o que representaria 16,4% do total projetado pelo Departamento para as exportações globais. No último relatório, o de março, essa projeção já foi cortada para 27,5 milhões de toneladas, diante das muitas incertezas quanto aos impactos do conflito.

Existe a questão de ruptura de cadeias logísticas, afetando as movimentações de cargas e de navios nos portos e há também a preocupação com a safra 2022/2023, que tem um calendário de plantio iniciando no país entre abril e maio e pode ser afetada, com as repercussões se prolongando ainda mais. Destaca-se também o trigo, como sendo diretamente impactado pelo conflito. Nesse caso, tanto Rússia quanto Ucrânia têm papel central no mercado global. Para o ciclo corrente, o USDA também reduziu a estimativa de exportações da Ucrânia de 24 para 20 milhões de toneladas e a da Rússia foi cortada de 35 para 32 milhões de toneladas, sendo que os dois países estão entre os principais exportadores mundiais, com destaque para a Rússia, que frequentemente ocupa a primeira posição. Para além das repercussões no comércio mundial de trigo, assim como no caso do milho, é incerto o que pode acontecer com a produção. Grande parte do cultivo russo e ucraniano ocorre no inverno e, dessa forma, o cereal já está plantado, para começar a ser colhido em meados do ano.

De qualquer forma, tanto o trigo que está no campo quanto o ciclo de primavera também podem sofrer com os desdobramentos do conflito armado. No caso da soja, o impacto é indireto, uma vez que Rússia e Ucrânia não se destacam no mercado mundial da oleaginosa. Os reflexos se dão pelo lado dos óleos vegetais. Ucrânia e Rússia são, respectivamente, o 1º e 2º maiores produtores e exportadores de óleo de girassol do mundo. Juntos, usualmente os dois países respondem por cerca de 60% da produção global do óleo, e 78% das exportações. Com a logística do óleo de girassol sendo afetada, outros óleos devem ver sua demanda reforçada (com destaque para os de soja, palma e canola), num momento em que o balanço mundial de óleos vegetais não está folgado, com a demanda forte e problemas pelo lado da oferta. No caso específico do óleo de soja, como destacado, a América do Sul enfrenta quebras de safra consideráveis, situação que gera preocupações para a disponibilidade dos subprodutos. Diante desse cenário, muito incerto, o papel da safra 2022/2023 dos Estados Unidos na oferta mundial de grãos será ainda mais reforçado.

O mercado especula qual será a área plantada de cada commodity no país, já que, por não contar com áreas novas a serem incorporadas, há trocas de área entre as culturas todos os anos. No final de fevereiro, o USDA realizou seu Fórum Agrícola anual e foram divulgadas as estimativas de oferta e demanda para a safra nova dos Estados Unidos. Apesar de os números serem resultado somente de modelos estatísticos, ainda não havendo pesquisa de campo para o ciclo de primavera, o evento é sempre muito aguardado pelo mercado. Para a soja, o USDA aumentou a área plantada dos Estados Unidos no comparativo anual, para 35,6 milhões de hectares, o que foi um ajuste pequeno em relação ao esperado, de apenas 320 mil hectares, mas que poderia resultar em uma produção recorde, em 122,2 milhões de toneladas. Mesmo assim, essa produção pode ser insuficiente para dar uma maior folga para o balanço de oferta e demanda da oleaginosa.

No caso do milho, a estimativa de área plantada do país ficou em 37,2 milhões de hectares, número 1,5% menor que o registrado na safra 2021/2022. Segundo o Departamento, as mudanças nos preços relativos e os custos de insumos mais altos amparam a queda esperada para a área plantada do cereal. Mesmo com essa expectativa de uma menor área destinada ao cereal, a produção em 2022/2023 poderia alcançar 387,1 milhões de toneladas, também um recorde para o país. No caso do trigo, a estimativa é de uma área plantada maior nos Estados Unidos, alcançando 19,4 milhões de hectares, um crescimento em torno de 500 mil hectares em relação ao ano passado. Vale destacar que, se confirmada, essa será a maior área plantada de trigo desde o ano safra 2016/2017. Com isso, a produção norte-americana do cereal cresceria 18% no comparativo anual, correspondendo a 52,8 milhões de toneladas. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.