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21/Fev/2022

EUA criticam a aproximação entre Brasil e Rússia

O Departamento de Estado dos Estados Unidos criticou a manifestação de solidariedade à Rússia feita pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em visita ao russo Vladimir Putin. Para o Departamento de Estado, o momento em que o presidente do Brasil se solidarizou com a Rússia, quando as forças russas estão se preparando para potencialmente lançar ataques a cidades ucranianas, não poderia ter sido pior. Isso mina a diplomacia internacional destinada a evitar um desastre estratégico e humanitário, bem como os próprios apelos do Brasil por uma solução pacífica para a crise. Os norte-americanos também afirmaram que o Brasil parece ignorar a situação na região, o que a diplomacia dos Estados Unidos considera uma inconsistência no histórico diplomático brasileiro. Há uma narrativa falsa de que o engajamento com o Brasil na Rússia envolve pedir ao Brasil que escolha entre os Estados Unidos e a Rússia. Esse não é o caso.

A questão é que o Brasil, como um país importante, parece ignorar a agressão armada por uma grande potência contra um vizinho menor, uma posição inconsistente com a ênfase histórica do País na paz e na diplomacia. A manifestação dos norte-americanos veio em tom superior ao que vinha sendo adotado pela diplomacia do governo Biden publicamente, a respeito da viagem de Bolsonaro à Rússia. Até então, os norte-americanos diziam esperar que o presidente brasileiro aproveitasse a oportunidade com Putin para expressar valores compartilhados entre Brasil e Estados Unidos, como respeito à uma ordem internacional baseada em regras. O fato é que a viagem do presidente Jair Bolsonaro à Rússia e à Hungria terminou sem compromissos, acordos ou alianças relevantes, enfim, sem qualquer ganho palpável aos interesses nacionais. O consolo é que, dado o histórico de trapalhadas do presidente, a coisa poderia ter sido pior.

Se os interesses do Brasil com a Hungria são inócuos, a Rússia fornece fertilizantes para o agronegócio e tem empresas relevantes na área de energia. Além disso, integra o Brics, é um polo tecnológico e uma superpotência militar, membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), com capacidade de facilitar as pretensões do Brasil. Em tempos normais, portanto, não haveria inconveniente no encontro entre os líderes russo e brasileiro. Mas, estes não são tempos normais nem esse é um governo normal. O encontro, é verdade, foi marcado antes da crise com a Ucrânia. Mas, quando as hostilidades começaram, em novembro, havia tempo para manejar sem atritos um adiamento e evitar o risco de um presidente brasileiro assistir de um camarote russo à invasão. Se nas últimas semanas não havia essa margem e, por sorte, a invasão não aconteceu, nem por isso o Brasil foi poupado de constrangimentos. Nas declarações oficiais, Bolsonaro fez acenos genéricos à paz.

Mas, falando no improviso, corroborou um recuo russo, negado pela Otan, chegando a insinuar que poderia ter sido por sua influência. Pior: declarou que o Brasil é "solidário" à Rússia, que, sem entrar no mérito da disputa, é o país agressor, não o agredido. Mas, a viagem não foi só inadvertidamente inoportuna, como previsivelmente contraproducente. Um chefe de Estado não viaja para negociar acordos, só para fechá-los ou destravar impasses. Mas, nada disso, nem sequer uma negociação, estava na pauta. A nota do Itamaraty expõe essa vacuidade. Encontros protocolares e pragmaticamente inócuos são justificáveis na rotina das relações com parceiros relevantes. Mas, para que a justificativa seja válida, é preciso que haja essa rotina. Porém, a única diretriz palpável da política externa de Bolsonaro foi a bajulação do ex-presidente norte-americano Donald Trump. Fora isso, não houve nenhum compromisso bilateral relevante. Nos fóruns internacionais, limitou-se a propagandear realizações fictícias de seu governo e, em vez de criar laços com outras lideranças, preferiu conversar com garçons e insultar chefes de Estado, como a chanceler da Alemanha ou o presidente da França.

Mais grave foi a hostilidade intempestiva a parceiros comerciais como a China, o maior de todos, ou à Argentina, o maior comprador da indústria nacional. Quanto à questão mais sensível para a comunidade internacional, a ambiental, Bolsonaro só ofereceu desídia e escárnio, chegando a ameaçar retaliar com "pólvora" uma delirante invasão da Amazônia pelos Estados Unidos. Na pandemia, consagrou-se como o líder negacionista par excellence. Ao estreitar laços com dois nacionalistas autoritários como Vladimir Putin e Viktor Orbán, Bolsonaro só acentuou o isolamento em que enfiou o Brasil. Injustificável em relação aos interesses do País, a viagem é explicável pelos interesses eleitorais do clã Bolsonaro.

Tanto que o presidente, que se especializou em ridicularizar os protocolos sanitários no Brasil, se submeteu a uma humilhante bateria de testagens só para garantir uma foto ao lado do ditador russo. O vereador Carlos Bolsonaro, coordenador das virulentas redes sociais do pai, teve lugar de destaque na delegação presidencial, e certamente não era para negociar fertilizantes. Na falta de algo mais elevado, a militância bolsonarista se refestela com a foto em que Bolsonaro aparece mais alto do que Putin. Felizmente, a sua minúscula estatura como estadista permitiu que a visita inoportuna passasse despercebida aos olhos da comunidade internacional. Mas, isso já é um sintoma do apequenamento a que ele submete o Brasil. Em outros tempos, o País seria encarado como um ator diplomático relevante; hoje, com Bolsonaro, é só digno de dó. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.