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02/Mar/2022

Sanções à Rússia apresentam riscos imprevisíveis

A sabedoria convencional até a semana passada era que sanções tinham influência limitada em um Estado-nação, especialmente em um tão grande quanto a Rússia. Mas essa sabedoria pode precisar ser revisitada. As sanções impostas à Rússia por sua invasão à Ucrânia provavelmente causarão muito mais danos do que o presidente Vladimir Putin pensava ser possível. Ao atingir os bancos comerciais, o banco central, os líderes políticos e empresariais da Rússia e a indústria, o Ocidente está aplicando uma punição econômica que levou anos para se desdobrar em estados párias menores, como o Irã e a Coreia do Norte. O governo americano deixou o objetivo claro: transformar a Rússia em "um pária global, econômico e financeiro".

E, no entanto, como acontece com a guerra real, a guerra econômica total tem repercussões que os Estados Unidos e seus aliados podem ainda não ver. Não está claro se as sanções mudarão o comportamento de Putin, e elas podem causar transtornos de longo alcance para o Ocidente. Desde 2014, quando a Rússia foi atingida por sanções específicas por anexar a Crimeia, Putin tem trabalhado para reduzir a influência do resto do mundo sobre a Rússia. O país tem uma conta corrente e superávits fiscais, o que significa que não há necessidade de empréstimos de credores estrangeiros ou domésticos, baixa dívida externa, reservas cambiais diversificadas de US$ 630 bilhões, uma moeda flutuante e um banco central principalmente autônomo que visa inflação de 4% ao ano.

Assim, o país eliminou a maioria das vulnerabilidades que normalmente provocavam crises - como a do calote da Rússia em 1998. Mas a Rússia ainda faz negócios com o mundo, o que exige capacidade de pagar suas contas. Com o acesso às suas reservas fortemente restringido e o Ocidente unido em sanções, o banco central é menos capaz de comprar o rublo para defender seu valor, pagar juros e guiar a dívida externa que poderia levar ao calote, ou fornecer moeda estrangeira aos bancos comerciais, que enfrentam uma corrida para depósitos. Os importadores russos não têm certeza de que alguém receberá seu dinheiro. É como se os governos ocidentais tivessem, em uma “canetada”, induzido ao tipo de crise que regularmente se abateu sobre mercados emergentes nas décadas de 1980 e 1990.

Riscos para todos

A Rússia ainda é amortecida por suas pesadas exportações de petróleo e gás, que são amplamente isentas de sanções. No entanto, essa almofada tem limites: o petróleo russo agora está sendo vendido com um desconto considerável, enquanto os preços globais, agora a mais de US$ 100 por barril, estão em risco se a economia mundial cair. Existem riscos enormes quando se tem uma parada brusca no financiamento e está exposto à volatilidade dos preços do petróleo. O custo de longo prazo para a Rússia será ainda maior. As proibições ocidentais de venda de tecnologia minarão as capacidades da indústria militar e civil russa, restringirão o potencial de crescimento da economia e aumentarão o atraso tecnológico da Rússia. Invadir a Ucrânia é uma “bomba” sobre o futuro da Rússia.

Enquanto isso, à medida que a Europa diversifica seu suprimento de energia, a Rússia dependerá cada vez mais da venda de gás natural para a China, que provavelmente pagará menos do que muitos compradores concorrentes da Europa. Expulsar uma economia tão grande do sistema financeiro de forma tão abrupta pode desencadear uma dinâmica imprevista. Pode haver vinculações financeiras sobre as quais temos muito pouca ideia. O BC da Rússia é um ator importante nos mercados globais. Não sabemos como as posições vão se desenrolar. A guerra e as sanções que a acompanham já estão ameaçando outro choque de oferta que desacelera o crescimento e aumenta a inflação na Europa e nos Estados Unidos - e um corte nas exportações russas de petróleo ou gás natural a exacerbaria dramaticamente.

Sanções funcionam?

Sanções raramente forçam o país-alvo a mudar seu comportamento – autocratas como Putin simplesmente não estão tão expostos à miséria de seu próprio povo. Ele está pronto para sacrificar a economia e a renda das famílias, porque quer ser grande. O que acontece se o comportamento de Putin não mudar: teremos uma economia russa empobrecida e destruída e a Ucrânia destruída, então o que ganhamos com tudo isso?" No final das contas, uma Rússia expulsa da economia global também é uma Rússia fora do alcance da influência econômica.

A China provavelmente responderá intensificando seus próprios esforços para se desvincular do Ocidente – o país já está desenvolvendo alternativas aos sistemas de pagamento baseados em dólar, fontes domésticas de tecnologia-chave por meio da política de "dupla circulação" do presidente Xi Jinping e sua própria esfera de influência econômica por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota. Porém, isso pode não enfraquecer o motivo para sanções. A economia global estava se subdividindo em blocos concorrentes antes da Rússia invadir a Ucrânia. As sanções estão simplesmente acelerando o processo. Fonte: Dow Jones Newswires – Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.