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24/Fev/2022

Rússia-Ucrânia: tensão elevará riscos econômicos

A decisão da Rússia de enviar tropas para duas províncias ucranianas separatistas, e a possibilidade de aumento das agressões e das sanções retaliatórias pelo Ocidente, aumentam os riscos para uma economia global cambaleante, devido às cadeias de suprimento atravancadas e algumas das maiores taxas de inflação em anos, incluindo o aumento dos preços da energia, ainda mais impulsionado pelas tensões. Na segunda-feira (21/02), o presidente Vladimir Putin ordenou que os soldados invadissem duas regiões separatistas da Ucrânia após reconhecer sua independência. A medida ameaça acabar com as negociações com o Ocidente sobre a futura segurança da Europa Oriental, além de desencadear sanções retaliatórias. O preço do petróleo disparou, com o valor de referência global fechando a quase US$ 100,00 por barril, embora tenha recuado um pouco. Outras grandes exportações russas e ucranianas, como gás natural, trigo, alumínio e níquel, também subiram.

Grandes empresas com operações na Rússia, ou dependentes de matérias-primas do país, disseram estar se preparando para interrupções. Na terça-feira (22/02), a Alemanha disse que postergou indefinidamente seus planos de certificação do gasoduto Nord Stream 2, que havia sido programado para aumentar os volumes de gás russo para a Alemanha, em retaliação ao movimento militar da Rússia. A União Europeia, por sua vez, estava considerando sanções abrangentes às entidades russas, incluindo a proibição de compra da dívida russa, e as sanções contra todos os membros da Duma Federal, um órgão legislativo chave da Rússia. O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou a primeira onda de sanções na terça-feira (22/02), para atingir os interesses econômicos russos o mais duramente possível. Johnson disse que o Reino Unido sancionaria cinco bancos russos e indivíduos de patrimônio líquido muito alto.

Todos os ativos que eles possuem no Reino Unido serão congelados, as pessoas em questão serão impedidas de viajar o Reino Unido, e haverá proibição de que as pessoas físicas e entidades britânicas tenham qualquer relação com eles. O fardo de qualquer pressão econômica tende a ser suportado pela Europa, que depende fortemente da energia russa, e cujos bancos e empresas poderiam ser envolvidos em sanções. Embora destinadas a entidades russas, essas medidas poderiam gerar uma série de novos problemas na linha de abastecimento das empresas ocidentais, incluindo o endurecimento sobre o financiamento de compras de commodities ou de remessa de peças para suas operações na Rússia. Na sexta-feira (18/02), a Renault SA disse que o agravamento das tensões entre a Rússia e a Ucrânia poderia levar a outra crise da cadeia de suprimentos relacionada a peças que teriam que vir do exterior. O conflito já resultou em custos mais elevados de transporte regional.

Para a empresa de consultoria de transporte marítimo The Charterers, a crise adicionou US$ 3,00 a US$ 5,00 por tonelada métrica aos custos de frete dos portos do Mar Negro. Isso inclui um prêmio de seguro de até US$ 0,50 por tonelada métrica por afretamento. A crise na Ucrânia complica o cálculo já complexo dos principais bancos centrais, incluindo o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e o Banco Central Europeu (BCE), à medida que se preparam para eliminar gradualmente as políticas de estímulo estabelecidas durante a pandemia em meio a um aumento da inflação. Tanto o Fed quanto o BCE, provavelmente atuarão com mais cautela nas reuniões políticas no próximo mês, em que se esperava que eles esboçassem planos ousados para eliminar gradualmente o dinheiro fácil. O conflito não deverá alterar o raciocínio do Fed sobre a necessidade de aumentar as taxas de juros na reunião, que acontecerá nos dias 15 e 16 de março.

Mas, a incerteza econômica de tal conflito, provavelmente, enfraquecerá o argumento do Fed para aumentar as taxas em meio ponto porcentual ou mais. Para o BCE, o conflito na Ucrânia torna improvável acelerar uma mudança esperada para o aumento das taxas de juros, dado o provável impacto negativo sobre o crescimento e a confiança. Os investidores já começaram a segurar suas apostas sobre quando o BCE começará a aumentar as taxas de juros, de acordo com dados do money market. A escala do impacto dependerá da extensão e duração das ambições de Putin na Ucrânia. Os dois enclaves separatistas, para onde ele enviou tropas, já haviam sido amplamente controlados pela Rússia de qualquer maneira. Se ele continuar enviando mais tropas para a Ucrânia, uma perspectiva que os líderes ocidentais vêm dizendo há semanas que é possível, a infraestrutura crucial para levar as vastas exportações dos dois países ao mercado pode ficar ameaçada.

A gravidade das sanções dos Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido também determinará o quanto o conflito afetará as economias mais distantes. Alguns economistas dizem que o pior cenário pode ser uma crise no estilo dos anos 1970, em que os suprimentos de gás natural, petróleo e outras matérias-primas serão prejudicados em um momento em que a demanda das economias em recuperação dos lockdowns pandêmicos está aumentando. A Rússia e a Ucrânia juntas representam uma pequena parte da produção econômica global, e não constituem mercados de exportação significativos para a Europa ou os Estados Unidos. Mas, em um momento em que os preços do petróleo, gás e outras commodities, como o trigo, já estão impulsionando um aumento global da inflação, qualquer perda de oferta da Rússia e da Ucrânia poderia empurrar os preços ainda mais para cima, além de enfraquecer a produção econômica, particularmente na Europa.

O Instituto Nacional de Pesquisas Econômicas e Sociais do Reino Unido (NIESR) fez alguns cálculos baseados em um aumento das tensões, chegando a um ponto em que sanções serão impostas às exportações de energia da Rússia, ou a própria Rússia cortará as exportações de gás em retaliação contra outras sanções. Tais interrupções reduziriam o crescimento econômico global este ano em pouco menos de 1%, para 3,3%. Para a zona do euro, o impacto seria maior, com o crescimento anual desacelerando para 2,1% em comparação com 3,8%, sem contar os preços mais altos e o investimento reduzido pelas empresas, que o NIESR prevê que aconteça com a ameaça da guerra. As amplas implicações são um pouco reminiscentes da crise energética dos anos 1970, afirma o NIESR. Os preços mais altos e as limitações de oferta interromperam severamente a atividade econômica na economia global e levaram a uma inflação mais alta.

De acordo com a agência de estatísticas da União Europeia, o bloco dependeu da Rússia para 47% de suas importações de gás nos primeiros seis meses de 2021, mais do que o dobro dos 21% que comprou de seu segundo maior fornecedor, a Noruega. No mesmo período, a Rússia foi responsável por quase um quarto das importações de petróleo da União Europeia, seguida novamente pela Noruega, com uma participação de 9,1%. Segundo o Instituto Peterson de Economia Internacional, reduções substanciais nas entregas russas de gás para a Europa seriam difíceis de substituir no curto prazo. A Rússia também é um importante produtor de cobre e alumínio. Qualquer dificuldade em levar essas mercadorias aos clientes em todo o mundo causaria novas interrupções nas cadeias de suprimentos já tensas. Ainda lutando para superar a escassez de semicondutores, a indústria automobilística pode vir a enfrentar problemas adicionais, se o fornecimento de paládio da Rússia diminuir.

O metal é usado em conversores catalíticos. O MC Norilsk Nickel PJSC da Rússia é seu maior produtor global, respondendo por cerca de 25% a 30% da produção mundial. Juntamente com a Ucrânia, a Rússia é um grande produtor de trigo, bem como de ingredientes-chave para fertilizantes, como ureia e potassa. Qualquer redução na oferta desses itens, possivelmente, aumentaria os preços dos alimentos. As duas nações juntas respondem por 29% das exportações globais de trigo, de acordo com os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). O vizinho Mar Negro serve como um importante canal para embarques internacionais de grãos, e a Ucrânia também está entre os principais exportadores de cevada, milho e colza. O Egito e outros países do Oriente Médio e norte da África dependem fortemente de grãos russos e ucranianos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.