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07/Mar/2022

Dólar avança com a aversão ao risco pela guerra

Após dois dias de queda expressiva, em que acumulou desvalorização de 2,47% e flertou com o rompimento do piso de R$ 5,00, o dólar subiu na sexta-feira (04/03) no mercado doméstico de câmbio em sintonia com a valorização no exterior. O recrudescimento da guerra no Leste Europeu, na esteira do ataque russo a uma usina nuclear na Ucrânia (a maior da Europa), desencadeou um movimento global de aversão ao risco. Investidores venderam ações e correram para se abrigar no dólar e nos títulos do Tesouro norte-americano na véspera do fim de semana. No momento de maior estresse, a divisa registrou a máxima do pregão, cotada a R$ 5,10 (+1,43%). O dólar desacelerou o ritmo de alta ao longo da tarde e fechou a R$ 5,07, em alta de 1,00%. Apesar disso, encerra a semana pós-Carnaval, que contou com apenas três pregões, em queda de 1,50%, o que leva a desvalorização acumulada neste ano a 8,92%.

O DXY (que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes) trabalhou durante em forte alta na sexta-feira (04/03) e, na máxima, chegou a se aproximar dos 99,000 pontos. O dólar subiu em bloco em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com ganhos superiores a 2% frente a moedas do Leste Europeu, como o florim húngaro e o zloty polonês. O rublo, como era de se esperar, foi quem mais sofreu, com perdas de dois dígitos. O driver foi a questão geopolítica. Segundo a Planejar, o mercado estava se segurando relativamente bem, mas a questão ligada à energia nuclear é algo mais perigoso. Há fluxo para o Brasil, mas o dólar pode ter uma correção e subir mais com essa piora do risco. A despeito da alta do dólar, os fatores que dão sustentação à perspectiva favorável ao Real no curto prazo, em especial a forte alta das commodities (petróleo e grãos, por exemplo) e o diferencial de juros interno e externo elevado, seguem intactos.

Contudo, episódios mais agudos de aversão ao risco podem ensejar altas da moeda norte-americana no Brasil, ao provocar interrupção temporária de fluxo de recursos, abrindo espaço para realização pontual de lucros e ajuste de posições. A SVN Investimentos vê o avanço do dólar na sexta-feira (04/03) como moderado em comparação a perdas apresentadas pela moeda norte-americana nos dois dias anteriores. Há fluxo forte ainda de entrada para a Bolsa e houve uma explosão dos preços das commodities, o que favorece as exportações. Além disso, como o Brasil se antecipou no aperto monetário, tem um diferencial de juros bem mais atraente que outros emergentes. No dia 2 de março, quando o mercado brasileiro reabriu após o feriado de Carnaval, houve entrada de R$ 4,941 bilhões na B3. No acumulado de 2022, o aporte de capital externo na Bolsa já soma R$ 67,561 bilhões. Dados divulgados pelo Banco Central na semana passada mostram que o fluxo cambial total foi positivo em US$ 6,340 bilhões em fevereiro, com entrada líquida de US$ 3,347 bilhões pelo canal financeiro.

Com as atenções voltadas aos desdobramentos do conflito na Ucrânia, o resultado acima do esperado do relatório de emprego (payroll) dos Estados Unidos em fevereiro não teve poder de mexer com as expectativas para o rumo dos juros norte-americanos. É predominante a aposta de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) eleve a taxa básica de juros em 0,25% no dia 16 de março, como já externado pelo presidente do Fed, Jerome Powell, em audiências públicas no Congresso norte-americano na semana passada. Há dúvidas, contudo, se o Fed poderá manter uma postura gradualista caso a inflação avance ainda mais em razão dos choques de oferta provocados pela guerra na Ucrânia. Houve criação de 678 mil empregos nos Estados Unidos em fevereiro, frente à previsão de 440 mil vagas. A taxa de desemprego recuou de 4% em janeiro para 3,8% no mês passado, praticamente em linha com as expectativas (3,9%). Já o salário médio por hora decepcionou, com alta marginal de 0,03%, quando se esperava +0,05%.

O Fed veio com um discurso mais ameno e não vai subir os juros com tanta força em março, mesmo com a forte criação de emprego e queda da taxa de desemprego. Mas, parece inevitável que esse movimento de alta dos juros ganhe força ao longo do ano com os preços das commodities pressionados. No Brasil, as taxas de juros subiram com força, na esteira da preocupação com as pressões inflacionárias geradas pela disparada das commodities, e já embutem a perspectiva de uma taxa Selic acima de 13% no fim do atual ciclo de aperto monetário, o que, em tese, aumenta ainda mais a atratividade da renda fixa brasileira. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o PIB subiu 0,5% no 4º trimestre de 2021 na margem e fechou o ano passada com alta de 4,6%. Apesar de trazer algum impulso para este ano, esse resultado não desfaz a expectativa de atividade muito fraca em 2022. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.