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07/Mar/2022

PIB: incertezas impedem otimismo com resultado

Em meio a incertezas sobre os efeitos da guerra da Rússia com a Ucrânia, o mercado reagiu com cautela ao crescimento acima das expectativas do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre do ano passado. Ao contrário do que muitas vezes acontece após surpresas positivas com o PIB, desta vez, o resultado não deflagrou de imediato uma onda de revisões para cima sobre o desempenho da economia à frente. É provável que elas comecem a aparecer nesta semana, já que o crescimento de 0,5% apurado, na margem, nos últimos três meses de 2021, quando o consenso entre economistas era de alta de 0,2%, conferiu viés de alta aos cenários de alguns bancos (Itaú Unibanco e Bank of America - BofA entre eles). Nada, porém, que mude a tendência de forte desaceleração da atividade. O tom mais pessimista veio nos comentários de grandes bancos e consultorias internacionais, cujos economistas veem os riscos internos, as condições financeiras mais apertadas e o ambiente internacional desafiador engolirem sem dificuldade a modesta herança estatística deixada para 2022.

Se a atividade seguir na temperatura do quarto trimestre, a economia brasileira não precisará gerar novo crescimento para terminar o ano com alta de 0,3%. Esse carrego estatístico, o chamado carry-over, é melhor do que estimativas de bancos que vinham trabalhando com percentuais negativos. O problema está na completa falta de visibilidade em relação aos desdobramentos da crise do Leste Europeu na economia internacional, e seus reflexos no Brasil. Ao mesmo tempo em que as cotações das commodities exportadas pelo Brasil disparam, a expectativa é de mais uma esticada da inflação global. Como consequência, o Banco Central (BC) pode ficar ainda mais pressionado a subir os juros ou prolongar o ciclo de aperto monetário, ainda que a valorização do Real ajude a amortecer o aumento nos preços das matérias-primas na inflação doméstica. Reagindo a esse ambiente mais complexo, o UBS BB reduziu de 0,6% para 0,5% a previsão ao PIB de 2022, mesmo depois de conhecer os resultados finais do ano passado. O ambiente externo se tornou mais nebuloso, devido ao conflito no Leste Europeu e à provável resposta de política monetária doméstica.

Cautelosos, Citi, Goldman Sachs, Barclays e Bank of America (BofA), assim como a consultoria britânica Capital Economics, mantiveram intactas suas previsões à atividade brasileira este ano. Além de interromper o quadro de recessão técnica, a economia brasileira se reergueu completamente do tombo causado pela pandemia, agora está acima do patamar de antes da crise sanitária, e o governo, como era de se esperar, comemorou. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, disse que está ficando cada vez mais difícil a situação de quem aposta contra o País. O secretário especial de Estudos Econômicos do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, destacou que o PIB de 2021 confirma a trajetória de retomada na forma gráfica de "V" após o primeiro choque da pandemia. Na tabela das economias globais, contudo, o Brasil segue na parte de baixo em termos de crescimento. Segundo ranking da agência de classificação de risco Austin Rating, o País, com o crescimento de 4,6% do ano passado, ficou na 21ª posição entre 34 economias que já apresentaram resultados. A lista é liderada pelo Peru, que cresceu 13,3% em 2021.

Quando se olha para frente, choques climáticos esfriam o otimismo que economistas tinham em relação ao crescimento da produção agrícola, um dos destaques do quatro trimestre. Para o Citi, que manteve sua projeção de queda de 0,3% na atividade deste ano, a recente revisão da safra da soja (de queda de 2,3% ante 2021) e a escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia devem impedir que gargalos de oferta sejam solucionados. Além da recente revisão para baixo na safra da soja feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a escalada do conflito russo-ucraniano pode prolongar e/ou agravar as interrupções na cadeia de suprimentos por mais tempo, além de prejudicar ainda mais o desempenho do setor agropecuário ao longo deste ano, por meio do risco de escassez de fertilizantes. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirma que o Brasil tem estoque de fertilizantes até outubro, mas a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) afirmou que o montante supriria os produtores até junho.

A Capital Economics também aponta que a produção agrícola deve ser mais volátil este ano e não deve apresentar o mesmo desempenho forte que impulsionou o PIB do último trimestre do ano passado. Não há muito motivo para otimismo, pois os dados de serviços e indústria apontam para um primeiro trimestre já fraco. O Goldman Sachs citou uma lista de entraves internos que podem prejudicar a economia. O banco avaliou que o crescimento de 2022, previsto em 0,8%, deverá ser limitado pela onda de contaminações da pandemia no primeiro bimestre, a inflação alta persistente e as condições financeiras mais apertadas. Entre as variáveis que impedem um avanço mais robusto da atividade no curto prazo, o Goldman Sachs cita ainda o endividamento das famílias em nível histórico, as incertezas políticas e a baixa confiança tanto das empresas quanto dos consumidores. Por outro lado, considera que haverá crescimento adicional vindo do retorno, permitido pela vacinação, de setores afetados pela pandemia, em particular serviços domésticos, em conjunto com a nova rodada de estímulos fiscais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.