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15/Mar/2022

Dólar avança com queda de commodities e cautela

O dólar iniciou a semana em alta, acima da casa de R$ 5,10, com investidores remontando posições defensivas em meio a uma conjunção negativa de fatores e externos e domésticos. Com o melhor desempenho entre divisas emergentes neste ano, o Real amargou a maior baixa entre seus pares. Na manhã desta segunda-feira (14/03), mesmo com certo apetite a risco no exterior em razão da expectativa em torno das negociações entre Rússia e Ucrânia, o dólar já subia no Brasil, refletindo o tombo dos preços das commodities, na esteira de medidas restritivas na China para conter novo surto de Covid-19. A cotação do minério de ferro caiu 7,33%, para US$ 143,70 por tonelada, no Porto de Qingdao (China). Ao longo da tarde, com a piora no sentimento externo e fortalecimento da moeda norte-americana frente a divisas emergentes, na esteira da notícia de que a China poderia fornecer assistência militar à Rússia, o dólar acentuou o ritmo de valorização e, renovando sucessivas máximas, atingiu R$ 5,13.

Com uma moderação nos ganhos na última hora de negócios, a moeda encerrou em alta de 1,30%, a R$ 5,12. Apesar do avanço desta segunda-feira (14/03), o dólar ainda apresenta queda de 0,69% em março. A baixa acumulada no ano, que chegou a superar 10%, está agora em 8,18%. No exterior, o índice DXY (que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes) operou em forte queda, descendo até a casa dos 98,600 pontos, mas ganhou força e, quando o mercado doméstico fechou, apresentava leve queda, na linha dos 99,000 pontos. Além de fatores externos, também pesou no sentimento dos investidores a preocupação com a questão fiscal doméstica, diante de sinais do governo pode adotar mais subsídios e reduzir de tributos para conter a alta dos combustíveis, além da ameaça de greve dos caminhoneiros. A dobradinha formada por inflação elevada e perspectiva de crescimento cada vez menor reacende as ameaças de que Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, adote medidas tidas como populistas.

No fim de semana, o presidente voltou a falar em redução de tributos para combustíveis, na contramão do desejo da equipe econômica. Cálculos mostram que a desoneração de PIS e Cofins sobre a gasolina levaria a uma perda de R$ 23,84 bilhões em receita. O governo deixaria de arrecadar outros R$ 3,01 bilhões da Cide. Outra proposta seria a concessão de subsídios à população mais pobre via o programa social Auxílio Brasil. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), trouxe novamente à baila uma eventual contribuição da Petrobras para conter os preços dos combustíveis, sob o pretexto de que a petroleira, que distribui dividendos bilionários, possui uma "função social". Para a Fair Corretora, o forte fluxo de recursos no início do ano acabou ofuscando o peso dos problemas domésticos na formação da taxa de câmbio. A inflação é muito alta, não tem crescimento, e o fiscal volta a preocupar com essa questão dos combustíveis. Uma nova greve dos caminhoneiros seria desastrosa. Já era hora de o dólar ter uma correção. Não há espaço para o dólar romper o piso de R$ 5,00 no curto prazo.

Existe também muita cautela com a questão da guerra e do começo da alta de juros nos Estados Unidos nesta semana. A perspectiva majoritária no mercado é que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) anuncie uma elevação de 0,25% da taxa de juros nesta quarta-feira (16/03) e adote um discurso duro contra a inflação. A Armor Capital afirma que, dada a piora significativa da dinâmica da inflação corrente e a ampla melhora mercado de trabalho apertado, o Fed deveria elevar a taxa de juros em 0,50%. Porém, a incerteza gerada pela guerra no cenário econômico e piora das condições financeiras podem levar o Fed a iniciar o ciclo com 0,25% e aumentar o ritmo nas próximas reuniões, quando houver maior clareza sobre impactos do conflito. No Brasil, a aposta predominante é a de que o Copom, cuja decisão também será anunciada nesta quarta-feira (16/03), eleve a taxa Selic em 1%, para 11,75%, e deixe a porta aberta para novas altas.

O Itaú Unibanco aumentou a projeção para a taxa Selic no fim do atual ciclo de aperto monetário de 12,50% para 13%, citando o aumento das pressões inflacionárias e o risco de desancoragem das expectativas de inflação. Apesar do início do processo de alta de juros nos Estados Unidos, haverá ainda um diferencial de juros interno e externo elevado, o que tende a atrair recursos para operações de "carry trade" e dar suporte ao Real. Juros locais em dois dígitos encarecem o hedge (proteção) e aumentam o custo de oportunidade de posições compradas em dólar. É pouco provável uma desvalorização grande do Real. Com a taxa de juros no nível atual, o dólar teria que superar R$ 5,60 para que uma aposta a favor da moeda norte-americana compense. É melhor deixar o dinheiro no CDI. Além disso, não há mais a pressão do overhedge dos bancos e os exportadores estão trazendo recursos que deixavam no exterior quando o juro brasileiro era baixo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.