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04/Mar/2022

Brasil: previsão de alta na inflação e taxa de juros

O forte aumento das commodities na esteira da invasão da Ucrânia pela Rússia já colocou no radar do mercado o risco de uma inflação maior e, consequentemente, de uma taxa Selic mais alta do que o esperado. A depender da duração dos impactos sobre preços internacionais, há chance de um IPCA acima de 7% em 2022 e de um ciclo de aperto monetário mais longo, que termine com juros em torno de 13%. De imediato, os principais riscos para a inflação estão em torno de um reajuste da gasolina pela Petrobras, diante da alta dos preços de petróleo. Nesta semana, o Brent superou a marca de US$ 110,00 por barril pela primeira vez desde 2014, o que levou a defasagem do combustível a cerca de 25%, nas contas do UBS BB. O diesel, cujo preço tem impacto ao longo da cadeia de transportes, estava 20% abaixo da paridade de importação, segundo o banco de investimentos. Se for corrigir toda a diferença, a gasolina precisaria subir até 15%, e só isso daria um impacto de quase 0,5% no IPCA. O diesel subiria ainda mais, com impacto no custo de frete, de transporte, sem contar que uma alta dessa magnitude produziria uma reação de caminhoneiros.

O impacto para a inflação pode ficar entre 0,5% e 1%, considerando que as commodities se mantenham nesse patamar. Embora a incerteza do cenário seja grande, o repique dos preços de petróleo e outras commodities pode levar a um aumento das expectativas de inflação do mercado. A implicação pode ser de um cenário mais pressionado na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), entre os dias 15 e 16 de março, já que a sexta-feira (11/03), é uma data de referência para o Top 5, quando o mercado costuma ajustar as projeções. O Banco Central pode adotar um discurso mais duro, ganhar graus de liberdade em um cenário no qual a inflação pode ficar até 1% acima do esperado. O risco de cauda é esse cenário se manter, eventualmente se agravar, a inflação e as projeções para 2023 se deslocarem para cima e o Banco Central ter de entregar um juro que fica um pouco acima de 13%, em vez de um pouco abaixo. O efeito de curto prazo das tensões internacionais deve ser uma nova aceleração inflacionária no País, com repasse da alta do petróleo para os combustíveis.

O cenário-base indica IPCA de 5,6% em 2022, mas já se admite que é mais provável uma inflação entre 6,0% e 6,2%, a depender do nível no qual o barril do petróleo se estabilize. O Banco Central poderia vir com altas de 1% em março, 0,5% em maio e, talvez, 0,25% em junho. Mas, dadas as condições de hoje, não se pode excluir altas de 1% em março e maio, e mais alguma coisa em junho. Esse ainda não é o cenário-base, mas, entre os cenários possíveis, é o segundo mais provável. Houve piora do cenário, o que está levando a aumentos na projeção de IPCA fechado em 2022, para 6,3%, pela alta das commodities. A previsão incorpora pressão sobre alimentos por grãos e fertilizantes e um reajuste de 7% da Petrobras, o que é considerado conservador, diante de um `gap' calculado em 30% entre os preços domésticos e os praticados no mercado internacional. A pressão global de commodities deve provocar maiores custos na produção da indústria, gerar problemas nas cadeias de transporte como um todo e, consequentemente, acelerar a inflação mundial e brasileira, o que reforça a avaliação de que a inflação não será transitória. O IPCA pode chegar na faixa de 7,0% este ano, com viés de alta.

Alguns analistas não veem a Selic terminal subindo muito mais do que o nível entre 12% e 13%. O aperto monetário promovido pelo Copom indica que o Banco Central já fez o "dever de casa", o que precisava para tentar controlar a pressão inflacionária de curto prazo. É o momento de acompanhar os dados de inflação no Brasil e no exterior. Devem ocorrer pressões, mas não picos. É possível que haja uma inflação alta e duradoura, assim como uma taxa de juros. Mas, ainda é cedo para calcular um impacto efetivo da alta de commodities sobre a inflação, considerando a incerteza em torno da duração do conflito na Europa. Se o conflito no Leste Europeu durar pouco tempo, poderá até ter algum alívio na inflação do ano que vem. Vai ter forte impacto inflacionário em 2022, mas se não durar muito pode até ajudar a cumprir a meta de 2023, tendo como vetores a desaceleração da atividade e a parte da devolução do salto das matérias primas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.