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22/Fev/2022

Dólar recua mesmo com maior tensão geopolítica

Apesar do clima de cautela no exterior em meio às incertezas sobre o desfecho da crise envolvendo Rússia e Ucrânia, o dólar abriu a semana em queda firme no mercado doméstico de câmbio. Mais uma vez, operadores relataram entrada de capital externo para ativos locais, redução de posições compradas em dólar (que ganham com a alta da moeda) por estrangeiros no mercado futuro e fechamento de câmbio por parte de exportadores. Entre o fim da manhã e início da tarde, a divisa rompeu o piso de R$ 5,10 e desceu até a mínima de R$ 5,07 (-1,26%). Ao longo da etapa vespertina, com o dólar passando a ganhar terreno frente a divisas emergentes e a virada do Ibovespa para o campo negativo, a moeda diminuiu o ritmo de queda no Brasil. No fim da sessão, recuava 0,64%, a R$ 5,10, menor valor desde 29 de julho.

Em dia de ausência da referência dos mercados norte-americanos, fechados por conta de feriado nos Estados Unidos, a liquidez no mercado futuro foi mais reduzida, com o contrato de dólar futuro mais líquido, para março, girando cerca de US$ 10 bilhões. No exterior, o índice DXY (que mede a variação do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes) exibia leve alta, acima dos 96,100 pontos. A moeda norte-americana subiu frente à maioria de divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com ganhos de mais de 3% ante o rublo, abalado pela crise geopolítica. Em meio a tentativas de líderes do Ocidente de encontrar uma saída diplomática para a crise geopolítica, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, reconheceu as regiões separatistas de Donetsk e Luhansk na Ucrânia como independentes. A União Europeia reagiu com a promessa de imposição de sanções à Rússia.

Como tem sido habitual, o Real figurou com a divisa de melhor desempenho global, fenômeno atribuído por operadores e economistas à taxa de juros básica elevada (10,75%) e ao apetite dos estrangeiros por ativos ligados a commodities, preferidos na rotação global de portfólio diante da expectativa de alta de juros nos Estados Unidos a partir de março. Os contratos futuros do petróleo subiram quase 3%, ao passo que a cotação do minério de ferro negociado em Qingdao, na China, avançou 5%. Segundo a Valor Investimentos, os preços elevados das commodities e o patamar atual das ações brasileiras tornam o Brasil muito atraente para os estrangeiros. Em 2022, o saldo do capital externo na B3 já ultrapassa US$ 53 bilhões. Além disso, a Selic em patamares de dois dígitos atrai investidores para a renda fixa. O juro real positivo é o melhor produto de exportação do Brasil neste momento mais conturbado da economia mundial. O Real foi uma das piores moedas no ano passado. E agora está no topo da lista.

As expectativas de inflação seguem pressionadas e ratificam as projeções de taxa Selic perto de 13% ao ano. A mediana do boletim Focus trouxe aumento da expectativa para o IPCA deste ano de 5,50% para 5,56%, ao passo que a estimativa para 2023 ficou estacionada em 3,50%. A projeção para taxa Selic no fim de 2022 permaneceu em 12,25%. As atenções do mercado estão voltadas para a divulgação nesta semana do IPCA-15 de fevereiro, na quarta-feira (23/02). O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o Banco Central brasileiro teve um diagnóstico rápido e certeiro sobre a inflação e que saiu na frente no processo de aperto monetário, embora outros países emergentes, como Chile, Colômbia e México estejam surpreendendo com ações mais fortes que o esperado. Segundo Campos Neto, o Brasil seria, ao lado da Rússia, o único país do mundo a ter taxa de juros acima da neutra.

Não se pode descartar até mesmo um juro superior à 13% (não é o cenário referencial), pois, por enquanto, as medianas das expectativas de inflação ainda não estabilizaram. Segundo a JF Trust, a elasticidade dos juros ainda beneficia o ingresso no fluxo cambial. O IPCA-15 deve mostrar grau elevado de disseminação de reajustes. Para a Armor Capital, o Real se beneficia da rotação de carteiras de investidores globais em contexto de melhores ventos sobre a China e commodities. Além dos mais de R$ 50 bilhões de ingresso estrangeiro na Bolsa (que não implicam, necessariamente, fluxo de divisas), é factível que os estrangeiros estejam entrando em renda fixa, dado o diferencial entre juros externos. A grande questão é a perenidade desses investimentos em portfólio, pois tendem a ser muito voláteis. Ainda mais em momentos de tantos desafios internos com a recessão, inflação elevada, eleição polarizada e incertezas sobre o regime e regras fiscais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.