ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

15/Fev/2022

Safra 2021/2022: números descartam um recorde

Saiu na semana passada o quinto levantamento da safra de grãos realizado mensalmente pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), acompanhando o desenvolvimento das culturas em todo o País. Como é sabido, a forte estiagem que afetou os três estados do Sul e Mato Grosso do Sul reduziu a estimativa de produção de milho e soja, acabando com o sonho de colhermos uma safra recorde histórica que poderia chegar a 300 milhões de toneladas de grãos. A expectativa agora em fevereiro é de alcançar uma colheita de 268,2 milhões de toneladas, dependendo ainda do tamanho da 2ª safra de milho. Não é um número ruim, até porque ainda seria 5% maior que a do ano passado. Mas vale lembrar que a colheita de 2021 foi terrivelmente sacrificada com a seca que derrubou a 2ª de milho em mais de 20 milhões de toneladas. Descendo a alguns detalhes, fica claro o problema dos sojicultores. No Paraná, a quebra será de 34,4%, segundo a Conab. No Rio Grande do Sul, redução de 33,9%.

Em Santa Catarina, que não tem grande expressão nessa oleaginosa, a quebra deve ser de 11,2%. E em Mato Grosso do Sul a quebra chegará a 20,5%. As entidades de representação dos quatros Estados acreditam em perdas um pouco maiores. A produção total esperada para o País inteiro é de 125,5 milhões de toneladas, ou 9% a menos que a do ano passado, embora a área tenha aumentado 5%. No caso do milho, a produção esperada para a safra de verão (1ª safra 2021/2022) é de 24,5 milhões de toneladas. As reduções devidas à seca devem atingir 13,5% no Paraná, duros 32% no Rio Grande do Sul, e sem maiores danos em Mato Grosso do Sul. Mas, o que importa nesse cereal fundamental para ração animal é a 2ª safra, ou de inverno, que normalmente equivale a 75% do total da produção. Como o plantio de soja em 2021 foi antecipado (porque choveu em outubro), a janela para a segunda safra de milho ficou maior e mais oportuna e a semeadura está a pleno vapor.

Se tudo correr bem, e o La Niña for embora, poderemos chegar a 86 milhões de toneladas. Ambos os volumes, somados à pequena 3ª safra (pouco mais de 1,2 milhão), permitem avaliar a colheita total em 112,3 milhões de toneladas, o que abastece o mercado interno e garante uma exportação próxima a 30 milhões de toneladas. Estes números significam basicamente que a contribuição do campo para a redução da inflação não será tão significativa quanto seria se a safra fosse cheia e alcançasse mesmo os 300 milhões de toneladas. Essa é uma notícia ruim para a economia e péssima para os consumidores, já prejudicados com a falta de empregos e de renda determinados pela pandemia. E, naturalmente, aqueles produtores que tiveram fortes quedas na produção e não fizeram o seguro rural terão dificuldades para se reerguerem. O governo está atento a tais circunstâncias. Outras culturas também são analisadas. Arroz, alimento básico de todo brasileiro, terá uma safra 10% menor que a do ano passado, devendo atingir 10,6 milhões de toneladas.

Normalmente importamos um pouco para assegurar o abastecimento interno, e o Uruguai é nosso tradicional supridor. Vale a pena uma avaliação, ainda muito inicial, sobre a expectativa de duas grandes culturas: cana-de-açúcar e café. No caso do café, o último levantamento é de janeiro passado, e indica uma colheita de 55,7 milhões de sacas de 60 Kg, sendo 37,8 milhões de sacas de 60 Kg de arábica e 16,9 milhões de sacas de 60 Kg de robusta (conillon). Neste caso, é sempre importante lembrar que o café tem como característica a bianualidade: um ano produz bem e no seguinte produz menos, para a árvore se recuperar. Por isso, a comparação de tamanho de safra de café deste ano deve ser feita com 2020 (quando foram produzidas 63 milhões de sacas de 60 Kg) porque o ano passado já seria menor, e piorou por causa da geada. A geada também afetou o volume de 2022, menor que 2020. Uma ótima notícia em relação ao café, mas no cenário político, foi a eleição, na semana passada, da brasileira Vanusia Nogueira para o importante cargo de diretora executiva da Organização Internacional do Café (OIC).

Há 25 anos como diretora da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), Vanusia promoveu os cafés do Brasil interna e internacionalmente, destacando a qualidade do produto e a sustentabilidade da produção. Um orgulho para o Brasil e um merecimento para a nova diretora da OIC. Finalmente, as estimativas para cana-de-açúcar. A seca de 2021 inibiu a brotação das soqueiras, de modo que os canaviais cortados cedo ficaram muito falhados. E grande parte do que tinha brotado foi atingido pelas geadas de junho e julho, que também judiaram das canas plantadas no começo do ano. Tudo isso levou a uma expectativa de produção 13% menor esse ano. Mesmo com todas essas reduções de produção, exclusivamente por fatores climáticos, o agronegócio ainda deverá ter um crescimento econômico devido aos preços da commodities, puxados pela crescente demanda global por alimentos e segurança alimentar. E com isso ajudará o País a não ter um PIB reduzido em 2022. Fonte: Roberto Rodrigues. Fundação Getúlio Vargas (FGV). Broadcast Agro.