ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

07/Mar/2022

Brasil: consequências da guerra para a economia

Bombas e tiros na Ucrânia atingem os mercados, fazem os preços explodir e afetam quem vive a milhares de quilômetros da guerra, como a população do Brasil, já sujeita à inflação elevada e alto desemprego. A violência russa logo impactou as cotações de matérias-primas essenciais, como petróleo, trigo e milho, agravando o quadro inflacionário global. No começo do ano, quando o presidente Vladimir Putin ainda se preparava para ordenar o ataque, o custo de vida batia um recorde de três décadas num grande conjunto de países desenvolvidos e emergentes. Em janeiro, a inflação anual chegou a 7,2% na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada por 39 associados. Foi a maior taxa desde fevereiro de 1991. No Brasil, a alta acumulada atingiu 10,38%. A guerra da Rússia contra a Ucrânia complica, portanto, um quadro de preços já muito ruim no mercado internacional e no Brasil. Neste ano, a inflação brasileira deve ser menor que a do ano passado, segundo se prevê no mercado e no Ministério da Economia.

Mas, as projeções de entidades financeiras e de importantes consultorias têm piorado. Em quatro semanas passou de 5,38% para 5,60% o aumento estimado para a taxa oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Mas, os brasileiros devem ser afetados tanto pela inflação quanto pela política anti-inflacionária. Ainda muito elevada e agora sujeita a efeitos da guerra na Ucrânia, a inflação brasileira vem sendo combatida pelo Banco Central com forte aperto monetário. Os juros básicos chegaram a 10,75%, devem logo passar a 11,75% e antes do fim do ano baterão em 12,25%. O quadro poderá ficar pior, naturalmente, se a insegurança ocasionada pela Rússia se prolongar. Não há, por enquanto, perspectiva de alívio na política monetária antes do próximo ano, quando a taxa básica poderá, segundo se estima, cair para 8%, ainda superando amplamente os juros da maior parte das grandes economias.

Além disso, o espaço de manobra do Banco Central brasileiro poderá ser diminuído pela política do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), condutor da política monetária nos Estados Unidos. Segundo anunciou no dia 2 de março, o presidente do Fed, Jerome Powell, uma alta de 0,25% deverá ocorrer neste mês. Com isso, a referência passará da atual faixa de 0 a 0,25% para 0,25% a 0,50% ao ano. Nos meses seguintes poderá haver aumentos de até 0,5%, acrescentou, se a inflação for resistente. Em janeiro, chegou a 7,5%, nos Estados Unidos, a alta dos preços ao consumidor acumulada em 12 meses. Foi a maior taxa em quatro décadas. Muito ruim para o consumidor norte-americano, essa inflação é péssima para a imagem do presidente Joe Biden e um enorme desafio para os dirigentes do Fed. Juros norte-americanos têm grande influência internacional, afetando amplamente os mercados de crédito e de câmbio.

É muito difícil abrandar a política monetária, no Brasil e em muitos outros países, ignorando as indicações fixadas nos Estados Unidos. Brasileiros e norte-americanos, no entanto, enfrentarão o aperto monetário deste ano a partir de condições muito diferentes. Nos Estados Unidos, o desemprego em janeiro correspondeu a 4% da força de trabalho, taxa calculada com desconto dos efeitos sazonais. No Brasil, estava em 11,1%, no trimestre encerrado em dezembro, num cenário favorecido pelas condições sazonais do fim de ano. Em 2021, a economia norte-americana cresceu 5,7%, compensando com ampla folga a perda de 3,4% em 2020. A economia brasileira recuou 3,9% em 2020, cresceu menos de 5% no ano seguinte e deve avançar 0,3% em 2022, de acordo com o boletim Focus. Para os Estados Unidos estima-se expansão econômica de 3,5%. Com inflação alta e juros elevados, qualquer avanço econômico mais próximo de 1% será surpreendente. Os efeitos da guerra apenas complicam, no Brasil, um cenário já muito inquietante. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.