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08/Fev/2022

União Europeia: retrocesso na questão ambiental

Um dos pontos do globo com o discurso mais forte em relação às questões ambientais, a Europa deu um passo atrás nesse assunto. O bloco comum decidiu incluir alguns investimentos em energia nuclear e gás natural nos próximos anos sob o selo de "sustentáveis". A medida, claro, foi alvo de forte oposição de ambientalistas, investidores e até de alguns países da União Europeia (UE), que alegam prejuízo à integridade e à utilidade da taxonomia do grupo. O anúncio explica que não se trata de algo generalizado, mas o temor é o de que, ao incluir projetos desse tipo na classificação verde, recursos que poderiam ser alocados em projetos sustentáveis de verdade acabem financiando velhos modos de geração de energia. As críticas são mais fortes dentro do próprio bloco quanto menos dependentes são os países dessas fontes. A Alemanha é mais dura, por exemplo, em relação à energia nuclear, pois não necessita dela.

Da mesma forma, Holanda e Dinamarca se posicionaram de forma contrária ao gás natural. Com uma iminente guerra envolvendo a Rússia, o maior provedor de gás para aquecimento no continente, é natural que haja algum desconforto por parte dos líderes. E é justamente pela Ucrânia que o produto é canalizado para os países da região, colocando todos em alerta. Nos últimos tempos, a Rússia diversificou parte das vendas da estatal para países asiáticos e, em 2021, o uso de carvão saltou de 10% a 15% pelos países da União Europeia para suprir a escassez de gás num ano de inverno mais duro e longo, que levou a um aumento da demanda por eletricidade aos níveis pré-pandemia. O G7 já reconheceu em um comunicado que a queima de carvão é a maior causa individual de emissões de gases de efeito estufa. A Europa está na vanguarda do movimento para reduzir o aquecimento global, conta com o maior mercado de créditos de carbono do mundo e tem imposto regras rígidas aos setores mais poluentes.

O revés pode manchar essa imagem e diminuir a força de pressão do bloco sobre outros países. Afinal, apesar do discurso a favor de uma retomada econômica mais verde pós pandemia, as conveniências domésticas acabam se sobrepujando. Mais avançada economicamente do que muitos países, a Europa não poderia dar esse mau exemplo. Principalmente porque muitos de seus membros criam empecilhos para o acordo comercial com o Mercosul apontando justamente o que seriam erros dos países sul-americanos, em especial o Brasil, no combate ao desmatamento na Amazônia. Depois do anúncio de que a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) abriu as portas, na semana passada, para seis países começarem o processo de acessão ao organismo multilateral, incluindo o Brasil, a França também engrossou a voz.

O governo de Emmanuel Macron sinalizou que apenas aceitará o País na instituição, que tem sede em Paris, se houver demonstrações claras de que lutará contra a corrupção e o desmatamento. Sem consenso, nenhum novo membro pode aderir ao grupo. Pau que bate em Chico, bate em Francisco. Ou deveria. Se ficar encontrando brechas para solucionar suas próprias questões, a União Europeia pode perder seu protagonismo nesse jogo. Pois é isso mesmo que vem tentando evitar que outras nações façam. Pior: decisões como esta podem descer a régua em uma questão vista de forma mais crescente como fundamental para os negócios e a sobrevivência da espécie. O foco tem que ser um só para todo o planeta. Não pode existir 50 tons de verde. Fonte: Célia Froufe. Broadcast Agro.