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03/Mar/2022

Parceria Rússia-China pode afetar o agro do Brasil

A crise entre Rússia e Ucrânia realçou a importância da região em alguns setores básicos para a economia global. Além dos efeitos no setor de petróleo e gás, chamo a atenção o seu peso no setor agrícola, tanto na produção de grãos como trigo e milho quanto na fabricação de fertilizantes. Duas áreas das mais importantes para o Brasil, que tenta contabilizar os reflexos do conflito nas próximas semanas, meses e até anos. O Centro Insper Agro Global, estuda o potencial da Rússia e de países vizinhos no agro. O conflito deflagrado tende a estreitar uma parceria entre Rússia e China, que já tem influenciado o aumento da produção russa de alimentos e que, no longo prazo, poderá avançar sobre as vendas de produtos brasileiros ao mercado chinês. No curto prazo, os reflexos mais palpáveis do conflito serão a escassez de fertilizantes, a alta das cotações internacionais dos grãos e alguma redução na oferta de carnes de frango e suína.

Para o Brasil, haverá efeitos negativos derivados da falta e do encarecimento de adubos e do aumento do trigo importado, mas o País poderá se beneficiar da alta de soja e milho e conseguir algum avanço no embarque de proteínas. O que preocupa é o que está por trás dessa nova configuração geopolítica que ganha força. Agora ‘asiocêntrica’, a Rússia reaparece com maior influência no comércio global, e sua aliança com a China, cujas relações comerciais com os Estados Unidos ainda são problemáticas, pode significar maior estímulo ao crescimento da produção agrícola na região. No longo prazo, Rússia e países vizinhos poderão se tornar grandes concorrentes do Brasil. Com quase 100 milhões de hectares de terras agricultáveis, e com a mudança climática já deixando novas áreas para a agricultura abertas na Sibéria, a Rússia detém um grande potencial inexplorado para cobrir parte da pujante demanda chinesa por alimentos.

Além de trigo e cultivos de inverno, há potencial para o incremento das colheitas de soja e milho, os grãos mais produzidos e exportados pelo Brasil, no caso da soja, sobretudo à China. Para a China, além das questões geopolíticas há uma clara vantagem logística nessa aproximação com a Rússia. E o movimento torna mais urgente que o Brasil consolide relações bilaterais mais sólidas, com mais credibilidade e transparência, para garantir mercados no futuro. A China tem que ser tratada como a parceira importante que é, ao mesmo tempo em que o Brasil não pode esquecer que a Rússia também pode ser um mercado mais importante para as exportações brasileiras. A melhor estratégia é manter, neste momento, uma equidistância prudente. É preciso ter boas relações com todos os países envolvidos no conflito. Nesse processo, é importante que a iniciativa privada faça a sua parte. Na Ásia, é preciso que as empresas exportadoras tenham presença mais ativa, com operações locais mais relevantes. Fonte: Valor Econômico. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.