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09/Fev/2022

Inflação brasileira é mais perversa e disfuncional

A inflação é um desafio global, mas o problema é muito maior no Brasil do que na maior parte do mundo capitalista, como ficou claro, mais uma vez, em relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Além de maior, a inflação brasileira é mais dolorosa e mais disfuncional do que nas economias avançadas e em boa parte das emergentes. A desigualdade e a pobreza, agravadas nos últimos dez anos, tornam milhões de famílias mais vulneráveis à alta de preços, especialmente de itens como comida, energia e transportes. Além disso, velhas deficiências da economia nacional, como a excessiva dependência do transporte rodoviário, amplificam os danos causados pelo encarecimento dos combustíveis.

Qualquer aumento do diesel pode afetar perigosamente o custo da comida posta na mesa dos brasileiros. Mesmo sem esses detalhes, os números coletados e publicados pela OCDE evidenciam a diferença entre o surto inflacionário observado no Brasil, no segundo ano da pandemia, e aquele registrado em dezenas de economias avançadas e emergentes. Os preços ao consumidor subiram 6,6% nos 12 meses até dezembro, no conjunto dos 38 países-membros da organização. Foi a maior taxa anual desde julho de 1991. No ano passado, a inflação brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), chegou a 10,06%, ou 10,1%, pelo arredondamento usado no relatório. Alimentos e energia ficaram mais caros também nos países da OCDE, mas com menor impacto no conjunto de preços e nas condições de vida.

A desvantagem brasileira torna-se escancarada quando se examinam os números dos países da OCDE. Excluída a Turquia, onde os preços aumentaram 36,1% nos 12 meses até dezembro, a média se reduz a 5,6%. Além disso, o surto foi bem menos intenso na maior parte desses países. Em 28 deles, a inflação foi inferior a 7%. Em 17, ficou abaixo de 5%. Nos Estados Unidos, bateu em 7%, a maior taxa em 39 anos, mas o país fechou 2021 com desemprego de 3,9%. No Brasil, a desocupação ainda estava em 11,6% no trimestre findo em novembro, com 12,4 milhões de pessoas em busca de vagas. Nos 12 meses até dezembro, os preços ao consumidor subiram 6,1%, em média, no Grupo dos 20 (G-20), onde se incluem, além do Brasil, várias grandes economias não participantes da OCDE.

Também nesse conjunto há vários exemplos de inflação inferior à brasileira: 5,6% na Índia, 5,9% na África do Sul, 1,9% na Indonésia, 1,2% na Arábia Saudita, 8,4% na Rússia e 1,5% na China. A Argentina se destaca negativamente com uma taxa de 50,9%. No Brasil, a inflação tem formado um trio sinistro com desemprego elevado e economia sem dinamismo. Em 2021 o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter crescido 4,7%, segundo estimativa do mercado. Essa taxa bastou para reconduzir a atividade econômica ao nível pré-pandemia, compensando com alguma folga a perda de 3,9% ocorrida em 2020. Mas a indústria permaneceu muito fraca, sem reverter a tendência negativa observada a partir de 2012, e as projeções para 2022 compõem um quadro de estagnação. Segundo estimativas correntes, o PIB dificilmente crescerá mais que 0,5% neste ano e o desemprego continuará assombrando os brasileiros.

A inflação poderá diminuir, mas com risco de superar o teto da meta oficial. O centro do alvo é 3,5% e o limite superior de tolerância é 5%. Em 2021 a alta de preços ultrapassou de longe o teto da meta, de 5,25%. O surto global, atribuível basicamente às cotações internacionais de alimentos e de petróleo e a falhas nas cadeias de suprimento, explica apenas em parte a inflação brasileira. Esta inflação está fortemente relacionada a fatores internos, como a crise hídrica e energética, a persistente indexação e, ultimamente, as incertezas sobre as perspectivas econômicas e as contas públicas. Alimentadas principalmente pelo atual governo federal, essas incertezas provocam, entre outros efeitos, instabilidade cambial e contaminação dos preços pela alta do dólar, problemas made in Brazil. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.